domingo, 21 de outubro de 2012

Argumentos para a existência de Deus – Parte 3: Argumento Moral

Esta é a terceira postagem da nossa série. Vimos nas duas últimas os argumentos cosmológico e teleológico. O primeiro nos mostra a necessidade lógica de uma causa transcendente para o universo. O segundo observa a improbabilidade do surgimento de mecanismos complexos, estáveis, com finalidades e funcionais no universo, sem uma inteligência que os tenha conduzido propositalmente para tal estado.

Em outras palavras, até aqui, através do raciocínio lógico e do respaldo de dados científicos, podemos constatar que existe um agente causador do universo (e dos seres que nele existem), atemporal, aespacial, imaterial, pessoal e inteligente.

O argumento que vamos estudar hoje, o argumento moral, não só ratifica que há um agente exterior ao universo e logicamente necessário ao mesmo, mas atribui a esse agente características que o aproximam um pouquinho mais do que as religiões chamam de Deus. Vamos vê-lo?

Introdução

Basicamente ele se propõe a dizer o seguinte:

(1) Existem valores morais absolutos; 
(2) se existem valores morais absolutos, então há um padrão moral absoluto;
(3) se há um padrão moral absoluto, este padrão deve ser superior à humanidade, transcendendo-a (ou seja, algo além de tempo, espaço, matéria e energia - Deus).
Para evitar qualquer problema quanto ao significado de moral ou a diferença entre moral e ética, entenda moral, aqui, como aquilo que é dever ou, o entendimento do que é correto. Assim, conceitos como: bem e mal, justo e injusto, certo e errado; atitudes como: dar água ao sedento, ajudar um acidentado, salvar uma vida; proibições como: não matar, não roubar, não mentir, não machucar; e também os valores atribuídos a uma vida, a um sorriso ou a uma lágrima, fazem parte do que definimos, neste postagem, como moral.

Agora, vamos destrinchar o argumento e responder às prováveis questões que irão surgir aqui.

Destrinchando o argumento: Premissa 1

Devemos iniciar nossas análises pela primeira premissa do argumento. Segundo esta, existem valores morais absolutos no mundo. Mas será que isso é uma verdade? Os relativistas hão de dizer que não existem valores absolutos, mas sim, pontos de vista diferentes. “Tudo é relativo”. Já ouvimos muito essa frase, não é? O problema é que os próprios relativistas valorizam o direito de fazer esta afirmação, por exemplo. E esta afirmação, ironicamente, é uma contradição, pois se em um mundo relativista não há verdades absolutas, então também não é verdade o que os relativistas dizem.

Além do mais, é muito pouco provável que um relativista seja relativista com relação ao estuprador de sua filha ou a um assaltante que matou toda a sua família, dizendo: “Não, não é errado. É apenas uma questão de opinião. Eles gostam de estuprar, roubar e matar. Eu não gosto”. O relativista tem noção de certo e errado, toma posições contra ou a favor de algo, defende e quer impor, tem opiniões e quer passá-las à diante. Mas se tudo é relativo e todo o valor é só questão de opinião, posicionar-se contra ou a favor de qualquer coisa não faz sentido.

Isso me faz lembrar uma história interessante descrita no livro Não tenho fé suficiente para ser ateu, onde um aluno ateu faz um trabalho sobre relativismo, argumentando de maneira convincente que não existem verdades e valores absolutos, mas apenas opiniões diferentes.

“Eu gosto de chocolate e você de baunilha”, sustentava o aluno. O trabalho era digno de nota máxima, entregue na data certa, encapado e dentro dos moldes pedidos pelo professor. No entanto, a correção do trabalho surpreendeu o estudante. Bem grande, na capa, o professor colocou: “Nota F. Não gosto de capas azuis”. Obviamente o aluno vai reclamar, afirmando que aquilo era injusto, errado, anti-ético, imoral, que seu trabalho merecia uma nota A e etc. Contudo, o professor se defende com o próprio argumento do aluno, sustentando que não existem verdades e valores objetivos; é só questão de opinião [1].

Alguém pode dizer que estou falando de ética. Chame do que quiser. O importante aqui não é discutir nomenclaturas, mas mostrar que aparentemente existe um padrão objetivo de atitudes a serem seguidas pelo homem e que nos possibilita julgar o valor das coisas e saber o que é certo e o que é errado. São regras gerais que por algum motivo todo o ser humano deve seguir e que por algum motivo a grande maioria das pessoas concorda com a sua existência, consciente ou inconscientemente (ainda que se julgue um relativista).

Destrinchando o argumento: Premissa 2

Se realmente existe uma moral objetiva e absoluta, esta constatação traz consigo algumas implicações muito sérias, sobretudo para a visão ateísta do mundo, pois se não há Deus, não há padrão absoluto no qual possamos basear a nossa moralidade. Deus é o ser transcendente do qual emana toda a moral. Ele é o padrão moral absoluto do qual as noções morais provém. O escritor C. S. Lewis (mais conhecido como o autor de As Crônicas de Nárnia) que se converteu do ateísmo para o cristianismo, escreve assim no livro Cristianismo Puro e Simples:

[Como ateu] meu argumento contra Deus era que o Universo parecia cruel e injusto demais. Mas de que modo eu tinha esta idéia de justo e injusto? Um homem não diz que uma linha está torta até que tenha alguma idéia do que seja uma linha reta. Com o que eu estava comparando este Universo quando o chamei de injusto? [2].
Para entender melhor essa reflexão, precisamos percorrer alguns pensamentos ateístas sobre qual seria a base para a crença na existência de valores morais objetivos.

O químico ateu Peter Atkins em um debate contra Craig, sustenta que nós “sabemos o que é certo e o que é errado quando nossas aspirações atingem as aspirações dos outros” [3]. Já o humanista Austin Dacey, também em debate, diz que a moral é um conjunto de regras que fazem a sociedade funcionar melhor, e que por isso nós procuramos segui-la [4].

Estes dois pensamentos refletem bem o que muitos ateus pensam sobre o que é a moral: um padrão de atitudes formado através da racionalidade humana, capaz de distinguir o que é melhor e o que é pior para a sociedade. Mas o problema desses pensamentos é que eles não alcançam a raiz da questão. Atkins, por exemplo, faz uso de um raciocínio circular: pressupõe que o egoísmo é errado para afirmar que não devemos atingir as aspirações das demais pessoas. Mas por que o egoísmo é errado? Como ele sabe que o egoísmo é errado? O que o faz pensar que o egoísmo é errado? Por que isso não pode ser questionado? Em que ele se baseia para fazer tal afirmação?

Percebe? O que Peter Atkins faz é usar padrões morais (que definem o amor como correto e o egoísmo como errado) para explicar a existência dos próprios padrões morais. Em outras palavras, ele está dizendo que é errado atingir as aspirações das demais pessoas porque é errado ser egoísta; e é errado ser egoísta porque é errado atingir as aspirações das demais pessoas.

Austin Dacey também não colabora em nada com a sua explicação. A sua concepção de que a moral é um conjunto de regras que fazem a sociedade funcionar melhor tem como pressuposto a ideia de que devemos pensar no bem coletivo. Só que mais uma vez esse pressuposto já é baseado na moral. Por que é correto pensar no bem coletivo? Por que eu não posso pensar só em mim? Em que se baseia essa noção de certo e errado? Mais uma vez, não há preocupação por parte do ateu de provar porque seria errado ser egoísta.

O erro de Dacey ainda repousa em uma confusão entre moral e lei civil. Sua concepção humanista de que devemos pensar no bem coletivo resulta do temor de um mundo onde não houvesse leis que pudessem garantir a auto-preservação. É isto que está em jogo quando ele diz que a sociedade funciona melhor com esse conjunto de regras; é o medo de se encontrar em um estado sem garantias para a própria vida.

Esse medo pode ser descrito como sendo natural do ser humano, posto que é resultado do instinto individual de auto-preservação da vida. E é aqui que nos deparamos com uma verdade essencial: não é necessário existir moral para que exista instinto de auto-preservação. Não é necessário que eu realmente me importe com o bem coletivo ou que eu ache isso moralmente correto para que eu me importe com minha própria vida.

Portanto, a existência de leis civis não é uma prova de que existe uma moral objetiva. Este é o erro de Dacey. Ele vincula a existência de lei civil à obrigação moral de segui-las, quando, na verdade, se Deus não existe, as leis são apenas uma forma encontrada pelo ser humano de garantir sua própria vida, independentemente se é certo ou não pensar no bem coletivo.

Então, tomando como pressupostos que o homem pode almejar um conjunto de regras sobre toda a sociedade apenas por instinto de auto-preservação e que a moral não é necessária para tal, o egoísmo se transforma em um sentimento útil. Então, por que a maioria das pessoas continua insistindo que pensar no bem coletivo é certo e que ser egoísta é errado? De onde vem essa concepção?

Vamos nos aprofundar um pouco mais na questão, observando quais seriam as implicações genuínas de se acreditar que não existe Deus. Para começar, o universo, o planeta, a natureza e o ser humano não existem por um propósito. Não há um objetivo maior para nossa existência. Tudo o que existe é obra do acaso. Não existem regras ou leis maiores. Não há um manual que ensine o que se deve e o que não se deve fazer. Todos um dia morrerão e deixarão de existir. Tudo o que se faz aqui será esquecido por quem fez e por quem viu fazer. Tudo será apagado. Não há consequencias. Não há padrão. Não há possibilidade de julgamentos dentro do campo moral.

