quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Os porquês da virgindade antes do casamento

Freqüentemente nós, cristãos, somos criticados por nossa postura em relação à prática sexual. Para nós, o sexo foi criado por Deus e é bom, contudo, não deve ser praticado antes e/ou fora do que conhecemos como casamento. Por casamento podemos entender: uma relação de amor ampla e perpétua entre um casal. Em teoria, pelo menos, é isso que um casamento deve ser; se na prática muitos casamentos não seguem essa definição, isso não é um assunto relevante para esse texto.

Ora, talvez quem mais sofra críticas desse tipo são os jovens. Conforme o tempo foi passando, grande parte da juventude passou a mergulhar mais cedo no mundo sexo e achar errada a concepção de que devemos esperar por um casamento para ter relações sexuais. Deste modo, os jovens cristãos foram empurrados contra a parede: se um jovem não adota a nova concepção de sexo é taxado de retrógrado, imbecil e retardado.

O problema, no entanto, se torna ainda mais incômodo quando percebemos que toda vez que um jovem cristão vai defender a sua concepção cristã de sexo, acaba tendo que apelar para a Bíblia. Não estou dizendo que isso é ruim. Creio plenamente que este livro magnífico é verdadeiro em cada uma de suas palavras. Mas a dificuldade está em utilizar a Bíblia como base para defender sua concepção quando a pessoa com quem o cristão debate não acredita nela. Neste caso, não há como prosseguir argumentando, a não ser que, ou (1) ambos aceitem discutir argumentos para a veracidade da Bíblia (o que exige algum conhecimento sobre apologética por parte do cristão), ou (2) o cristão passe a defender sua concepção se baseando em algo que a outra pessoa acredite e não mais na Bíblia.

Aqui está o drama da história: pouquíssimos cristãos conhecem ou tem interesse em apologética, o que os impede de defender a Bíblia com argumentos fortes. E também pouquíssimos cristãos têm a perspicácia de defender alguma concepção cristã utilizando apenas as bases em que os não-cristãos se apóiam. Assim, quando um cristão argumenta perante um não-cristão que é errado fazer sexo antes do casamento, a discussão não vai adiante e o cristão vira motivo de chacota.

O objetivo desse texto, portanto, é fazer uma defesa da concepção cristã de sexo, sem, contudo, utilizar a Bíblia como base para a argumentação. O leitor crê que isso seja possível? Bem, vamos ver se dá mesmo para cumprir esse objetivo.

A primeira coisa que devemos fazer para iniciar essa discussão é considerar os argumentos nos quais os não-cristãos se baseiam para afirmar que o sexo pode (e até mesmo deve) ser feito antes do casamento. Penso que os dois argumentos mais usados são os seguintes:
(1) Para se casar com uma pessoa é necessário saber se ela é “boa de cama”. Por isso, é importante que o casal transe algumas vezes antes de se casar. 
(2) Uma pessoa tende a ficar melhor na cama conforme tem mais experiências sexuais. Por isso, é bom que as pessoas transem bastante antes de se casarem para que no dia em que se casarem sejam bons parceiros sexuais.
Escolhi estes dois argumentos para a nossa análise porque, de fato, já os ouvi dos lábios de várias pessoas. E eles parecem ser as bases do pensamento liberal dos que não são cristãos. Vale ressaltar, ainda, que estes dois argumentos têm como objetivo defender o sexo antes do casamento sem, no entanto, desprezar o casamento. Tanto um quanto o outro argumento procuram entender o casamento como algo importante e se adaptar à concepção de relacionamentos sérios. Esse detalhe é importante que o leitor tenha em mente. Agora, vamos analisar o primeiro argumento.

Suponhamos que duas pessoas iniciem um namoro, descubram muitas afinidades entre si e desenvolvem uma relação amorosa saudável em diversos aspectos. Então, um dia esse casal resolve ter sua primeira relação sexual e, lamentavelmente, um deles dois (tanto faz se o homem ou a mulher) não apresenta um desempenho na cama (nada que tenha a ver com a saúde, mas com o sexo em si). Bem, baseado no primeiro argumento, o que deve acontecer? O namoro vai acabar. Afinal, se um dos dois é ruim na cama, não serve para casar. E se não serve para casar, também não serve para namorar. Aqui não importa o quanto o casal se amava, nem o quanto se dava bem, o sexo é determinante para acabar com o relacionamento.

