domingo, 14 de outubro de 2012

Argumentos para a existência de Deus – Parte 2: Argumento Teleológico

Na primeira postagem dessa série, nós estudamos sobre o argumento cosmológico. Segundo este argumento, que é baseado no raciocínio lógico e respaldado por dados científicos, o universo teve um início. Como tudo o que teve um início, teve uma causa para esse início, constata-se que o universo teve uma causa. E como essa causa não pode ser o próprio universo, conclui-se que a causa deve ser um agente que está além de elementos compositores do universo tais como: tempo, espaço, matéria e energia; sem início e com propriedades de criação. A este agente necessário e poderoso, os teístas chamam de Deus.

Nessa segunda postagem, vamos estudar um pouco sobre o argumento teleológico. Teleologia vem do grego “teleo”, que quer dizer “finalidade” e “logia”, que quer dizer “estudo”. Em outras palavras, o argumento teleológico é o argumento que estuda a finalidade. Mas que finalidade? Vamos entender. 


Introdução 


O filósofo e teólogo William Paley (1743-1805) explica o argumento através da chamada “Analogia do Relojoeiro”. Nesta analogia, Paley argumenta que se alguém encontra um relógio no chão, jamais acreditará que ele se formou por meio de forças casuais da natureza. Em vez disso, concluirá que o relógio foi projetado, pois todo seu mecanismo é complexo, ordenado e apresenta uma finalidade. 

Se o relógio é um projeto, isso significa que houve um projetista por trás desse projeto. Uma mente responsável pela ordem do mecanismo, pela finalidade do projeto e pelo seu funcionamento. Da mesma forma, ao observar o universo e a vida é racional concluir que há um projetista para ambos. 

Embora o argumento possa parecer poético à primeira vista, é incrivelmente irracional sustentar que a complexidade e a ordem existente foram alcançadas através de um conjunto imensurável de casualidades sem objetivos. Friso aqui a expressão “sem objetivos” porque me parece que os ateus adeptos da teoria da evolução esquecem que casualidades são eventos aleatórios e não ordenados. Não há um ordenador, logo não há motivo para haver uma ordem. Em um universo onde todos os eventos não apresentam um ordenador, não há finalidades a serem alcançadas. Logo, não há evolução. Tudo é mera casualidade e a casualidade gera caos e não ordem. 

O argumento teleológico pode ser resumido da seguinte forma: 
(1) Os mecanismos do universo e os organismos dos seres vivos são complexos e detalhados, apresentando funcionalidade, estabilidade e finalidade;
(2) um universo onde todos os eventos são meras casualidades, sem objetivos e sem um agente que ordena os eventos, não poderia ser responsável por tais mecanismos e organismos ordenados;
(3) logo, conclui-se que deve existir um agente ordenador inteligente que pôs o universo e os organismos para funcionarem e deu estabilidade a este funcionamento; tudo de maneira bem intencional.

A Sintonia Fina do Universo 


Suponhamos que você tenha a missão de contar quantas bolas de sinuca verdes, azuis, pretas, brancas, roxas, amarelas, vermelhas existem num conjunto de 9200 bolas. Com certeza, por você ter mente, consciência e objetividade, contará as bolas colocando-as em outros compartimentos do lugar onde você se encontra. Isso evitará que as mesmas bolas sejam contadas mais de uma vez. Além disso, você anotará de tempos em tempos o número de bolas, contará um grupo de cada vez (para se errar, não errar todos os grupos de cores) e com sorte poderá cumprir a missão ou chegar perto. 

Agora, imagine que você não pudesse transportar as bolas contadas para outros compartimentos do lugar em que você se encontra. Todas deveriam ficar amontoadas, espalhadas por todo o chão, em uma única sala e alcançando quase altura da mesma. Será que você conseguiria obter os mesmos resultados corretos ou próximos, que conseguiria no início? Dificultando mais: E se você não pudesse fazer as anotações de tempos em tempos do número em que está? E se simplesmente tivessem jogado você ali sem dizer o que deveria ser feito? 

Está entendendo onde quero chegar? Os valores que o universo necessita para comportar vida são “milimétricos”. A probabilidade de acertar todos eles, sem a ação de um agente que o faça conscientemente, é infinitesimal. Vamos pensar como um ateísta: para acertar os números que possibilitam a vida, o universo não teve uma mente objetiva para indicar o que precisava fazer e, a cada modificação, não pôde jogar fora a possibilidade de cometer os mesmos erros novamente. 

Para se ter ideia do que estamos falando, podemos citar dar alguns exemplos do que aconteceria se as constantes do universo, ajustadas desde o seu início, fossem minimamente modificadas [1]. Eis aí: 

(1) Se a constante da força da gravidade fosse alterada em 10 elevado a – 37 por cento (ou, se preferir 0,00000000000000000000000000000000000001), nosso Sol não existiria e, assim, nenhum ser humano. 

(2) Se a força centrífuga do movimento planetário não equilibrasse precisamente as forças gravitacionais, nada poderia ser mantido numa órbita ao redor do Sol. 