Portanto, não há motivo para se pensar no bem da sociedade ou na preservação da espécie humana à longo prazo. Assim, o que chamamos de moral não passa de uma ilusão através da qual é possível que cada pessoa tenha a garantia de que não farão com ela o que ela não quer que façam. Este é o verdadeiro panorama ateísta.

Então, se vivêssemos em um mundo ateu, tal mundo não necessariamente seria sem lei. Poderia haver leis, tais como as temos em nosso mundo. Não obstante, um homem poderia não matar um desafeto simplesmente por não querer ser preso, mas crer que o seu sentimento homicida é correto. Tal ato seria objetivamente errado? Não. No máximo uma pessoa poderia ter uma opinião contrária, mas seria mera opinião, um sentimento subjetivo, e não uma verdade absoluta.

E mais: Se este mesmo homem matasse sua esposa, sem deixar rastros para a polícia (e para os parentes dela), poderia ser considerado um herói, pois fez o que achou ser correto, se livrou de um obstáculo, burlou a lei (o que em um mundo ateísta não é imoral) e continuará a viver bem a sua vida. Não existe sequer espaço para remorso, pois (1) um dia sua esposa morreria mesmo; (2) ele também morrerá algum dia; (3) não existe vida após a morte; (4) não existe um padrão moral absoluto; (5) o seu ato egoísta não irá desencadear uma desordem geral na sociedade que o afete; e (6) o egoísmo é uma boa ferramenta para cada um fazer o que quiser e ser feliz em sua breve vida.

Então, segue-se que, em uma visão de mundo onde não existe Deus (que seria o padrão moral absoluto), este homem não foi imoral, mas racional. Sua racionalidade é até muito admirável. Ele poderia receber um nobel por sua inteligência, oportunismo e frieza – se alguém quer levar a sério o seu ateísmo, deve aceitar este panorama, onde a moral é uma ilusão.

A situação intelectual do ateu, portanto, é a seguinte: ou ele aceita que não existe moral objetiva, tornando-se assim um relativista (como vimos há pouco) ou ele sustenta uma moral objetiva, aceitando também que existe um padrão maior e absoluto do qual se originou a nossa moral.

Uma boa analogia

Talvez o leitor ainda não tenha se convencido totalmente de que essa linha de raciocínio está correta. Então, para que não restem dúvidas, vamos fazer uso de uma analogia que deixará tudo mais claro.

Imaginemos, pois, que sou um marceneiro que caminha pela rua em um fim de tarde. Então, encontro um pedaço grande e proveitoso de madeira. Olho para os lados, vejo que não é de ninguém e que, quem quer que o tenha colocado naquele local, somente o abandonou. Então, levo o pedaço de madeira para casa e começo a trabalhar na fabricação de uma prateleira. Pergunto: Eu tinha alguma obrigação objetiva de fazer ou de não fazer a prateleira com aquele pedaço de madeira? Havia alguma indicação do que eu deveria ou não fazer? Claro que não. O pedaço de madeira não tinha nenhuma finalidade, e, portanto, eu podia fazer dele o que eu quisesse.

Agora, digamos que eu, o mesmo marceneiro, em vez de ter encontrado o pedaço de madeira abandonado, tivesse recebido de meu chefe esse mesmo pedaço, dizendo que ele pertencia a um cliente e que eu deveria fazer uma cadeira com ele para entregar ao cliente. Então, eu levo o pedaço de madeira para casa, só que, em vez de fazer uma cadeira para o cliente de meu patrão (como ordenado), me apropio dele e o transformo em minha prateleira. Pergunto: Será que agora eu tinha alguma obrigação e indicação do que eu deveria ou não fazer com a madeira? É óbvio que sim. O pedaço de madeira tinha um fim determinado e, por isso, eu deveria tê-lo cumprido.

Trazendo isso para a questão da moral, se há realmente um Deus do qual provém toda a moral, ela é objetiva e todos devem segui-la. Mas, se não há nenhum Deus, a moral é apenas um pedaço de madeira abandonado e sem um fim determinado, em meio a um universo que também não tem objetivo. Cada um pode fazer o que quiser com esse “pedaço de madeira”.

Refutando contra-argumentos

Neste ponto, o ateu ainda terá alguns argumentos para tentar sair desse dilema. Ele poderá afirmar que, por mais que sejamos fruto do acaso, devemos seguir aquilo que a natureza determinou. Com isso o ateu conclui que a moral é um instinto desenvolvido pelo ser humano naturalmente, e que, por isso, não podemos violá-lo.

Mas esse argumento também não é válido. Primeiro porque é necessário que o ateu prove que “devemos seguir aquilo que a natureza determina”. Por que devemos? Veja que outra vez o raciocínio é circular, pois o ateu precisa recorrer a valores (aquilo que se deve ou não fazer) para explicar os próprios valores.

Segundo, porque o ateu acaba se contradizendo quando afirma que devemos fazer o que a natureza determinou, pois há um bom número de práticas não-naturais que os ateus não veem como imorais. Por exemplo, as relações homossexuais, as tatuagens, os brincos, as roupas, o parto cesariana, a camisinha, as bebidas alcoólicas, a depilação, o cigarro e etc.

Ora, naturalmente falando as relações sexuais devem ocorrer entre homem e mulher, porque é o mecanismo natural para se preservar a espécie; e o ânus serve para secretar fezes e não para receber sêmen e a orelha não apresenta furos para se colocar brincos; e a pele é apenas uma proteção do organismo humano, não uma parede para se pintar; e não nascemos com roupas; e o parto natural é aquele em que o bebê é expelido pelo canal vaginal; e a camisinha evita o mecanismo natural de preservação da espécie; e as bebidas alcoólicas não dão em rios. Então, se práticas não-naturais não são corretas, então o ateu não deve fazer nada disso.

Finalmente, é interessante ressaltar que na maioria das vezes a moral é contrária aos próprios instintos. E é por isso que ela pode ser mais facilmente ignorada e até mesmo deturpada, diferentemente dos instintos. Por exemplo, o que é que impede um homem de saciar o seu instinto natural por sexo quando vê uma mulher bonita na rua? É a moral. E o que nos impulsiona a salvar uma pessoa desconhecida de algum tipo de perigo mesmo que isso ponha em risco a nossa vida? É a moral.

Então, vemos que a moral é um elemento bem diferente dos instintos, podendo ser ignorada e deturpada; podendo ser contrária aos instintos e até mesmo fortalecendo um instinto específico em uma situação onde exista um conflito entre dois instintos. Por exemplo: uma mãe tentando proteger seus filhos de um perigo (auto-preservação versus preservação da espécie).

Ainda devemos ressaltar que: se os instintos tivessem que ser seguidos sempre apenas pelo fato de serem naturais, então não há erro em estuprar uma mulher na rua e deixar morrer um desconhecido. Essas atitudes são ações instintivas (instinto sexual – ou de procriação – e instinto de auto-proteção).

Considerações Finais

Irritado com às incômodas conclusões às quais estamos chegando, um ateu pode tentar se defender dizendo que ateus não são pessoas imorais, que a moral não depende da religião, que existem muitos ateus mais morais que cristãos e etc. Ok. Concordo com tudo isso. Mas o que isso tem a ver com o argumento moral? Nada! O argumento moral não se propõe a dizer que os ateus são imorais, mas sim que existem valores morais no mundo, que eles não são relativos e que só podem existir mediante um padrão moral superior e transcendente, ao qual chamamos de Deus.

O ateu também pode argumentar que existiram sociedades que cometeram e ensinaram atrocidades e que isso é uma prova de que não existem valores morais. Porém, uma coisa nada tem a ver com a outra. A existência de valores morais absolutos não impedem que a moral seja deturpada ou, em parte, ignorada. Agora, ignorar ou deturpar a moral não significa não saber distinguir o certo do errado e, sim, tentar justificar o erro, tornando-o uma exceção – um marido traído, por exemplo, ao assassinar a esposa, justifica-se dizendo que ela mereceu. Além disso, mesmo em uma sociedade imoral, existem resquícios de moralidade suficientes para que um indivíduo reflita sobre suas atitudes e escolha mudar.

O próprio fato de observar o sofrimento alheio e se colocar no lugar do sofredor não só é um convite à moralidade como a prova de que há uma espécie de consciência no homem; um padrão a ser seguido, ensinado e ratificado no convívio da sociedade. O valor de uma lágrima, de um sofrimento de um sorriso ou de uma vida, tal como o sentimento de reciprocidade, existe devido a este padrão. A nossa concepção de bom e ruim, de certo e errado, de moral e imoral, só faz sentido mediante um padrão superior do qual emana essas concepções. E... Cabe a cada um, escolher se vai seguir, ignorar ou deturpar essas concepções. Quem as ignora, tende a se tornar insensível à elas.