Diante da frieza desse quadro, o liberal pode afirmar: “Mas se o casal se ama de verdade, eles podem ter mais experiências sexuais entre eles e assim melhorarem a cada dia. Isso, inclusive, é o que diz o segundo argumento: quanto mais experiências sexuais, melhor uma pessoa fica na cama”.

O problema aqui é que, sem perceber, o liberal acaba utilizando a mesma linha de raciocínio que os cristãos usam para defender a virgindade antes do casamento: a de que o casal irá melhorar o seu desempenho sexual dentro do casamento à medida que praticarem um com o outro. Em outras palavras, se o liberal quiser defender esta idéia de melhora do desempenho sexual com o parceiro que ele ama (só por causa do amor), ficará sem argumento contra a concepção de sexo apenas dentro casamento. Afinal, são os cristãos que, por amarem alguém, estão dispostos a se casarem virgens e terem paci-ência com seu cônjuge naquilo que for necessário.

O que podemos concluir aqui é que o primeiro argumento no qual se ancoram os liberais para defender o sexo antes do casamento se baseia no egoísmo. É por pensar apenas em seu próprio prazer que uma pessoa não deseja um parceiro que necessite de algum tempinho para melhorar seu desempenho. Este argumento coloca o desempenho sexual em um patamar tão alto que é capaz de ignorar o amor entre um homem e uma mulher caso as expectativas sexuais não sejam alcançadas na primeira noite. Sim, na primeira noite, porque se o liberal quiser tentar outras vezes (porque ama a pessoa e crê na melhora do desempenho sexual dela), estará concordando com uma base importante do pensamento cristão sobre a virgindade antes do casamento.

Agora, vamos analisar o segundo argumento dos liberais. Conforme vimos, ele sustenta que as pessoas devem ter experiências sexuais antes de se casarem para serem bons parceiros sexuais quando estiverem casadas. O primeiro ponto que deve ser visto aqui é que, mais uma vez a base desse argumento é o egoísmo. As pessoas não querem ter o mínimo de paciência com seus parceiros, então preferem que toda a experiência em relações sexuais de seu cônjuge tenha sido conquistada com outras pessoas. Isso só reforça o quadro feio que pintei há pouco: não importa se um casal se ama, se a relação sexual não for boa na primeira noite, o relacionamento deve acabar. Então, a pessoa que foi chutada terá que arrumar vários parceiros sexuais diferentes até que fique experiente e possa, quem sabe, retornar para a pessoa que amava. Aqui o egoísmo suplanta o amor, a paciência e o respeito; e as pessoas se tornam objetos.

O segundo ponto que podemos ressaltar nesse argumento é que ele não leva em consideração o casamento entre duas pessoas virgens. Mas perceba que se o problema do desempenho sexual das pessoas está relacionado à falta de experiências sexuais (que é o que este argumento afirma), a solução está justamente na virgindade do homem e da mulher até o casamento; afinal, se nenhum dos dois tem experiência em sexo, nenhum deles será superior ao outro. Em outras palavras, a concepção de virgindade antes do casamento, quando bem compreendida, leva os casais a se concentrarem mais no amor que sentem um pelo outro, a se casarem virgens e a ganharem experiência em sexo um com o outro, sem que haja superioridade por parte de algum deles durante o processo.

Portanto, vemos que esse argumento, tal como o primeiro, se baseia no egoísmo, milita contra o amor, a paciência e o respeito, transforma as pessoas em objeto, o sexo em moeda de troca, e ainda cria uma “desigualdade sexual” entre as pessoas que não seria comum na sociedade se incentivássemos mais a virgindade do homem e da mulher antes do casamento.

Perceba que até aqui eu não utilizei a Bíblia em nenhum momento. Eu apenas peguei dois argumentos comumente utilizados pelos liberais na defesa do sexo antes do casamento e mostrei como que eles estão intimamente ligados ao egoísmo e a atitudes imorais; além de não lograrem muito êxito contra concepção cristã de sexo. Vimos, sem o uso da Bíblia, que a virgindade antes do casamento está ligada ao amor, ao respeito, a valorização do indivíduo e da própria prática sexual; e não à existência de dogmas sem sentido.