(3) Se a constante da interação gravitacional entre a Terra e a Lua fosse maior do que é atualmente, as marés dos oceanos, a atmosfera e o tempo de rotação seriam bastante severos. Se fosse menor, as mudanças orbitais provocariam instabilidades no clima. Em qualquer das hipóteses, não haveria vida na Terra. 

(4) Se Júpiter não estivesse em sua rota atual, a Terra seria bombardeada com material espacial. O campo gravitacional de Júpiter age como uma espécie de aspirador de pó, atraindo asteróides e cometas que, de outra maneira, atingiriam a Terra. 

(5) Se o Universo tivesse se expandido numa taxa um milionésimo mais lento do que o que aconteceu, a expansão teria parado, e o Universo desabaria sobre si mesmo antes que qualquer estrela pudesse ser formada. Se tivesse se expandido mais rapidamente, então as galáxias não teriam surgido. 

(6) Qualquer uma das leis da física pode ser descrita como uma função da velocidade da luz. Até mesmo uma pequena variação na velocidade da luz alteraria as outras constantes e impediria a possibilidade de vida no planeta Terra. 

(7) Se a rotação da Terra durasse mais que 24 horas, as diferenças de temperatura entre o dia e a noite seriam extremas. Se o período de rotação fosse menor, a velocidade dos ventos atmosféricos seria grande demais. 

(8) Cerca de 20% da atmosfera é composta por oxigênio. Se essa constante fosse de 25%, incêndios espontâneos seriam comuns; sendo de 15%, seríamos sufocados

(9) Se o nível de CO2 fosse mais alto do que é agora, teríamos o desenvolvimento de um enorme efeito estufa e todas as pessoas seríam queimadas. Se o nível fosse menor, as plantas não seriam capazes de manter uma fotossíntese eficiente e as pessoas não poderiam respirar. 

(10) Se os níveis de vapor de água na atmosfera fossem maiores do que são agora, um efeito estufa descontrolado faria as temperaturas subirem a níveis altíssimos para a vida humana; se fossem menores, um efeito estufa insuficiente faria a Terra ficar fria demais para a existência de vida. 

Aqui pudemos observar 10 constantes, cuja precisão é responsável pela existência de vida na Terra. Entretanto, existem mais de 100 constatantes como estas, as quais, embora não fossem estudadas há 2000 anos, seu efeito já era conhecido: a Terra estava ali, perfeitamente habitável, com todo um sistema natural que trabalhava junto, com um objetivo (uma meta), coisa que em um mundo ateísta, não existe. Por esta causa, o apóstolo Paulo, no início de sua epístola aos Romanos afirma assim: 

Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina [transcendente], têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis (Romanos 1:20).


Considerações Finais


Sobre todas estas exigências milagrosamente satisfeitas, os ateus vêm tentando desenvolver inúmeras explicações que fujam à necessidade da existência de um agente ordenador. Lembro-me de um debate entre William Lane Craig (PhD em filosofia e teologia e maior apologista cristão atualmente) e Austin Dacey (filósofo e humanista), onde o segundo sustentou que coisas improváveis ocorrem. “Ganhar na loteria é muito improvável, mas pessoas ganham” [2]. A analogia é ridícula! Comparar a probabilidade de alguém ganhar na loteria com a de surgir um universo capaz de comportar vida nele e de surgir vida espontaneamente neste universo é insustentável. 

Então, para terminar este tópico, proponho um pequeno teste. Arrume um dado de seis lados. Sua missão será jogar o seu dado seis vezes consecutivas e conseguir a série correta de 1 a 6. Ou seja, todas as vezes em que a sua série não começar com 1, ou começar com 1, mas não prosseguir com 2, 3, 4, 5 e 6, nessa ordem exata, sua série já deve ser contabilizada como um erro. Sendo muito pequena a probabilidade de isso ocorrer, tente fazer isso, pelo menos... 100 vezes por dia... Durante o tempo que você quiser (sugiro que faça por um mês inteiro). Tenho certeza de que jamais conseguirá a série correta. 

Mas ainda que você consiga, lembre-se: a probabilidade de o universo ter se ordenado sem uma inteligência ordenadora que guiasse essa ordem é muito menor do que a probabilidade de acertar a série correta em um dado de seis lados. Talvez seja algo como acertar a série correta de um dado de 100 lados. Essa comparação é desprovida de cálculos e eu não sou nenhum matemático. Entretanto, isso serve para ilustrar o quão improvável vem a ser o surgimento do universo e da vida no universo, caso não haja uma inteligência transcendente por trás disso. 
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Bibliografia: 


1. Livro: Não tenho fé suficiente para ser ateu, Norman Geisler e Frank Turek 
2. Debate: William Lane Craig x Austin Dacey, na Purdue University, West Lafayette, Indiana, EUA, 2004. – Presente no link: http://descontradizendocontradicoes.blogspot.com.br/2010/10/debate-william-lane-craig-x-austin.html

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