Segue-se, então, a conclusão de nossas análises sobre a moral: se ela é objetiva, ela não pode ser resultado de convenção humana e nem de mero instinto. Ela é um elemento presente na sociedade e no ser humano individualmente, e só existe porque há um padrão maior do qual ela emana. Esse padrão é chamado pelos teístas de Deus, cuja moral, na realidade, faz parte de seu próprio ser. Assim, se a moral é objetiva (como a maior parte das pessoas parece concordar), ela é uma evidência de que Deus existe.
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Referências:

1. Não tenho fé suficiente para ser ateu, Normam Geisler e Frank Turek
2. Cristianismo Puro e Simples, C. S. Lewis
3. Debate: William Lane Craig x Peter Atkins, no Carter Presidential Center, Atlanta, Georgia, EUA – 1998. Presente no link: http://descontradizendocontradicoes.blogspot.com.br/2010/11/debate-deus-existe-wlliam-lane-craig-x.html
4. Debate: William Lane Craig x Austin Dacey, em Pardue University, West Lafayette, Indiana, EUA – 2004. Presente no link: http://descontradizendocontradicoes.blogspot.com.br/2010/10/debate-william-lane-craig-x-austin.html

85 comentários:

  1. Não há necessidade de Deus para que haja valor moral, uma vez que NÃO se sabe quais são os desígnios morais do possível Deus existente. Aquilo que se supõe como moral vinda de Deus são as leis e mandamentos de cada livro sagrado. A moral objetiva-não fazer aos seus semelhantes o que não quer que seja feito a você mesmo- vem de um processo evolutivo, simplesmente porque o ser humano percebeu, ao longo de sua evolução, que cooperar em favor da espécie é algo vantajoso(o correto só existe para nós). Além disso, o próprio Deus não pode obedecer ao conceito de moral objetiva, pelo simples fato de Ele não possuir semelhantes. Se o próprio Deus não pode se fazer moralmente objetivo, como pode criar uma humanidade que seja?

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    1. Amigo, este argumento não pressupõe a existência de Deus para concluir que existe moral transcendente. Ele pressupõe a existência de uma moral transcendente para concluir que há uma fonte transcendente da qual a mesma procede. Assim, trata-se de um argumento condicional. Se existe moral transcendente, existe uma fonte transcendente da qual ela procede. Se não existe uma moral transcendente, não há uma fonte transcendente para a mesma.

      No seu caso, pelo que entendi, você não acredita em uma moral transcendente. Você acredita simplesmente em orientações naturais de conveniência. Isto é, eu sustento a ilusão de que é errado matar por motivo torpe não porque seja realmente errado, mas porque se eu e a sociedade não sustentarmos isso, o cenário de perigo que teremos colocará minha vida em risco, o que não é conveniente para mim. Isso não é moral. É mera conveniência.

      Então, para você, este argumento não serve. O argumento serve para quem realmente acredita em uma moral transcendente, isto é, de que há coisas que são erradas e coisas que são certas em qualquer tempo e lugar (como, por exemplo, a já citada questão do homicídio, que seria, para quem crê em uma moral transcendente, um erro em qualquer tempo e lugar).

      Abraços.

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  2. Mas o que se entende,exatamente,por OBJETIVO? O que existe fora das mentes? Ou que seja consensual entre várias mentes? No primeiro caso, de fato, não há moral objetiva. No segundo sim. Antes de tudo há que se distinguir moral de ética. Moral é normativa, isto é, prescritiva. Ela estabelece o que seja permitido ou proibido fazer, já que seu objeto são as ações humanas (livres, ainda por cima). Isso é objetivo, pelo segundo critério, relativamente a um grupo de pessoas de certo estrato social de uma sociedade em dada época e lugar. Mas não é individual. Não existe "moral pessoal". Ela é relativa ao contexto social. Mas não é objetiva segundo o primeiro critério. A ética, por outro lado, mesmo não sendo objetiva pelo primeiro critério, busca ser universal, isto é, aplicável a toda a humanidade, independentemente do estrato social, da época e do lugar, ou seja, da cultura. Ela busca, filosoficamente, achar o que seja certo ou errado, bom ou ruim, correto ou incorreto. Para tal estabelece "critérios de eticidade", que seriam usados para isto. Três se destacam: Que a ação possa ser erigida como norma universal, que maximize a felicidade do maior número de seres e que seja o que se queira para si mesmo. Esses critérios foram especialmente estabelecidos por Kant, Bentham, Stuart Mill, Confúcio, Krishna e outros. Seria de se esperar que a moral seguisse os critérios éticos, mas nem sempre se dá. Há preceitos morais que não são éticos e comportamentos tidos como imorais que não ferem a ética. Quanto a valores morais divinos, isso não existe. Todos foram propostos por pessoas humanas e apresentados como se fossem de origem divina. E, quase sempre, o foram com o propósito de subjugar a população a agir de conformidade com os desígnios dos detentores do poder político, militar e religioso. A respeito de verdades de razão e de fato, considero que toda verdade seja a adequação do discurso à realidade. Um discurso racional não necessariamente leva a uma conclusão verdadeira, mesmo que seja perfeitamente válido, se partir de premissas falsas. Como é o caso da prova cosmológica da existência de Deus. E o caráter veritativo de uma assertiva nem sempre pode ser conferido, por não se ter acesso indubitável à realidade, face às deficiências perceptivas do ser humano, mesmo munido de instrumentos. Então há que se ter por verdade, simplesmente, o consenso entre muitas suposições de verdade, aferidas com o máximo de cuidados para se evitar enganos de percepção.

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    1. Amigo,

      Vou responder seus questionamentos

      "Mas o que se entende, exatamente, por OBJETIVO? O que existe fora das mentes? Ou que seja consensual entre várias mentes?".

      Eu utilizo o termo "objetivo" aqui para descrever valores que não estão baseados em preferência pessoal, gostos, cultura, hábitos coletivos, contexto histórico, tempo e lugar. São valores "absolutos" ou "transcendentes". Transcendente é aquilo que transcende algo. No caso aqui, estou falando de valores que transcendem os elementos já citados, tais como tempo, espaço, preferências pessoais e etc. Segundo a obra "Filosofia e Cosmovisão Cristã", de Craig e Moreland, "Afirmar a existência de valores morais objetivos equivale a dizer que algo é certo ou erado independentemente do fato de alguém acreditar nisso ou não. É dizer, por exemplo, que o anti-semitismo nazista foi errado, embora os nazistas que perpetraram o holocausto cressem em sua bondade; ele ainda seria errado mesmo que os nazistas tivessem vencido a Segunda Guerra Mundial e tivessem sido bem-sucedidos em exterminar ou promover lavagem cerebral em todos os discordantes daquele movimento" (CRAIG, William Lane; MORELAND, J. P. Filosofia e Cosmovisão Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2005, p. 597-598).

      Acho que ficou bem claro. Sigamos a diante.

      "Antes de tudo há que se distinguir moral de ética".

      Não, não é necessário distinguir isso aqui. Isso é mera discussão de termos, algo importante se eu tivesse elaborado um texto acadêmico, rebuscado e com intenção de ser extenso e profundo. Mas não foi o caso. Elaborei foi um texto simples, de nível popular, apresentando um argumento resumido. A ideia não foi promover um grande debate filosófico, expondo diversos conceitos e discussões complexas. Por isso, no início do texto, afirmei: "Para evitar qualquer problema quanto ao significado de moral ou a diferença entre moral e ética, entenda moral, aqui [repare no AQUI. Significa que, neste texto, em específico, a moral pode ser entendida da maneira como explico adiante], como aquilo que é dever ou, o entendimento do que é correto. Assim, conceitos como: bem e mal, justo e injusto, certo e errado; atitudes como: dar água ao sedento, ajudar um acidentado, salvar uma vida; proibições como: não matar, não roubar, não mentir, não machucar; e também os valores atribuídos a uma vida, a um sorriso ou a uma lágrima, fazem parte do que definimos, neste postagem [de novo, repare na ênfase NESTA POSTAGEM], como moral".

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    2. Prossigamos.

      "Ela busca, filosoficamente, achar o que seja certo ou errado, bom ou ruim, correto ou incorreto. Para tal estabelece 'critérios de eticidade', que seriam usados para isto. Três se destacam: Que a ação possa ser erigida como norma universal, que maximize a felicidade do maior número de seres e que seja o que se queira para si mesmo".

      Quando não se acredita em valores morais transcendentes, esses critérios não servem para definir o que é certo ou errado, bom ou ruim, correto ou incorreto. Eles servem apenas para influenciarem os homens a seguirem uma orientação de conveniência individual. Eles mesmos não tem nenhum valor moral (ou ético, como preferir) em si mesmos, pois se todos os valores são apenas expressão de gostos, opiniões, culturas e hábitos humanos, não há motivo algum para achar que eu devo querer a felicidade do maior número de pessoas, ou que eu devo fazer o que eu gostaria que fizessem comigo.

      "Quanto a valores morais divinos, isso não existe. Todos foram propostos por pessoas humanas e apresentados como se fossem de origem divina. E, quase sempre, o foram com o propósito de subjugar a população a agir de conformidade com os desígnios dos detentores do poder político, militar e religioso".

      Não, meu amigo. Valores morais não são propostos. Eles são simplesmente entendidos como existentes quase que instintivamente por todas as civilizações do passado e do presente. Ninguém propôs que salvar uma vida é algo bom, que matar por motivo torpe é errado, que mentir para obter benefícios em detrimento de outros é mal, que a vida humana tem valor, que falar a verdade é uma virtude, que ser covarde não é certo, que cumprir acordos e contratos é justo, que julgar de modo parcial é injusto. Esses são valores básicos sobre os quais se erigiram todas as civilizações do passado e do presente, a despeito de distorções na interpretação desses valores. Isso, evidentemente, não prova que tais valores provém de uma fonte transcendente (a qual chamo de Deus), a não ser que se considere tais valores como objetivos, isto é, como estando além de meros hábitos humanos. Para quem não acredita nisso, tais valores não são mais importantes que qualquer outro valor subjetivo como, por exemplo, o do indivíduo que acha azul mais bonito que preto. Em suma: ou tais valores não apresentam qualquer significância transcendental ou eles apresentam sim e, portanto, fluem de uma fonte transcendental. Não há como valores que transcendem cultura, hábitos, sensações, gostos e opiniões fluírem de cultura, hábitos, sensações, gostos e opiniões. Isso seria uma contradição.

