domingo, 16 de setembro de 2012

Refutando alguns argumentos anti-sabatistas - Parte 1

Ontem eu recebi um comentário de um rapaz com quem estou debatendo na postagem: “Um pouquinho sobre os adventistas do sétimo dia”. Em seu comentário, ele me foi muito caridoso ao me enviar um link de um site de apologética católica (clique aqui se quiser ver), falando sobre a questão da mudança do sábado para o domingo; caso eu me interessasse em estudar mais o assunto. Como me interesso, fiquei muito feliz com o link.


Na verdade, eu já li por alto esse artigo alguma vez há muito tempo e, embora a maior parte dos argumentos utilizados ali já tenham sido refutados por mim em alguns textos que não publiquei no blog, nunca fiz uma refutação sistemática desse artigo em si. Felizmente, vou poder fazer agora. Como tal artigo é um festival incrível de más interpretações e coisas sem sentido, terei que dividir a postagem em duas partes. Na primeira, apontarei 5 erros e na segunda, mais 8. No total são 13. Vamos lá?



- Primeiro erro: Desordem Cronológica
Todos sabem que no AT, o Senhor instituiu o Sábado como o Seu dia de adoração. Mas resta a pergunta: por que? Para entendermos o motivo deste mandamento divino, devemos responder às seguintes perguntas: 1) Por que Deus instituiu um dia para o Seu culto? 2) Por que o Sábado (Shabath) foi escolhido para ser este dia? 
A resposta para a primeira pergunta encontramos no livro do Deuteronômio, onde lemos: 'Lembra-te de que foste escravo no Egito, de onde a mão forte e o braço poderoso do teu Senhor te tirou. É por isso que o Senhor, teu Deus, te ordenou observasses o dia do sábado' (Dt 5,15).
A resposta para a primeira pergunta (por que o Senhor instituiu o Sábado como o seu dia de adoração?) está, em primeiro lugar, em Gênesis 2:1-3, em Êxodo 16:22-30 e em Êxodo 20:8-11. Vamos ler cada uma delas e eu vou comentar uma por uma.
Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército. E, havendo Deus terminado no sétimo dia a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que, como criador, fizera (Gênesis 2:1-3).
Esta é a primeira citação que a Bíblia faz à santidade do sétimo dia da semana, chamado sábado. Quero que o irmão note duas coisas. A primeira: Deus tornou esse dia abençoado e santo por ter descansado da obra que fizera como criador. Notou a ênfase na palavra “Criador”? Isso é importante. Em toda a Bíblia Sagrada, o Deus verdadeiro é identificado como sendo o Criador (vamos observar isso mais à frente). E vemos aqui que o sábado enfatiza essa verdade.



A segunda: O sábado foi abençoado e santificado antes mesmo da queda do ser humano. Não havia pecado, nem povo hebreu, nem Israel, nem 12 tribos, nem Abraão, nem judaísmo, nem Moisés, nem os 10 mandamentos escritos em tábuas de pedra. Mas já ali, o sábado era abençoado e santificado por Deus como sendo um dia de descanso e um memorial da criação e do Criador do mundo.