Não obstante, nossas análises não devem parar por aqui. Ainda existem alguns pontos importantes que precisam ser abordados. O primeiro ponto com o qual gostaria de trabalhar diz respeito ao desempenho sexual. Como já dito anteriormente, não estou me referindo à saúde do indivíduo, mas sim à qualidade da prática sexual em si. Para os liberais, existe o “sexo bom” e o “sexo ruim” e por isso é importante “testar” antes de casar. A minha pergunta é muito simples: O que faz o sexo ser bom ou ruim? Aqui está o grande problema do liberal. Na busca desesperada por validar a prática sexual antes do casamento, ele cria um padrão de qualidade que não existe. Vamos analisar.

Em primeiro lugar, não há diferenças básicas na relação sexual das diferentes pessoas. Sexo é a penetração do órgão sexual masculino no órgão sexual feminino. Isso é básico; e não é necessário ter alguma virtude extraordinária para desempenhar essa função. Então, já não é aqui que reside uma diferença básica entre o sexo bom e o sexo ruim. Será mesmo que essa diferença existe?

Em segundo lugar, e este é um ponto essencial, tudo o que não é básico no sexo diz respeito apenas ao casal. A qualidade de uma relação sexual não depende de um padrão pré-estabelecido pela sociedade. Essa qualidade vai depender do modo como cada casal prefere sua relação. Aspectos como: se o sexo será rápido ou devagar, intenso ou tranqüilo, carinhoso ou bruto, profundo ou superficial, romântico ou seco; se haverá preliminares ou não, se será no escuro ou no claro, se haverá fantasias, se será na cama ou no sofá, se existirá mais contato entre os corpos, se haverá falas, se haverá beijos, cafuné, carinho, massagem, brincadeiras... Enfim, tudo isso é secundário e diz respeito unicamente ao casal. E o casal só descobre qual a preferência um do outro (e chegam a acordos) através de diálogo e das próprias experiências sexuais.

O que quero dizer com estes pontos é que não passa de um mito a idéia de que existe sexo bom e sexo ruim. O básico do sexo é sempre o mesmo. O que muda são seus aspectos secundários, aspectos esses que são definidos pelo casal. Cada casal fará aquilo que acha mais prazeroso; e isso só se descobre através de um relacionamento profundo, direto, amplo e com muito diálogo. É isso o que define se o sexo será bom ou ruim e não um padrão pré-estabelecido por liberais apenas para jogar fora as pessoas que não fazem sexo da maneira como eles preferem.

Neste ponto, o liberal tem duas opções de argumentação: ou ele tenta fazer sua concepção se tornar menos egoísta ou ele tenta justificar esse egoísmo. Vamos analisar os argumentos da primeira opção. Como exemplo, eu posso citar o pensamento de uma conhecida minha. Segundo a sua concepção, o sexo não deve ser visto como algo tão “sagrado”, mas como algo mais acessível: as pessoas se conhecem, se beijam, namoram e fazem sexo. Se não der certo, não deu, mas o sexo faz parte. Não se trata de tentar usar a pessoa. Esse é o pensamento do liberal que quer fugir do egoísmo.

A primeira dificuldade desse pensamento é que ele tenta rebaixar a intimidade da relação sexual ao ponto de compará-la a beijos e abraços. Ora, está claro que isso não condiz com a realidade. O sexo é o que há de mais intimo entre um casal. É ali que se revela tudo o que escondemos do resto do mundo. É ali que dois corpos se tocam com tanta profundidade que se tornam um só corpo. Dizer que isso é quase como um beijo é uma comparação totalmente desproporcional.

Aqui está o ponto-chave. Os liberais querem tornar mais acessível o sexo, que é tão íntimo, mas não tem capacidade de desenvolverem uma intimidade completa; aquela intimidade que não leva só em conta o corpo de seu parceiro, mas todo o ser do seu parceiro. O liberal quer ser íntimo fisicamente, mas tem medo de se envolver com a mesma intensidade com uma pessoa no âmbito não-físico. O liberal ostenta um orgulho enorme por não ter vergonha de ter intimidade sexual, mas não percebe o quão medroso e egoísta é por não querer o mesmo nível de intimidade no âmbito não-físico.

O que nos diferencia dos animais é justamente essa capacidade de não agirmos só por instinto; de sermos morais e sensíveis; de necessitarmos do amor verdadeiro, que vai muito além do simples contato físico. Independentemente de religião não devemos ver o sexo como os animais o vêem. O sexo humano é o selo do amor entre um homem e uma mulher. Não fazemos sexo apenas para procriar ou para sentir prazer, mas porque amamos o nosso parceiro. 