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    3. Prossigamos.

      "Um discurso racional não necessariamente leva a uma conclusão verdadeira, mesmo que seja perfeitamente válido, se partir de premissas falsas. Como é o caso da prova cosmológica da existência de Deus. E o caráter veritativo de uma assertiva nem sempre pode ser conferido, por não se ter acesso indubitável à realidade, face às deficiências perceptivas do ser humano, mesmo munido de instrumentos. Então há que se ter por verdade, simplesmente, o consenso entre muitas suposições de verdade, aferidas com o máximo de cuidados para se evitar enganos de percepção".

      Concordo. Todos nós somos obrigados a crer em suposições que não podemos provar, mas que nos parecem verdadeiras e que precisam ser aceitas para que possamos produzir algum raciocínio. Por exemplo, não podemos provar que a realidade que vemos de fato está ali. Eu poderia ser algo como um esquizofrênico e toda a minha vida que julgo ser real poderia ser simplesmente ilusão de minha mente. Meu pai, minha mãe, minhas lembranças, o debate que estou tendo com você, a sua existência, o meu notebook, este blog, este texto. Tudo pode muito bem não ser real. Posso estar imaginando isso e estar crente que é verdade, quando não é. O filme "Uma mente brilhante" é um filme interessante para nos mostrar uma situação como esta. "Matrix" também é capaz de mostrar que toda a "realidade" poderia ser virtual e nós não sabermos disso. Em outras palavras, não temos como provar nem mesmo que as coisas ao meu redor existem de verdade. Apenas aceitamos o fato porque (1) parece que é e (2) se não fizermos isso, não conseguimos produzir qualquer raciocínio. Isso pode ser chamado de axioma. São verdades que pressupomos sem provar porque não dá para seguir a diante sem elas.

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  3. Uma forma como eu percebo que a moral não necessariamente precisa de um Deus para existir é se perguntando o famoso Dilema de Eutífron: "Os valores morais são morais porque vêm de Deus,ou vêm de Deus porque são morais?" Neste caso-se vêm de Deus porque são morais- já se pressupõe que a moral antecede o conceito de Deus.No outro caso-se são morais porque vêm de Deus-então a moral é arbitrária e não objetiva,pois simplesmente atende os desejos aleatórios de um Deus que,sabe-se lá porque,quis que achássemos determinada coisa x ou y certa ou errada.

    E no caso do Deus cristão,especificamente,isso é até pior,pois ele mesmo comete atos imorais contra a humanidade.Basta lembrar das várias passagens onde Ele mandou dizimar cidades inteiras como são os casos dos Amalequitas, Filisteus, Amonitas, Egípcios etc. A mais famosa das imoralidades divinas ,entretanto,é o conceito de inferno. Como pode ser moral punir alguém eternamente por atos cometidos em uma vida terrena finita?
    Sem falar que os cristãos correspondem apenas 30% das pessoas no mundo.
    Isso que dizer que 70% da humanidade vai ser torturada para sempre,pelo simples fato de não acreditar no Cristianismo? Que Deus moralista é este que exige o sacrifício de seu próprio filho(que aliás,é Ele mesmo)para a expiação dos pecados? Se é onipotente,por que simplesmente não perdoar todos os pecados,dos arrependidos,sem exigência nenhuma ou sofrimento de ninguém? Isso sim seria o esperado de um Deus cristão moral,não é mesmo? Ou seja,enquanto o Deus cristão manda seus tão-falados "desejos morais objetivos" para a humanidade,Ele mesmo se dá ao luxo de deixar inocentes torturar eternamente no interno,matar centenas de pessoas na Bíblia ou mesmo seu próprio filho(que,no fundo,é Ele mesmo) da forma mais horrível possível.E o pior,tudo isso desnecessariamente,dada a onipotência dele. Em outras palavras: como pode ser,no cristianismo,a moral objetiva vinda de seu Deus enquanto Ele mesmo comete atrocidades contra várias pessoas inocentes? Ele é objetivamente moral e imoral ao mesmo tempo,o que é uma contradição.

    E o que dizer também dos famosos dilemas morais? Se a moral é objetiva e vinda de um Deus,então por que será que na vida,encontramos tantas situações do tipo "matar uma vida(ou não)para salvar outras","prejudicar alguém(ou não) para beneficiar outros","ajudar(ou não)alguém que não queira ajuda" etc., como diria o ditado popular, "males que vêm para o bem"? Se a moral é objetiva e vem de um Deus, por que encontramos tantas polêmicas nas quais nenhuma solução é,tanto moralmente quanto objetivamente satisfatória,como seria de se esperar de um mundo criado por um Deus que,supõe-se,queira só o bem da humanidade? Vide legalização do aborto,células-tronco,uso de contraceptivos,testes de laboratório em animais,cotas para negros,etc.,ou seja situações em que é preciso escolher ser moral com uma pessoa(s) para poder ser imoral com outra(s). Se Deus nos dá uma moral objetiva e,ao mesmo tempo,quer o bem da humanidade, então não vejo porque teria nos dado tantas "facas de dois gumes" morais para escolher na vida.

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    1. Prezado amigo,

      Antes de responder seus questionamentos, quero agradecer-lhe por estar mantendo uma postura educada. Também agradeço pelas questões levantadas, pois isso enriquece muito essa postagem e o blog.

      Outra coisa. Como você lançou muitos questionamentos, a resposta será um pouco longa. Vão dar sete folhas de tamanho A4. Vou responder na ordem que você propôs em seu comentário: (1) Dilema de Eutifron; (2) supostos atos imorais de Deus na Bíblia; (3) o conceito de inferno; (4) os 30% de cristãos no mundo; (5) a necessidade da morte de Jesus para expiação de pecados e (6) os dilemas morais. Agora, vamos às respostas.

      1) O DILEMA DE EUTÍFRON

      Sobre o “dilema” de EutÍfron, ele é algo bem antigo na filosofia, mas bem simples de ser refutado. Ele é o que chamamos em lógica de “falso dilema”, pois te traz duas opções como se fossem as únicas existentes quando, na verdade, existe uma terceira alternativa.

      Então, (1) algo é moral porque Deus quer ou (2) Deus quer porque é moral? Nenhum dos dois. Na verdade, (3) Deus é moral. A moral é um atributo que faz parte da própria essência de Deus. É como você e seu coração. O seu coração faz parte de você. É uma inerência do seu ser. Da mesma forma, a moral faz parte de Deus. Não há como separar uma coisa da outra. Assim, nem Deus é arbitrário, pois sua natureza moral é o próprio padrão moral (e não uma mera opinião), tampouco a moral independe dele. Lembre-se do que falei: Ele é a FONTE moral. William Lane Craig, em seu livro “Em Guarda”, ainda enfatiza algo muito importante sobre essa questão:

      “[...] quando um ateísta disser, ‘Se Deus ordenasse que abusássemos de uma criança, estaríamos obrigados a fazer isso?’, ele na verdade está perguntando algo assim: ‘Se houvesse um círculo quadrado, sua área seria o quadrado de um dos seus lados?’. Não há resposta para isso, pois essa suposição é logicamente impossível” (CRAIG, William Lane. Em Guarda. São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 149).

      Esse dilema já foi refutado por muitos filósofos há anos, amigo. Não o use mais.

      Prossigamos.

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    2. 2) SUPOSTOS ATOS IMORAIS DE DEUS

      Sobre os supostos atos imorais de Deus contra a humanidade, você começou citando as passagens bíblicas do Antigo Testamento em que ele mandou dizimar cidades inteiras como nos casos dos Amalequitas, Filisteus, Amonitas e Egípcios. Há muita coisa a se dizer aqui. Inclusive, escrevi um livro justamente sobre esse assunto, chamado “Supostamente Cruel”. É possível comprá-lo por este blog, aliás. Ele tem 420 páginas e esmiúça bem a questão. Vou resumir o livro em oito pontos aqui para você.

      Em primeiro lugar, se o Deus cristão realmente existe Ele é o dono da vida. Ele criou a vida e a condição de vivermos. Ora, não é imoral o dono de algo destruir esse algo. Se eu criei e as escrevi em um caderno meu, tenho todo o direito de jogar esses cadernos fora. Seria imoral eu jogar fora os cadernos e as poesias de outras pessoas. Mas os meus eu posso. Então, não é imoral Deus tomar de volta as vidas que nos deu.

      Em segundo lugar, as passagens em que Deus ordena o extermínio de cidades inteiras no Antigo Testamento deixam claro que o nível de imoralidade dessas pessoas era altíssimo e irreversível. Sodoma e Gomorra, por exemplo, que foram destruídas com fogo vindo do céu eram tão cruéis que estupravam estrangeiros (Gênesis 19:4-5). As cidades cananeias que Deus ordenou que os israelitas destruíssem eram tão cruéis que queimavam seus filhos pequenos em sacrifício aos deuses (Deuteronômio 18:10-11) e praticavam incestos, pedofilia, zoofilia e abusos sexuais (Levítico 18:1-18). Ele afirma em várias ocasiões que permitiu que essas cidades fossem destruídas por causa desses pecados (Levítico 18:24-25, Deuteronômio 18:12 e Gênesis 6:13).