Então, qual era o motivo da instituição do sábado? Relembrar que Deus era o criador da terra. E quem deveria guardar esse dia? Os judeus? Não. Não havia judeus, nem hebreus, nem Abraão, nem 12 tribos. Todos deveriam guardar. Agora, vamos ler a segunda passagem.
Ao sexto dia, colheram pão em dobro, dois gômeres para cada um; e os principais da congregação vieram e contaram-no a Moisés. Respondeu-lhes ele: Isto é o que disse o Senhor: Amanhã é repouso, o santo sábado do Senhor; o que quiserdes cozer no forno, cozei-o, e o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobrar separai, guardando para a manhã seguinte. E guardaram-no até pela manhã, como Moisés ordenara; e não cheirou mal, nem deu bichos. Então, disse Moisés: Comei-o hoje, porquanto o sábado é do Senhor; hoje, não o achareis no campo. Seis dias colhereis, mas o sétimo dia é o sábado; nele, não haverá.
Ao sétimo dia, saíram alguns do povo para o colher, porém não o acharam. Então, disse o Senhor a Moisés: Até quando recusareis guardar meus mandamentos e minhas leis? Considerai que o Senhor vos deu o sábado; por isso, ele, no sexto dia, vos dá pão para dois dias; cada um fique onde está, ninguém saia do seu lugar [para pegar pão] no sétimo dia. Assim descansou o povo no sétimo dia (Êxodo 16:22-30).
Esta passagem é interessante porque fala que a guarda do sábado já era uma lei e um mandamento de Deus antes mesmo de Deus escrever os dez mandamentos nas duas tábuas de pedra e entregá-los ao povo, por meio de Moisés (os dez mandamentos só são dados no capítulo 20 de Êxodo). Isso significa que, desde o início do mundo, o sábado era guardado pelos servos de Deus. Obviamente, essa guarda deve ter sido atrapalhada quando o povo hebreu foi escravizado no Egito. Afinal, se nem mesmo trabalhadores assalariados da Inglaterra, no século XVII tinham dia de folga, você acha que escravos que viveram 1500 anos de Cristo teriam? Porém, agora, libertos, o mandamento poderia ser cumprido em sua plenitude novamente. Vamos ler a outra passagem.
Lembra-te do dia de sábado para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a sua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou (Êxodo 20:8-11).
Aqui Deus resolve escrever o mandamento do sábado juntamente com outros mandamentos nas tábuas de pedra. E escreve com o próprio dedo, para mostrar que é importante. Note que, todos esses mandamentos já existiam há tempos. Sempre foi lei para os que seguem a Deus, adorar um somente Ele, não adorar imagens, não utilizar seu nome de forma desrespeitosa, honrar pai e mãe, não matar, não adulterar, não furtar, não mentir sobre seu próximo e não cobiçar. Da mesma forma, sempre foi lei guardar o sábado. E por quê? Porque Deus o santificou para que descansássemos e lembrássemos que Ele é o Criador. Por enquanto, tudo bíblico. Agora, vamos analisar a passagem de Deuteronômio citada pelo artigo.
Guarda o dia de sábado para o santificar, como te ordenou o Senhor, teu Deus. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu, nem o estrangeiro das tuas portas para dentro, para que o teu servo e a tua serva descansem como tu; porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o Senhor, teu Deus, te tirou dali com mão poderosa e braço estendido; pelo que o Senhor, teu Deus, te ordenou que guardasse o dia do sábado (Deuteronômio 5:12-15).
É uma repetição do mandamento do sábado. Nesta ocasião, Deus deu a Moisés as segundas tábuas dos dez mandamentos, visto que as primeiras foram quebradas por Moisés (em um momento de ira contra o povo). Há duas coisas que são interessantes nesse texto. A primeira: Deus dita os mesmos 10 mandamentos de novo, mostrando que sua lei moral é imutável. 



A segunda: Deus relembra que durante o tempo de escravidão no Egito, o povo não pôde guardar o sábado como deveria, mas que agora, pelo Senhor ter livrado o seu povo, eles não tinham porque não guardar o seu mandamento. Por isso ele diz: “porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o Senhor, teu Deus, te tirou dali com mão poderosa e braço estendido; pelo que o Senhor, teu Deus, te ordenou que guardasse o dia do sábado”. Não dava mais para dizer: “Ah, Senhor, não dá para guardar o sábado, porque nós somos escravos no Egito”. Deus os livrou. Por isso, eles deveriam guardar o sábado.



O erro de interpretação do articulista constitui em: trocar a ordem dos textos bíblicos que falam sobre o sábado, citando primeiro o texto de Deuteronômio como se esse evento tivesse ocorrido primeiro. Desta maneira, em vez do texto de Deuteronômio depender dos textos anteriores (que é o certo, cronologicamente), os textos anteriores passam a depender do texto de Deuteronômio. É como se eu dissesse que a minha mãe existe (tem vida) porque eu existo, quando, na verdade, sou eu que existo (tenho vida) por causa dela. Erro grave, hein...