Podemos provar o quão íntimo é sexo nos lembrando de alguns poucos fatos tais como o de que não transamos com qualquer pessoa, a qualquer momento e em qualquer lugar; o de que estupros e pedofilia são crimes; o de que os casais não transam na frente dos filhos, dos pais ou de seus conhecidos; o de que as crianças não são incentivadas a manterem relações sexuais; o de que é menos traumático uma moça ser assaltada do que ser estuprada. Sim, o sexo é uma relação física íntima demais entre duas pessoas; e por isso requer o mesmo nível de intimidade não-física. É isso que faz do sexo uma relação tão sagrada. Se alguém não concorda com esses fatos, está discordando, antes de tudo, da própria moral; moral esta que até quem não tem religião gosta de sustentar.

A pessoa que escolhe perder a virgindade apenas no casamento está dizendo o seguinte para o mundo: “Eu não tenho medo de ter intimidade total com a pessoa que eu amo”. A intimidade dessa pessoa para com o seu parceiro será muito maior do que a intimidade sexual de qualquer viciado em sexo que exista. Será muito maior, muito mais ampla, muito mais verdadeira, muito mais forte, muito mais duradoura, muito mais amorosa e, sobretudo, muito mais corajosa. Ora, quanto amor e coragem uma pessoa não precisaria para resolver ter uma intimidade completa com seu parceiro? Trata-se de algo definitivamente íntimo... Mas completo.

Nós, humanos, não somos feitos apenas de corpos. Somos feitos de sentimentos, pensamentos, emoções, percepções, necessidades psicológicas; de amor, de carinho, de afeto, de moral. Assim, cada estágio de nossos relacionamentos deve conciliar a intimi-dade física com esses aspectos não-físicos. O erro de minha conhecida é tentar inverter todo o processo que existe em um relacionamento amoroso e forçar-nos a acreditar que isso é perfeitamente normal. A ordem mais correta é que duas pessoas se conheçam, descubram afinidades e empatia entre si, namorem, noivem, casem e selem o casamento com o relacionamento sexual. O que diríamos, pois, se alguém namorasse uma pessoa que não conhece, ou se casasse após namorar por um mês? O que diríamos se um amigo agisse como namorado ou se um namorado agisse apenas como amigo? É certo que as ordens estão trocadas e, queira ou não, isso não costuma trazer bons resultados.

É por esse motivo que não me admira o fato de essa minha conhecida ter quase 50 anos e não ser casada. Tal como também não me admira o fato de ela já ter se casado três vezes e em não ter tido sorte em nenhum dos três relacionamentos. É provável que o principal motivo dessa infelicidade tenha sido a falta de uma intimidade completa em cada um desses casamentos. Aqui vale se lembrar da paciência e do respeito, que, em geral, são diminuídos pela importância que se dá ao “aproveitamento sexual”. 

Portanto, parece plausível afirmar que se alguém quer ter intimidade física com seu parceiro, deve investir primeiramente em conhecer bem seus aspectos não-físicos. E esse é o pressuposto máximo da concepção de virgindade. Conheça seu parceiro, ame-o de verdade e então se comprometa a ter uma intimidade total no casamento.

Bem, se o liberal não consegue tornar menos egoísta a sua concepção, mas ao contrário, torna-a mais egoísta, covarde e problemática, então a opção que resta para ele é a de tentar justificar seu egoísmo. Justificar significa “tornar justo”. Ou seja, o liberal vai tentar aqui mostrar que alguma coisa faz com que o sexo antes do casamento não seja algo errado. É neste ponto que vamos conhecer outro tipo de liberal. Este não está mais interessado em defender sua concepção sem desvalorizar o casamento. Para ele, o casamento não é algo muito importante. Ele não sabe se vai se casar um dia ou não. Ele apenas está interessado em se divertir.