      Em terceiro lugar, há muitos textos no Antigo Testamento que deixam bem claro que em cada uma das cidades destruídas Deus ofereceu toda a chance possível para o arrependimento. Nas cidades em que as pessoas se arrependeram, Deus as poupou de destruição, como é o caso da cidade de Nínive, que apresentava 120 mil pessoas (Jonas 3:10 e 4:1-11). Em outras cidades, só algumas poucas pessoas se arrependeram. Deus poupou essas pessoas, como foi o caso da prostituta Raabe, que reconheceu o Deus de Israel como o verdadeiro Deus e protegeu dois israelitas (Josué 6:22-25) e também da família de Ló (Gênesis 19:29).

      Em quarto lugar, Deus expos de modo bem enfático o modo como julga cidades em textos como Gênesis 18:22-33 e Ezequiel 18:21-32. Nesses dois textos, Deus demonstra (1) que odeia destruir cidades, (2) que só faz isso quando a crueldade da cidade já chegou a níveis críticos, (3) que ele não tem prazer na morte do perverso, mas deseja que o perverso se arrependa e viva (4) que se houver pelo menos dez justos em uma cidade ele prefere não destruir a cidade a tirar os justos de lá e destruir só os injustos e, finalmente, (5) que se o perverso se arrepender, Deus não o destrói, mas perdoa. Eu te peço que leia esses dois textos. São muito importantes.

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    3. Em quinto lugar, não existe consenso de que foram cidades civis que foram destruídas. Na verdade, existem algumas indicações no texto bíblico e na arqueologia de que as cidades mencionadas eram fortes militares, acampamentos, vilas e campos abertos. Assim, as mortes teriam sido apenas de soldados em combate.

      Em sexto lugar, guerras eram muito comuns naquela época e lugar. Mais comuns que hoje. Quase tudo se resolvia na base da guerra. E não havia a diplomacia que há nos idas de hoje. Qualquer nação poderia atacar a outra a qualquer momento. Deus “aproveitou” a cultura da época para derramar seus juízos inevitáveis.

      Em sétimo lugar, os homens eram mais brutos antigamente e os pecados mais graves. Isso gera um contexto onde é quase inevitável haver cidades totalmente afundadas em pecados irreversíveis e batalhas muito sangrentas.

      Em oitavo lugar, a Bíblia deixa claro que se as cidades que foram exterminadas não fossem exterminadas, elas sufocariam toda a justiça da região. O caso de Noé é o melhor exemplo. Apenas oito pessoas justas existiam entre todas as pessoas da época. Em pouco tempo esses justos morreriam e a terra ficaria apenas com pessoas injustas.

      Se analisar com honestidade e carinho esses oito pontos, perceberá que não há como acusar Deus de imoral por causa das passagens que você mencionou. E isso é só um resumo. Eu escrevi um livro de 420 páginas sobre o assunto. Posso dizer que sei do que estou falando, rsrs.

      Prossigamos.

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    4. 3) O CONCEITO DE INFERNO

      Você mencionou a “mais famosa das imoralidades divinas”, que é o conceito de inferno. E eu concordo plenamente com você! A ideia de que uma pessoa queimará por toda a eternidade por pecados finitos que cometeu é um completo absurdo! Se Deus realmente fizesse isso, Ele seria um sádico. Concordo com você!

      Felizmente, amigo, o conceito de inferno como um lugar de eterno sofrimento é falso. Embora a maior parte das denominações cristãs acredite nisso, tal conceito não passa de mitologia pagã misturada a passagens mal interpretadas e até mau traduzidas. E não sou eu que estou dizendo isso. A Bíblia deixa claro em diversas passagens que o que ocorre, ao ser humano quando ele morre é que ele simplesmente morre. Cessam neste dia seus pensamentos, sentimentos e desejos. É um sono sem sonhos. Vou deixar aqui com você um texto como exemplo. Existem mais de 20, tanto no Antigo, como no Novo Testamento. O texto está em Eclesiastes 9:5-6 e 10 e diz:

      “Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, porque a sua memória jaz no esquecimento. Amor, ódio e inveja, para eles já pereceram; para sempre não tem eles parte em coisa alguma do que se faz debaixo do sol. [...] Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze conforme as tuas forças, porque no além, para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma”.

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    5. Além disso, a palavra “inferno” não existe na Bíblia. Inferno é uma palavra latina usada para substituir as palavras originais Sheol (hebraico), Hades (Grego) e Geena (Grego). Essas palavras não tem o significado de um lugar onde se queima eternamente. Sheol significa literalmente sepultura, sepulcro ou abismo, em um sentido mais metafórico. Hades, embora fosse usado pelos gregos na mitologia para designar um mundo dos onde os mortos são vivos e sofrem, também poderia assumir o significado de sepultura apenas. De fato, na Septuaginta (primeira tradução grega do Antigo Testamento, feita por judeus cerca de 300 a.C.) a palavra usada para substituir Sheol foi Hades.

      Geena, por fim, era um vale em Jerusalém onde se jogavam lixo e corpos de criminosos. Esse vale fora utilizado em certo período para se queimar crianças ao deus Moloque. Era um vale considerado amaldiçoado por Deus. Ali havia presença contínua de fogo, porque sempre havia lixo para ser consumido. Jesus usou o nome desse vale como uma forma de indicar o destino dos ímpios: iriam para a sepultura e seriam incinerados, deixando de existir para sempre. O Antigo Testamento apresenta várias menções a esse fato, como podemos ler em Malaquias:

      “Pois eis que vem o dia e arde como fornalha; todos os soberbos e todos os que cometem perversidade serão como o restolho; o dia que vem os abrasará, diz o Senhor dos Exércitos, de sorte que não lhes restará nem ramo” (Malaquias 4:1).

      Estou resumindo a questão, claro. Tenho textos nesse blog que falam mais detidamente sobre a questão. Mas tenha em mente que a Bíblia não ensina que há um lugar de tormento eterno. Ela ensina que os ímpios vão morrer para sempre, não restando nada deles. Só isso. Deixarão de existir.

      Você pode perguntar: “Mas por que isso se disseminou?”. Por que a Igreja Cristã após a morte dos apóstolos, começou a deixar que ideias pagãs se mesclassem ao cristianismo, e quando ela se misturou ao Estado romano, ratificou essas ideias e as proliferou. A reforma protestante desmistificou algumas dessas ideias, mas não todas. Felizmente, Deus sempre manteve indivíduos e pequenos grupos de indivíduos que acreditaram nas verdades bíblicas. E hoje há muitos movimentos que apregoam essas verdades. Um deles é a Igreja a qual pertenço. Ela se chama Igreja Adventista do Sétimo Dia e conta hoje com mais de 20 milhões de membros em todo o mundo. Ela possui também uma belíssima obra de amor, tendo colégios e hospitais em mais de 120 países, além de belos projetos sociais como a Adra, que ajuda orfanatos, asilos e pessoas que sofreram por desastres naturais. Aqui no Brasil ela tem o canal Novo Tempo, que tem alcançado muitas pessoas com sua mensagem bíblica. Essa Igreja, meu amigo, influenciará o mundo inteiro. Esteja certo. E todos um dia saberão que Deus não manda ninguém sofrer eternamente em um lago de fogo.

      Prossigamos.

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    6. 4) OS 30% DE CRISTÃOS NA TERRA

      Você menciona que há apenas 30% de cristãos na terra, o que significa que 70% das pessoas do mundo serão torturadas eternamente no inferno. Já demonstrei que a ideia de inferno eterno é mito. Mas será que 70% da população do mundo vai morrer para sempre só porque não aceitou um evangelho que sequer conheceu?

      Bem, a questão não é tão simples como parece. Na Bíblia Jesus afirma que se os cristãos não pregarem o evangelho às pessoas, até as pedras pregarão (Lucas 19:40). É óbvio que isso é uma linguagem simbólica, mas nos ensina que de alguma maneira todas as pessoas do mundo terão possibilidade de aceitarem o verdadeiro Deus, mesmo nunca tendo ouvido o evangelho na vida. Além disso, a Bíblia diz que Deus não leva em conta os tempos de ignorância de uma pessoa (Atos 17:30-31 e I Timóteo 1:13) e que só considera um erro de uma pessoa quando ela sabe que errou (Tiago 4:17). Então, nós podemos estar certos, por meio da Bíblia, que Deus não irá condenar ninguém à morte de modo injusto. Eu poderia dizer várias outras coisas, mas acho que isso basta. Depois posso esmiuçar essa questão em separado, se você quiser.

      Prossigamos.

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    7. 5) A NECESSIDADE DA MORTE DE JESUS

      Você pergunta: “Que Deus moralista é este que exige o sacrifício de seu próprio filho (que aliás, é Ele mesmo) para a expiação dos pecados?”.

      Bom, em primeiro lugar, seu próprio filho é Ele mesmo, como você diz. Então, não pode haver imoralidade aqui, pois Ele está se sacrificando. Não conheço ninguém que considere imoral sacrificar a si mesmo por uma boa causa.

      Agora, realmente, à primeira vista, é muito estranho que Deus tenha que se sacrificar para expiar os pecados dos homens. Como você mesmo diz: “[...] por que simplesmente não perdoar todos os pecados, dos arrependidos, sem exigência nenhuma ou sofrimento de ninguém? Isso sim seria o esperado de um Deus cristão moral, não é mesmo?”.