- Segundo erro: Ignorância sobre interpretação bíblica e argumentos sabatistas
Eles [os sabatistas] argumentam que o Sábado é perpétuo. Se isto fosse verdade, significaria que toda Lei Levítica (circuncisão, páscoa, incenso, sacerdócio, etc) também seria perpétua. Por exemplo, em Ex.12:14 está declarado que a páscoa terá de ser observada 'por suas gerações' e 'para sempre', exatamente como é dito sobre o Sábado. A oferta de incenso também é dita como perpétua (Ex.29:42). Lavagem de mãos e pés também (Ex.30:21).
Não, por favor, não! Quem escreveu este artigo não deve entender nada sobre interpretação bíblica e nem sabe nada sobre argumentos sabatistas. Em primeiro lugar, no hebraico e no grego (as línguas originais do Antigo e Novo Testamento, respectivamente,) expressões como “por gerações”, “para sempre”, perpetuamente”, “eternamente”, “pelos séculos dos séculos”, “inextinguível” e etc., podem significar “um tempo sem fim” ou ser relativo ao tempo máximo de duração de alguma coisa finita. Para saber em qual sentido está sendo usada a expressão, portanto, deve-se saber se o caráter da palavra ao lado da expressão é finito ou infinito.



Por exemplo, há um texto no Antigo Testamento que diz que um escravo poderia ser escravo para sempre. Ora, é claro que esse “para sempre” se refere só ao tempo de vida que ele durará. No Novo Testamento, João Batista compara os ímpios à palha queimando no fogo inextinguível. Isso não quer dizer que a palha queima para sempre. Pelo contrário, fogo na palha até queima muito rápido. O que a expressão quer dizer é que queimará interruptamente até acabar, sem que ninguém impeça de queimar. Quando não tiver mais nada para queimar, nada mais irá queimar. Isso é lógico.



Mas não precisamos ir tão longe. Usamos expressões desse tipo no português. Por exemplo, quando eu digo: “Ela sempre foi legal comigo”, estou limitando a palavra “sempre” ao espaço de tempo que ela foi legal. A palavra “sempre” aqui não quer dizer “tempo sem fim”. No entanto, eu posso usar sempre para descrever algo que não terá fim jamais, desde que realmente seja algo infinito. Se eu digo: “Deus viverá para sempre”, estou falando de não ter fim mesmo.



É aqui que está o grande lance: Sabemos, através das cartas de Paulo, e do livro de Hebreus que rituais judaicos tinham a função apenas de prefigurar o sacrifício de Jesus ou de servir de símbolo para a Nova Aliança e que, por isso, foram abolidos. Mas será que há algo falando sobre o sétimo dia da semana como um ritual que foi abolido ou trocado pelo domingo? Não, não há. Assim, dizer que o sábado é perpétuo é, de fato, dizer que ele seria o dia de ser guardado sempre.



O erro do articulista é o mesmo de todos os não-sabatistas: argumenta-se que o domingo substituiu o sábado porque Jesus ressuscitou nele. Mas não há ligação lógica entre as premissas desse argumento. Quer ver? Vamos formalizar o argumento:
(1) Deus mandou guardarmos o sábado;
(2) Jesus ressuscitou no domingo;
(3) Logo, devemos guardar o domingo em lugar do sábado.
Não faz sentido! Faria sentido se o argumento fosse assim:
(1) Deus mandou guardarmos o sábado; 
(2) Jesus ressuscitou no primeiro dia da semana e falou: “Agora, porque eu ressuscitei no domingo, guardem o domingo em lugar do sábado”;
(3) Logo, devemos guardar o domingo em lugar do sábado.
Não há, absolutamente, nenhuma autorização por parte de Jesus a se guardar o domingo em lugar do sábado. Especular que porque ele ressuscitou no primeiro dia da semana devemos guardar esse dia não passa de uma ligação forçada entre dois assuntos que não tem absolutamente nada a ver (o que nos faz pensar que a ressurreição de Jesus no domingo tem a ver com o descanso sabático?). É diferente de quando é deixado bem claro e explícito nas epístolas de Gálatas, Colossenses e Hebreus que, festas religiosas, sábados cerimoniais, circuncisão, sacrifícios de animais e o serviço dos sumo-sacerdotes no santuário não valem mais nada. Mas os maiores argumentos para a guarda do sábado são os seguintes:



(1) O sábado, sétimo dia da semana, não é um mandamento cerimonial. Ele foi dado por Deus antes mesmo do ser humano cair em pecado (ao contrário dos mandamentos ritualísticos) mostrando que era de caráter moral;



(2) O sábado, sétimo dia da semana, não foi um mandamento dado apenas para os judeus, pois quando ele foi dado não havia nem judeus, nem hebreus, nem Abraão (e assim foi durante séculos até Deus formar a nação Israelita). E mesmo quando Deus formou Israel, o mandamento do sábado era requerido dos estrangeiros que queriam aceitar o Senhor (conforme podemos ler em Isaías 56:6-8); 



(3) O sábado, sétimo dia da semana, foi colocado entre os 10 mandamentos, que são mandamentos morais escritos pelo próprio dedo de Deus. Sabemos que os 10 mandamentos não foram abolidos por Deus, pois são morais, isto é, de caráter imutável. Prova disso são as citações de trechos dos 10 mandamentos durante todo o Novo Testamento;



(4) Jesus afirma que não veio abolir a Lei e os Profetas, mas cumprir; e que a lei continuaria a mesma até que o céu e a terra passem (Mateus 5:17-20). Claro que alguém pode argumentar que Jesus Cristo aboliu sim algumas leis, como os rituais judaicos e as leis de caráter civil dos israelitas. Mas o que houve nesses casos não foi um “descumprimento da lei”. Ao contrário essas leis sempre tiveram um prazo de validade (pois só faziam sentido enquanto Jesus não tinha cumprido seu ministério). Assim, o seu “descumprimento” após o sacrifício de Cristo, na verdade, era o cumprimento do objetivo que elas sempre tiveram. Agora, leis morais continuam fazendo sentido mesmo após o sacrifício de Jesus, de modo que o seu “descumprimento” é um desvio de seus objetivos e, logo, transgressão da Lei (o que, o apóstolo João classifica como sendo pecado em I João 3:4-6);



(5) O sábado é (e sempre foi) um memorial de que Deus é o Criador. E é um memorial instituído pelo próprio Deus. Quando esse memorial é trocado pelo domingo, é como se estivéssemos dizendo que o Deus Criador e Jesus não são o mesmo Deus. Ora, mas eles são. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são três pessoas que formam o mesmo e único Deus. Então, Jesus também é o Criador. Por isso João afirma: “No princípio era o verbo...”. Então, esse memorial não pode ser substituído. Alguém pode perguntar: “Mas e a ressurreição? Ela não tem que ter um memorial?”. Sim. E tem. É o batismo. Ele simboliza a morte e a ressurreição do nosso “eu” pecador, o que só pode ser feito em função da morte e ressurreição de Jesus. Da mesma forma, a santa ceia nos lembra a morte de Jesus e fato de que Ele vai voltar (pois ele diz: Fazei isso até que eu volte). Se ele vai voltar, é porque está vivo, o que nos lembra que ele ressuscitou;



(6) Jesus jamais falou que o sábado seria abolido e que o domingo o substituiria. Nem mesmo seus discípulos. Simplesmente resolver fazer essa transferência sem essa autorização é dar mais valor às ideias humanas do que os mandamentos de Deus. E Deus condena isso veemente mesmo, por exemplo, em Apocalipse tal, e tal;



(7) Por fim, o sábado tem um caráter prático. Não faz sentido aboli-lo, pois, embora devamos buscar a Deus e nos lembrarmos dele todos os dias, precisamos de um dia específico para fazer isso, sem precisar nos preocupar com trabalho, estudos, afazeres domésticos (a não ser os inevitáveis, claro) u qualquer coisa que dê para fazer outro dia.