Mas antes que alguém afirme que esse é um pensamento extremamente egoísta, este tipo de liberal irá justificar sua concepção da seguinte forma:
(1) Se faço sexo com uma pessoa que, assim como eu, está atrás apenas de um divertimento (que pode ou não se tornar sério), então ambos estamos consentindo nessa relação. Assim, trata-se de uma relação honesta, consciente e concedida. 
(2) Se meu divertimento não ocorre à custa da felicidade dos outros, não há nada de errado no que faço.
Esses são os dois motivos que esse tipo liberal usa para tentar justificar o seu comportamento egoísta. De fato, parecem motivos coerentes. Porém vamos analisá-los com mais profundidade. Tanto no primeiro como no segundo argumento, o que o liberal faz é recorrer há um efeito psicológico. Note: O meu ato deixa de ser um erro se (1) a pessoa com quem pratiquei quis e (2) se eu não entristeci ninguém. Tudo bem, concordo que no que diz respeito à consciência é possível, com esse pensamento, não se sentir mal após um erro. Mas no que diz respeito à moral, se você se sente bem ou não com o erro não faz de seu erro um acerto. Moralmente falando um erro é sempre um erro.

Alguns exemplos interessantes podem ser dados para clarear o tema. O primeiro vem da série de televisão House M.D. Em certo episódio, o doutor House cuida de um paciente que tem agido com uma bondade extrema. Sua bondade fora do normal leva o doutor a postular que ela se deve a um problema de saúde que gera esse tipo de com-portamento. No entanto, House se vê numa “encruzilhada ética”, já que o paciente havia lhe prometido um milhão de dólares para restabelecer sua antiga equipe no hospital. Ora, se o paciente estava mesmo sendo bom por sintoma de uma doença, seria antiético que o doutor aceitasse o dinheiro.

Tentando justificar o seu possível futuro erro, House vai até a sala de seu amigo Wilson e lança uma analogia. Ele pede a Wilson imagine que uma viciada em sexo lhe propusesse sexo oral. Deveria ele aceitar? Uma recusa traria infelicidade para ambos, ao passo que a aceitação traria prazer para os dois.

Já sabendo onde House queria chegar, o doutor Wilson responde que ele não deveria aceitar a proposta da viciada em sexo, assim como não deveria dar álcool a uma pessoa alcoólatra, e assim como não deveria aceitar o dinheiro daquele homem. O que Wilson nos mostra aqui é que o que está em jogo em discussões morais e éticas não é o modo como nos sentimos ou como se sente a outra pessoa, mas se a atitude está certa ou errada.

O segundo exemplo pode ser tirado de nossas vidas reais. Muitas coisas que nós fazemos podem causar sentimentos ruins, mas serem boas, ou causarem sensações boas, mas serem ruins. Quando brigo com um filho por alguma desobediência, isso causa um sentimento ruim tanto nele quanto em mim, porém trata-se de uma atitude necessária e moralmente boa. Se meu filho fica doente e eu resolvo não levá-lo no médico só porque tanto eu quanto ele não sentimos prazer em injeções, isso será uma atitude moralmente ruim, ainda que nos sintamos bem com isso. Aqui a bronca e a injeção são boas, mesmo causando sensações ruins. Em contraponto, álcool e drogas podem até causar sensações prazerosas, mas são coisas ruins.

O que estou querendo dizer é que, se de fato o sexo antes do casamento é algo egoísta, covarde e incompleto, que muitas vezes coloca as pessoas como objetos e que pouco valoriza o amor, a paciência e o respeito, então ele é moralmente errado. E se ele é moralmente errado, não importa se dois liberais se sentem felizes quando o fazem e se ambos consentem; continua sendo errado.

Alguém aqui pode contestar dizendo: “Ah, mas você está se baseando em uma moral bíblica”. Isso não é verdade. Não existe moral bíblica. A moral é uma só e existe antes da Bíblia. Não é necessário acreditar na Bíblia para que alguém acredite que existe moral. Penso que a grande maioria das pessoas que não são cristãs considera a mentira, a hipocrisia, a traição, a desonestidade, o egoísmo, a covardia, o desrespeito, a falta de amor, a impaciência, a incompreensão e a indiferença como sendo atitudes erradas. Ora, isso é julgamento de âmbito moral e ético. Se alguém faz esse tipo de julgamento, não precisa ser cristão, tem que concordar que os relacionamentos humanos devem evitar se basearem nessas atitudes. Tratar uma pessoa como se fosse um objeto, ainda que esta pessoa consinta com isso, não é uma atitude correta. Pessoas são pessoas e não coisas.