      Engraçado como são as coisas. Estou há duas semanas produzindo um texto justamente sobre a necessidade da morte de Cristo, onde respondo justamente aos questionamentos que você expos sobre o caso. O que me impediu de terminar até agora foi a falta de tempo. Eu trabalho e faço faculdade. Não me sobra muito tempo ou disposição. Mas como o texto está quase pronto, vou resumir o argumento aqui para você. Quando eu postá-lo, te aviso.

      Por que Deus precisava se sacrificar para nos perdoar? Para responder a essa pergunta, você precisa se lembrar que Deus não é apenas nosso Pai, mas Juiz do Universo. E, uma vez que sua natureza é inerentemente justa (isto é, a justiça é parte de seu próprio Ser), Ele não tem como ser injusto, pois isso contradiria sua própria natureza.

      Aqui está o problema de Deus. Como Pai, seria muito fácil Deus simplesmente perdoar o ser humano de seus pecados. Esse perdão de Pai não requer qualquer sacrifício, mas apenas disposição de perdoar. Agora, como Juiz, Deus não pode simplesmente perdoar, pois a justiça foi ofendida e uma punição precisa ser dada. Se Deus perdoa, sem dar a punição, está sendo um bom Pai, mas um mal juiz.

      Para entender melhor a situação de Deus, imagine a seguinte situação hipotética: um delegado tem um filho. Esse filho é preso em sua delegacia por ter cometido um delito fiançável. Ou seja, se ele pagar a fiança, é liberado da prisão. Mas Ele não tem um centavo para pagar a fiança, cujo valor é muito alto.

      Agora, pense na situação do pai desse rapaz, que também é o delegado. Como Pai, ele foi ofendido pelo filho pelo delito que o mesmo cometeu. Perdoá-lo, como Pai, é fácil. Não requer qualquer punição. No entanto, ele não pode liberar o filho da prisão sem cumprir o requisito da justiça de cobrar a punição. Se esse delegado solta o filho sem cobrar a fiança, estará sendo injusto como Juiz do caso. Por outro lado, o filho não tem condição de pagar a fiança. O que o delegado faz então? Ele mesmo paga a fiança do filho e o solta. Desta forma, Ele perdoa o filho como Pai e como Juiz, sem agir de modo desonesto para com a Justiça. Deus faz exatamente o mesmo. Ele nos perdoa como Pai, ao esquecer a ofensa que cometemos a Ele, mas também nos perdoa como Juiz, pagando nossa dívida, permanecendo assim justo.

      Deus não poderia perdoar o homem sem esse sacrifício em primeiro lugar porque estaria sendo contrário a sua própria natureza de Justo Juiz e, em segundo lugar, porque se perdoasse o homem sem cumprir com o requisito da justiça, daria margem para que Satanás o acusasse de “Juiz Injusto” e acusasse a salvação do ser humano de “salvação inválida”. E Satanás estaria correto nessas afirmações, tal como um promotor estaria correto ao acusar o delegado-pai de ser desonesto ao soltar seu filho da prisão sem arcar com a fiança.

      Aqui abro espaço para um pequeno apelo, amigo. Pense com carinho nisto: se o Deus cristão realmente existe, Ele é tão justo e ao mesmo tempo tão amoroso que preferiu morrer pelo seu pecado em vez de deixar de ser justo ou de deixá-lo condenado a morte. Será que não vale à pena seguir um Deus tão justo e amoroso assim? Apenas pense nisso e abra seu coração para a possibilidade desse Deus existir e te amar de modo tão profundo.

      Prossigamos.

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    8. 6) DILEMAS MORAIS

      Sobre os dilemas morais, eles de forma alguma depõem contra a existência de uma moral objetiva. Pelo contrário, eles reafirmam sua existência. Cito um trecho interessantíssimo do livro: “Não tenho fé suficiente para ser ateu”, de Norman Geisler e Frank Turek:

      “Considere o dilema moral freqüentemente usado pelos professores universitários para fazer seus alunos acreditarem no relativismo. Existem cinco pessoas tentando sobreviver em um bote salva-vidas projetado para levar apenas quatro pessoas. Se uma pessoa não for jogada ao mar, todos morrerão. Os alunos discutem o dilema, propõem diferentes soluções e, então, concluem que seu desacordo prova que a moralidade deve ser relativa. Mas, na verdade, o dilema prova o oposto — que a moralidade é absoluta. Como? Porque não haveria dilema algum se a moralidade fosse relativa! Se a moralidade fosse relativa e se não houvesse direito absoluto à vida, você diria: ‘Não importa o que vai acontecer! Jogue qualquer um fora do barco! Quem se importa?’. A razão pela qual lutamos com o dilema é que conhecemos o valor da vida.

      “Embora as pessoas possam fazer confusão com a moralidade em situações complicadas, não erram nas básicas. Por exemplo: todo mundo sabe que o homicídio é errado. E Hitler sabia disso. É por isso que teve de desumanizar os judeus com o objetivo de racionalizar o assassínio deles” (GEISLER, Norman; TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu. São Paulo: Editora Vida Acadêmica, p. 122).

      Dilemas morais apenas demonstram que nesse mundo manchado pelo pecado, muitas vezes nos encontraremos em situações onde todas as opções são ruins ou até mesmo iguais. Mas esses dilemas só existem porque existem valores morais. Assim, ficamos na dúvida quando eles entram em conflito ou quando precisamos escolher entre duas ou mais opções que são imorais. Se não houvesse moral objetiva, essas dúvidas e conflitos não existiriam. Simplesmente faríamos qualquer coisa e sequer haveria debate.

      Se não houvesse moral objetiva, a postura universal provável seria essa: Abortar ou não abortar? Tanto faz. Quem se importa? Matar uma vida ou não para ajudar outras? Tanto faz. Quem se importa? Mentir para proteger uma pessoa da morte ou dizer a verdade e deixar a pessoa morrer? Tanto faz. Quem se importa. E por aí vai. Mas se há debate sobre isso é porque ambos os lados acredita em uma moral objetiva, só que a interpreta de modos diferentes em determinadas ocasiões.

      A própria Bíblia tem exemplos de conflitos morais. Por exemplo, a já mencionada prostituta Raabe, que foi salva pelos israelitas na destruição de sua cidade. Ela foi salva porque protegeu dois israelitas de serem presos e mortos pelo exército de sua cidade. Mas fez isso escondendo os dois em sua casa e mentindo, ao dizer que não eles não estavam ali. Há um conflito moral neste caso: Contar a verdade e acabar fazendo morrer homens justos ou protegê-los, mas ter que mentir para isso? Em um caso desses, a pessoa vai precisar escolher entre duas atitudes imorais. Escolherá a que terá os efeitos menos negativos. Deus entende isso, assim como entende que você às vezes precisará matar uma pessoa para não morrer. Infelizmente, enquanto vivermos nesse mundo de pecado, essas situações tristes existirão.

      Mas Deus promete, meu amigo, que um dia virá a este mundo e acabará com toda a dor e sofrimento. Não mais existirá morte, nem fome, nem violência, nem mentiras, nem pecados, nem conflitos morais. Esta terra será renovada e todos nós viveremos felizes, como temos sonhado hoje. Sabe o que Ele está esperando para fazer isso, meu amado amigo anônimo? Ele está esperando pessoas como você para aceitá-lo. Porque para alguém que escolheu morrer para te dar oportunidade de salvação, não poder te dar um abraço apertado de boas vindas ao novo mundo é algo desesperador.

      Espero que você volte para comentar essas respostas que lhe ofereci e lançar outros questionamentos interessantes como estes. Estarei orando por você.

      Abraços.

      Seu amigo Davi Caldas.

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  4. “Em primeiro lugar, se o Deus cristão realmente existe Ele é o dono da vida. Ele criou a vida e a condição de vivermos. Ora, não é imoral o dono de algo destruir esse algo. Se eu criei e as escrevi em um caderno meu, tenho todo o direito de jogar esses cadernos fora. Seria imoral eu jogar fora os cadernos e as poesias de outras pessoas. Mas os meus eu posso. Então, não é imoral Deus tomar de volta as vidas que nos deu.”

    Também achei interessante que você tenha usado essa metáfora.Afinal de contas,os cristãos dizem que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança,com moral objetiva, consciência,individualismo,liberdade de escolha,etc. E agora,você mesmo acaba de nos comparar a meros rabiscos e poemas em um caderno(ou seja,elementos sem vida,moral,sentimentos,consciência,etc.),bem ao contrário do que são as pessoas.

    Já pensou um pai que assassinou os filhos dizendo isso numa delegacia: “Eu sou o dono da vida dos meus filhos.Criei a vida deles e a condição para que vivessem.Ora,não é imoral o dono de algo destruir esse algo. Se eu os criei numa casa minha,tenho todo o direito de matá-los.Seria imoral eu matar os filhos das outras pessoas.Mas os meus eu posso.Então, não é imoral para um pai matar as vidas que ele deu”.

    Por acaso,é a mesma coisa?

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  5. Nos lugares (3),(4),(5),(6),(7) e (8),assim como o Craig,você simplesmente engole o sapo de,repetindo o que eu falei antes,concordar com a posição aparentemente absurda de que até mesmo as maiores atrocidades podem ser não somente aceitáveis mas também moralmente necessárias caso Deus as ordene.Duvido que,no fundo,você realmente ache certo Deus dizimar essas cidades inteiras.