- Terceiro Erro: Confusão entre tipos de leis diferentes
O pacto da Antiga Aliança seria substituído por um Novo, onde o primeiro foi apenas uma figura do segundo que é Eterno (cf. Hb 9 ). Neste Novo pacto, o Senhor instituiria um novo dia para Sua Adoração, pois em um novo dia Ele iria salvar o seu Povo para sempre (...).
O que o articulista disse aqui está certo: o pacto da Antiga Aliança com os judeus seria substituído por um Novo, pois o primeiro era figura do segundo. Até aí, tudo bíblico e lógico. O problema é que o articulista quer nos forçar a acreditar que o sábado (que é uma lei de caráter moral) está incluído nas leis de caráter ritualísticos que prefiguravam Jesus e a Nova Aliança. E não é assim. Os dez mandamentos não foram dados para simbolizar nada. Por mais que possamos comparar Jesus ao sábado, pois Jesus, de fato, é um descanso para nós, isso não quer dizer que o sábado foi dado com o intuito de simbolizar Jesus e depois ser abolido. 



O objetivo dos 10 mandamentos sempre foi servir de base para uma boa conduta. Através deles sabemos o que devemos ou não fazer. Claro que, sozinhos, não temos condições de guardá-los com perfeição. E é claro que eles não nos servem para perdoar pecados, salvar da morte e nos purificar. É Jesus quem nos perdoa e salva. É o Espírito Santo que nos purifica e ajuda a fazer o certo. É o Pai que nos ajuda quando oramos, pedindo força a Jesus. Mas os 10 mandamentos são a norma. 



O homem, sozinho, nada pode. Mas isso não anula a validade da lei moral. Só reforça que ele precisa de Deus para cumprir a lei, pois sua natureza é má. Paulo deixa isso claro como a água em Romanos 7. Ele diz:
Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo, justo e bom. Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum! Pelo contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa, causou-me a morte, a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira maligno. Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido a escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa (Romanos 7:12-16).
O articulista pretende misturar as coisas e fazer do sábado um mandamento cerimonial, mas o sábado é de caráter moral e a lei moral vale para todos os contextos históricos.



- Quarto erro: Má interpretação do trecho de Hebreus
A própria carta aos Hebreus acentua a índole figurativa do sábado, afirmando que o repouso do sétimo dia era apenas uma imagem do verdadeiro repouso que fluiremos na presença de Deus (cf. Hb 4,3-11). Onde no Sábado estava a figura (o prenúncio), no Domingo está a concretização. O Domingo é o Sábado eterno.
Esse mesmo texto é utilizado por sabatistas para dizer que o sábado ainda estava valendo e, por isso, o autor da epístola fez essa comparação. Eu, particularmente, não concordo nem com a interpretação desses sabatistas e nem com a interpretação feita pelo articulista. A verdade pura e simples é que esse texto de Hebreus não diz nada sobre se o sábado ainda era válido ou não. O autor simplesmente faz uma comparação entre três descansos: (1) o descanso do deserto (na terra de Canaã); (2) o descanso da semana (no sábado); (3) o descanso das coisas do mundo (em Deus). 



Todos esses descansos não foram dados a quem não obedeceu a Deus. Os hebreus desobedientes morreram no deserto, sem entrar em Canaã. Os sabatistas desobedientes não se deleitam no sábado (como podemos ler em Isaías 56), passando a ter esse dia como um fardo. Por fim, os cristãos desobedientes não tem um descanso espiritual verdadeiro das coisas do mundo em Deus. O autor faz comparação para mostrar como a desobediência sempre impediu que as pessoas descansassem. Por isso, ele termina dizendo: “Esforcemo-nos, pois, por entrar no descanso de Deus, a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência” (Hebreus 4:11).



Não há nada aqui que ao menos indique que o sábado foi abolido, assim como também não há nada que afirme que ele continua de pé. O autor cita o sábado apenas para exemplificar outra coisa. Se estivesse falando que o sábado foi abolido e que o domingo é o sábado eterno, como diz o articulista, ele citaria o primeiro dia da semana e apontaria como dia santo. Em vez disso, ele apontou o dia de “hoje”, dizendo: “Hoje, se ouvirdes a voz de Deus, não endureçais o vosso coração” (Hebreus 4:7). Ou seja, ele está falando sobre obediência e não sobre dias santos.