Então, chegamos a um ponto em que o liberal não tem mais para onde correr. Ou ele aceita que sua concepção está errada e muda de postura ou ele aceita que está errado, mas continua errando, sem importar. Porém, argumentos para defender o sexo antes do casamento, neste ponto, não existem mais.

Agora, o leitor perceba que até aqui eu defendi a concepção de virgindade antes do casamento apenas atacando os argumentos dos liberais. Então, é possível que o leitor queira que eu sintetize os argumentos da virgindade em si. Sendo assim, vou sintetizar a partir de agora tudo o que disse até aqui. Por que devemos esperar pelo casamento para ter relações sexuais? 
(1) Porque em um relacionamento amoroso deve-se prezar em primeiro lugar virtudes como o amor de uma pessoa, a paciência e o respeito. Neste aspecto, o sexo passa a ser secundário; não secundário no sentido de não ser importante, mas no sentido de só ter importância quando estas virtudes já estão bem desenvolvidas;
(2) porque a relação sexual é extremamente íntima e não pode ser comparada a meros beijos e abraços. Por ser a máxima intimidade física entre duas pessoas, ela deve estar acompanhada da máxima intimidade não-física;
(3) porque a concepção de virgindade antes do casamento ajuda o casal a focar mais no amor, na paciência e no respeito, elementos essenciais para que se consiga um bom casamento;
(4) porque quem tem amor, paciência e respeito, não terá problema algum para aprender ou para ensinar o que sabe em matéria de sexo para o seu companheiro;
(5) porque quando duas pessoas se casam virgem, não há no casamento nenhuma superioridade sexual por parte dos cônjuges;
(6) porque na realidade não existe sexo bom e sexo ruim. O sexo é sempre a mesma coisa, o que muda são aqueles aspectos secundários, que serão feitos conforme a vontade de cada casal;
(7) porque não importa se alguém consente em ser tratado como objeto: isso continua sendo moralmente errado e contrário aos próprios julgamentos que a maioria dos não-cristãos faz.
Ora, chegando ao fim desse texto, devo dizer que cumpri com a minha missão de não me basear na Bíblia para defender a concepção cristã de sexo. O leitor pode reler o texto inteiro e, se for honesto, verá que tudo o que foi discutido aqui teve como base os próprios julgamentos que os não-cristãos fazem; julgamentos morais. Abra mão de sua moral e você poderá dizer que está certo, mas se quiser ser moral, não há como escapar da conclusão: a concepção cristã está correta.

O resultado prático da concepção cristã de sexo é que as pessoas passam a ter mais importância. Os relacionamentos passam a ser mais sérios e o próprio sexo não se torna algo banal, mas uma prática sagrada que sela o amor verdadeiro que um homem e uma mulher sentem um pelo outro. Este é o sexo que vem acompanhado com o amor e que não se baseia apenas no prazer próprio. Este é o sexo onde um pensa no prazer do outro também. Este é o sexo que pode ser comentado, analisado e conversado entre o casal, sem vergonha alguma, sem embaraço, para que se torne cada vez melhor. Este é o verdadeiro sexo humano, moral e amoroso e, por isso, da vontade de Deus.

4 comentários:

  1. Foi você Davi Caldas que escreveu tudo isso?

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  2. Afetividades, como afagos, amplexos, cócegas, euquímanos e ósculos podem ser assédios, hipocrisias, como as de Revelhom (Revelhão), por exemplo, molestamentos ou traições como as iscarióticas (iscariotísticas), por exemplo. Nunca saudemos, exordialmente com afetividades, desconhecidos, exordialmente criminosos ou drogados. Afetividades sem amores são aquelas quatro palavras citadas na primeira frase e amores sem justiças são conivências ou impunidades. Amores demais são idolatrias, carinhos demais são mimos, disciplinas ou ordens demais são tiranias, eticidades ou moralidades demais são eticismos ou moralismos, harmonias demais são super-harmonias, legalidades demais são legalismos, santidades demais são santimônias e assim sucessivamente, pois todas as boas obras tem limites. Então, não somente combatemos todos os males, mas também todas as suas aparências, como saudar os sexos opostos com afetividades, até mesmo com boas-madrugadas, boas-manhãs, boas-tardes e boas-noites, fazer amizades com eles e outras. Contudo nunca saudemos alguém com afetividades satânicas, como mãos chifradas e outras.

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