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  6. Quanto a essa questão de que o inferno não existe,devo confessar que essa é uma novidade para mim.Nunca tinha ouvido falar de alguma denominação cristã que rejeitasse o conceito de inferno,mas falasse num “sono sem sonhos”.Mas,se isso for verdade mesmo,então,isso me desestimularia ainda mais a me converter ao cristianismo,
    pois a visão da morte no ateísmo é exatamente a mesma:um sono profundo,instantâneo,
    sem sonhos ou retorno.E sendo absolutamente sincero,qual é o problema de dormir para sempre? Assim, não vejo porque,em qualquer caso,não seguir a cristo seria algo temível,se um não-crente vai dormir de qualquer forma. O momento da morte é que pode não ser agradável, mas logo passa e acaba tudo. Quem sabe não é até gostoso?

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  7. “Você menciona que há apenas 30% de cristãos na terra, o que significa que 70% das pessoas do mundo serão torturadas eternamente no inferno. Já demonstrei que a ideia de inferno eterno é mito. Mas será que 70% da população do mundo vai morrer para sempre só porque não aceitou um evangelho que sequer conheceu?

    Bem, a questão não é tão simples como parece. Na Bíblia Jesus afirma que se os cristãos não pregarem o evangelho às pessoas, até as pedras pregarão (Lucas 19:40). É óbvio que isso é uma linguagem simbólica, mas nos ensina que de alguma maneira todas as pessoas do mundo terão possibilidade de aceitarem o verdadeiro Deus, mesmo nunca tendo ouvido o evangelho na vida. Além disso, a Bíblia diz que Deus não leva em conta os tempos de ignorância de uma pessoa (Atos 17:30-31 e I Timóteo 1:13) e que só considera um erro de uma pessoa quando ela sabe que errou (Tiago 4:17). Então, nós podemos estar certos, por meio da Bíblia, que Deus não irá condenar ninguém à morte de modo injusto. Eu poderia dizer várias outras coisas, mas acho que isso basta. Depois posso esmiuçar essa questão em separado, se você quiser.”

    Eu adoraria,já que você não deu uma resposta muito clara…no começo diz que seguir o evangelho é essencial para ter vida eterna,mas depois diz que essas pessoas que
    desconhecem-no não serão condenadas injustamente. Se puder explicar melhor,gostaria muito de saber.

    Também é interessante pensar nessa questão sob uma perspectiva histórica.De acordo com o novo testamento,seguir Jesus é o único caminho para a salvação.Mas o que dizer das centenas,milhares ou talvez até milhões de pessoas que não puderam ser cristãs simplesmente porque viveram a vida inteira antes da própria existência de Cristo?
    Quer dizer,se Deus realmente existe e quer a salvação da humanidade,não deveria ter colocado Jesus desde o início,para que toda pessoa,sem exceção,pudesse ter a oportunidade de segui-lo?

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  8. Um outro problema moral que eu vejo na questão da morte de Jesus,é que,na verdade, não houve pecado original nenhum, pois a humanidade não foi criada nas figuras de Adão e Eva, mas evoluíram de seus ancestrais, não havendo um "primeiro ser humano”. Cientificamente falando,nunca houve um ser que pudesse ser chamado de “primeiro homem” ou “primeira mulher”. Então de que Jesus estaria redimindo a humanidade? Além do mais, mesmo que tivesse havido Adão e Eva, o pecado foi deles e não de sua descendência. Castigar a humanidade inteira por isso é uma injustiça divina,não concorda? Sem falar que,de acordo com a Bíblia,Adão e Eva não tinham consciência do bem e do mal,ou seja,eles mesmos não possuíam moral objetiva,ou pelo menos,até comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal,ao serem instigados por Satanás.Se a moral objetiva é uma conseqüência do pecado original,então,isso quer dizer que a moral vem do diabo,e não de Deus?

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  9. “Se não houvesse moral objetiva, a postura universal provável seria essa: Abortar ou não abortar? Tanto faz. Quem se importa? Matar uma vida ou não para ajudar outras? Tanto faz. Quem se importa? Mentir para proteger uma pessoa da morte ou dizer a verdade e deixar a pessoa morrer? Tanto faz. Quem se importa. E por aí vai. Mas se há debate sobre isso é porque ambos os lados acredita em uma moral objetiva, só que a interpreta de modos diferentes em determinadas ocasiões.

    A própria Bíblia tem exemplos de conflitos morais. Por exemplo, a já mencionada prostituta Raabe, que foi salva pelos israelitas na destruição de sua cidade. Ela foi salva porque protegeu dois israelitas de serem presos e mortos pelo exército de sua cidade. Mas fez isso escondendo os dois em sua casa e mentindo, ao dizer que não eles não estavam ali. Há um conflito moral neste caso: Contar a verdade e acabar fazendo morrer homens justos ou protegê-los, mas ter que mentir para isso? Em um caso desses, a pessoa vai precisar escolher entre duas atitudes imorais. Escolherá a que terá os efeitos menos negativos. Deus entende isso, assim como entende que você às vezes precisará matar uma pessoa para não morrer. Infelizmente, enquanto vivermos nesse mundo de pecado, essas situações tristes existirão.”

    Mas ao fim desses debates,uma visão prevalecerá,e será adotada,para sempre,como padrão pela sociedade - em detrimento de uma outra,que será descartada para sempre.
    Então,nós podemos dizer que existem morais que podem ser consideradas mais objetivas do que as outras? E se sim, por que um Deus colocaria níveis diferentes de objetividade moral nos seres humanos, ao invés de uma moral objetiva absoluta? Não parece fazer sentido, não é mesmo? Além disso,repetindo o que eu falei antes,se os dilemas morais são uma conseqüência do pecado original-que,no fundo,não existiu-então,é injusto que Deus culpe milhões de pessoas inocentes por um ato que elas mesmas não foram responsáveis.

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    1. Vamos lá amigão. Vou responder seus questionamentos. Serão 12 (doze) tópicos.

      (1) NOVAMENTE O DILEMA DE EUTIFRON

      “Da mesma forma que, se Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, os valores morais vêm de Deus por que Deus é moral, sendo a moral uma parte de Deus, sendo Deus a fonte da moral. Então, tentar refutar o Dilema de Eutífron dizendo que Deus é moral é cair de novo na segunda premissa”.

      Não. Você está equivocado. O dilema de Eutifron propõe duas opções: (1) ou a moral é independente de Deus ou (2) a moral é arbitrária, pois depende meramente de desejos e gostos arbitrários de Deus. Eu mostrei que há uma terceira opção: (3) a moral faz parte da própria natureza de Deus. Deste modo, ela não é nem independente de Deus, nem é fruto de meros desejos arbitrários. A analogia do coração que fiz foi para ajuda-lo a entender isso. O coração que você tem não é independente de você, tampouco é meramente um desejo arbitrário seu. Ele é parte do seu ser. A analogia pode não ser perfeita, mas a função das analogias não é se encaixar perfeitamente à realidade, mas apenas enfatizar algo da realidade de maneira mais prática através de uma comparação.

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    2. (2) A MINHA METÁFORA DOS POEMAS E DAS FOLHAS

      “Também achei interessante que você tenha usado essa metáfora. Afinal de contas, os cristãos dizem que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, com moral objetiva, consciência, individualismo, liberdade de escolha, etc. E agora, você mesmo acaba de nos comparar a meros rabiscos e poemas em um caderno (ou seja, elementos sem vida, moral, sentimentos, consciência, etc.), bem ao contrário do que são as pessoas”.

      Usei essa metáfora porque foi a que achei mais próxima da ideia de o homem “criar” alguma coisa. Quis mostrar que quando “criamos” algo, nós somos seus donos. A ideia não foi comparar vidas a textos e pedaços de papel.

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    3. (3) A SUA METÁFORA DO PAI HUMANO MATANDO SEUS FILHOS

      “Já pensou um pai que assassinou os filhos dizendo isso numa delegacia: ‘Eu sou o dono da vida dos meus filhos. Criei a vida deles e a condição para que vivessem. Ora, não é imoral o dono de algo destruir esse algo. Se eu os criei numa casa minha, tenho todo o direito de matá-los. Seria imoral eu matar os filhos das outras pessoas. Mas os meus eu posso. Então, não é imoral para um pai matar as vidas que ele deu”.

      Seu raciocínio está totalmente errado. Em primeiro lugar, nenhum pai é dono da vida de seus filhos. Você sabe disso. Humanamente falando cada pessoa é dona de sua própria vida. Um pai humano é apenas um tutor, isto é, alguém que irá cuidar de seu filho até que ele possa atingir idade para cuidar sozinho de si mesmo. Ainda assim, a vida de um filho pertence ao próprio filho e a mais ninguém. O mesmo vale para qualquer grau de parentesco entre humanos.

      Em segundo lugar, nenhum pai cria seus filhos no mesmo sentido em que Deus criou o universo e o atributo da vida humana. Um homem, ao produzir um filho através de uma relação sexual, está sendo tão-somente um meio através do qual o atributo da vida está sendo oferecido a um novo ser humano. Esse pai humano não criou o atributo da vida humana, que já existia muito antes dele mesmo nascer. Ele não foi o idealizador e a causa primária e única do atributo da vida humana, tampouco o idealizador e a causa primária e única da vida de seus filhos. Esse pai humano é tão limitado, aliás, que quando ele ficar velho não poderá ter mais filhos. Se sofrer um acidente ou tiver uma doença também pode não ser mais capaz disso. Pior: mesmo saudável, ele não tem como fazer filhos sozinho. Ele precisa se relacionar com uma mulher. Então, não faz o menor sentido chama-lo de criador no mesmo sentido de que Deus o é. Ele é tão-somente um tutor de crianças. Humanamente falando a vida delas pertence a elas mesmas. A obrigação dele é torná-las aptas para cuidarem de suas próprias vidas quando tiverem idade para tal, assim como um dia ocorreu com ele mesmo.