- Quinto erro: Interpretação Tendenciosa
Jesus aparece à primeira vez aos Apóstolos no domingo, no dia da Ressurreição. Imaginem a alegria que os Apóstolos sentiram ao ver o Senhor Ressuscitado! Sobre isto escreveu o Salmista: 'A pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se cabeça da esquina. Foi o Senhor que fez isto, e é coisa maravilhosa aos nossos olhos. Este é o dia que fez o Senhor; regozijem-nos e alegremo-nos nele' (Sl 118,22-24). Ora, Jesus se tornou a Pedra Angular no dia em que Ressuscitou, o dia da Ressurreição 'foi o Dia que o Senhor fez'.
Eu vou postar um texto que tenho, antigo já, que analiso detalhadamente cada passagem que os “não-sabatistas” usam para defender a abolição do sábado e/ou a santidade do domingo. Mas antes disso, vou colocar aqui, resumidamente, a análise desse texto que está no Salmo 118.



O argumento é que quando Davi diz: “Este é o dia que fez o Senhor” está se referindo ao domingo, pois Jesus se tornou pedra angular em um domingo. Mas essa alegação é muito tendenciosa. Primeiro porque o rei Davi poderia estar se referindo somente ao dia específico em que Jesus ressuscitou. Neste caso, o salmo teria sido feito especificamente para quem viveu na época em que Jesus ressuscitou. É como se Davi estivesse dizendo para os discípulos e seguidores de Jesus: “Pessoal, o mestre de vocês vai ressuscitar nesse dia. Então, alegrem-se, porque vocês o verão”. Perceba que não há aqui nenhuma prova de que Davi estava falando da santidade do domingo, mas sim que aquele dia específico da ressurreição seria muito feliz. E foi mesmo, não é?



Segundo, Davi poderia estar usando uma figura de linguagem chamada metonímia, que é a substituição de um termo pelo outro por aproximação de ideias. Neste caso, quando ele diz: “Este é o dia que o Senhor fez”, não está pondo ênfase no dia da ressurreição, mas na ressurreição que ocorreu nesse dia. Por conseguinte, ao dizer para ficarmos alegres e exultantes nesse dia, na verdade, Davi quer dizer: “Fiquem alegres e exultantes pelo o que aconteceu nesse dia (a ressurreição)” e não: “Fiquem alegres toda vez que for domingo”. Ora, isso é muito plausível, pois o acontecimento do dia deve ser mais enfatizado do que o dia do acontecimento.



Da mesma forma, quando eu digo: “Eu me alegro em você”, não estou querendo dizer que me alegro quando estou dentro de você (óbvio!), mas quero dizer que me alegro por causa de você ou por estar com você. A ênfase não é se alegrar por estar dentro de você, mas sim se alegrar por você.



Terceiro, ainda que Davi estivesse falando que devemos nos alegrar todos os domingos por causa da ressurreição do Senhor Jesus, isso não anula o mandamento do sábado e nem faz do domingo um dia de guarda. Ora, podemos nos alegrar em qualquer dia (isso não significa guardar esse dia); e se alegrar com a ressurreição no dia de domingo não quer dizer que não possamos nos alegrar com a ressurreição também outros dias.



Quarto, Davi poderia estar falando sobre o dia chamado Hoje. Afinal, o Senhor não fez apenas o domingo. Fez todos os dias da semana. Então, qualquer dia após a ressurreição de Jesus é um dia para que devamos nos alegrar com isso. Essa interpretação faz sentido porque no Salmo 95:6-9, o próprio Davi fala sobre o dia chamado Hoje. E o contexto do Salmo 118 tem a ver com isso: Davi diz que Deus fez maravilhas (como exaltar a pedra angular) e nos convoca a nos alegrarmos com isso a partir de hoje.



Então, temos quatro interpretações plausíveis e que mostram que não existe nada que indique que Davi está falando sobre a guarda do domingo.



Aqui termina a primeira parte da nossa postagem. Na próxima parte continuarei a partir do sexto ponto, indo até o 13, como afirmei.

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