      Desculpe dizer, mas sua comparação é esdrúxula.

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    4. (4) CRIMES IMPOSSÍVEIS DE SEREM PRATICADOS PELO CRIADOR

      “Nos lugares (3), (4), (5), (6), (7) e (8), assim como o Craig, você simplesmente engole o sapo de, repetindo o que eu falei antes, concordar com a posição aparentemente absurda de que até mesmo as maiores atrocidades podem ser não somente aceitáveis mas também moralmente necessárias caso Deus as ordene. Duvido que, no fundo, você realmente ache certo Deus dizimar essas cidades inteiras”.

      Uma das maiores falhas lógicas que ateus cometem quando tentam julgar Deus como sendo cruel e assassino é a de acharem que como a moral faz parte do próprio Deus, Deus tem a mesma relação com a moral que nós, humanos, temos. Assim, Ele pode fazer as mesmas coisas que nós e o que é errado para o ser humano, necessariamente é errado para Deus. Isso é um erro crasso de lógica. Deus, na posição de Criador do Universo, tem uma relação diferente com a moral. Por exemplo, o ser humano tem como roubar, embora seja errado. Deus não tem como roubar, pois todas as coisas lhe pertencem. Deus também não tem como cobiçar algo, pois todas as coisas lhe pertencem. São atitudes simplesmente impossíveis de Deus cometer. Dizer que Deus poderia roubar ou cobiçar é a mesma coisa que dizer que um homem poderia ter câncer de mama e uma mulher câncer de próstata. É impossível.

      Da mesma forma, dizer que Deus é um assassino quando tira ou manda tirar a vida de alguém é um absurdo. Assassino é, por definição, aquele que tira uma vida que não lhe pertence. É por isso que assassinar é errado, pois estamos roubando uma vida, tomando de uma pessoa algo que não é nosso. Mas esse não é o caso de Deus. Ele é o dono de todas as vidas. Foi Ele o idealizador e a causa primária e única do atributo da vida humana. Na realidade, nada do que temos nos pertence. Sequer a nossa própria vida. Somos apenas tutores de nós mesmos, não donos (embora Deus nos permita agir como donos na maior parte das vezes). Racionalmente falando, meu amigo, não há nada aqui que incrimine Deus. Não tem como Deus cometer assassinato. Quando Ele tira uma vida está simplesmente requerendo aquilo que é seu para si novamente. Qualquer reclamação aqui é emocionalismo.

      Agora, é curioso que mesmo Deus tendo todo o direito de tirar qualquer vida que quiser, a maioria esmagadora das pessoas que vemos ser mortas na Bíblia são descritas como sendo enormemente perversas. A Bíblia menciona povos que queimavam seus filhos pequenos para oferecer a deuses e que faziam do estupro um estilo de vida. Isso é uma evidência forte de que Deus prefere não usar o seu DIREITO de tirar (ou mandar tirar) vidas e que só o faz em determinadas circunstâncias drásticas e muito específicas. Também falo sobre isso em meu livro, aliás.

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    5. (5) MEU ESPANTO DIANTE DA SUA NECESSIDADE DO CONCEITO DE INFERNO ETERNO

      “Quanto a essa questão de que o inferno não existe, devo confessar que essa é uma novidade para mim. Nunca tinha ouvido falar de alguma denominação cristã que rejeitasse o conceito de inferno, mas falasse num “sono sem sonhos”. Mas, se isso for verdade mesmo, então, isso me desestimularia ainda mais a me converter ao cristianismo, pois a visão da morte no ateísmo é exatamente a mesma: um sono profundo, instantâneo, sem sonhos ou retorno. E sendo absolutamente sincero, qual é o problema de dormir para sempre? Assim, não vejo porque, em qualquer caso, não seguir a cristo seria algo temível, se um não-crente vai dormir de qualquer forma. O momento da morte é que pode não ser agradável, mas logo passa e acaba tudo. Quem sabe não é até gostoso?”

      Seu comentário me soa estranho. Me parece que você se sentiu triste ao descobrir que a Bíblia não ensina o conceito de inferno eterno. Parece que você queria um cristianismo que pregasse um Deus malévolo, que obrigasse as pessoas a servi-lo ameaçando-as com terríveis tormentos sem fim. Sinto frustrá-lo, amigo, mas Deus não tem o mínimo interesse em fazer com que as pessoas o sigam por medo. Ele quer que as pessoas o sigam porque o amam e porque querem viver com ele e outras pessoas amadas em uma nova terra sem sofrimentos e pecados. Se você não tem esse desejo, Ele simplesmente vai respeitar sua opinião e riscá-lo da existência. Não há necessidade de um inferno para “estimular” o não-crente a seguir a Cristo. Se você pensa no inferno como um estimulo para seguir a Cristo, meu amigo, é porque você ainda não entendeu nada sobre o que é amor. Confesso que nunca pensei que veria um ateu vendo o inferno com tanta simpatia quanto você. Realmente é muito estranho.

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    6. (6) O JULGAMENTO DE DEUS

      “Eu adoraria, já que você não deu uma resposta muito clara… no começo diz que seguir o evangelho é essencial para ter vida eterna, mas depois diz que essas pessoas que desconhecem-no não serão condenadas injustamente. Se puder explicar melhor, gostaria muito de saber.
      “Também é interessante pensar nessa questão sob uma perspectiva histórica. De acordo com o novo testamento, seguir Jesus é o único caminho para a salvação. Mas o que dizer das centenas, milhares ou talvez até milhões de pessoas que não puderam ser cristãs simplesmente porque viveram a vida inteira antes da própria existência de Cristo? Quer dizer, se Deus realmente existe e quer a salvação da humanidade, não deveria ter colocado Jesus desde o início, para que toda pessoa, sem exceção, pudesse ter a oportunidade de segui-lo?”.

      Posso explica-lo sim com muito prazer. Na verdade, o que é imprescindível para a salvação do ser humano é o sacrifício de Jesus. Aqueles que nasceram antes da vinda de Jesus só foram salvos por causa do sacrifício de Cristo. Mas o benefício do sacrifício de Cristo foram alcançados por eles através da (1) crença no Deus Criador, (2) na crença de que o ser humano é pecador e precisa da ajuda desse Deus, (3) na crença de que esse Deus Criador é moral e deseja que nós nos esforçamos para sê-lo e, finalmente, (4) numa vida em conformidade com essas crenças.

      Tais crenças são crenças básicas e qualquer pessoa pode chegar a estas conclusões sem nunca ter lido a Bíblia ou ouvido falar de Jesus. De fato, a Bíblia tem diversos exemplos de homens que viveram antes de Cristo e foram salvos por conta dessas crenças. Eles nunca conheceram a Cristo, mas o benefício do sacrifício dele lhes alcançou por causa dessas crenças. O apóstolo Paulo discursa sobre esse assunto na epístola aos Romanos, nos capítulos 1 e 2, onde fala que há duas coisas que todo homem tem plena condição de conhecer sozinho: a existência do Criador e a moral. Os homens que só tiveram condições de conhecer isso serão julgados com base nisso.

      Então, entendemos que o julgamento de Deus vai variar muito de caso para caso. Ele terá que averiguar a quanto de informação cada pessoa conheceu ou teve oportunidade de conhecer, como ela se portou diante dessas informações e, no caso de ela nunca ter ouvido o evangelho, se essa pessoa aceitaria caso tivesse ouvido. É um julgamento extremamente individual. Por isso, não tenho como apontar quem vai ser salvo e quem não vai.

      Aí você pode perguntar: “Mas, então, se uma pessoa pode ser salva sem conhecer o evangelho, para que devemos pregar o evangelho?”. Há muitas razões. Posso mencionar rapidamente algumas: (1) Deus sabe que há pessoas que só se converterão se ouvirem o evangelho. Assim, cada pessoa que se encontra nessa condição Deus terá que designar alguém para pregar a ela; (2) Jesus afirma que a verdade tem o poder de libertar. De fato, a verdade do evangelho dá mais condição para a pessoa ser melhor espiritualmente e mais poder para ela trabalhar mais em prol do evangelho; (3) a verdade é um bem em si e Deus deseja que todas as pessoas a conheçam em sua plenitude. Assim, é obrigação do cristão disseminar essa verdade.

      Haveria ainda muitas coisas para falar, mas não dá para se estender muito aqui e também não tenho esse tempo todo disponível. Mas tenha em mente que, sendo Deus onisciente, Ele pode criar vários arranjos para dar oportunidade a cada pessoa. Eu citei alguns. Há muitos outros que só não menciono por falta de tempo, como já dito. Uma coisa é certa: ninguém no final vai poder dizer que se perdeu porque não teve chance. A Bíblia é claríssima sobre isso e exemplos não faltam para nos dar uma noção do julgamento que Deus efetua.

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    7. (7) CADA INDIVÍDUO É RESPONSÁVEL PELO SEU PRÓPRIO PECADO

      “Um outro problema moral que eu vejo na questão da morte de Jesus, é que, na verdade, não houve pecado original nenhum, pois a humanidade não foi criada nas figuras de Adão e Eva, mas evoluíram de seus ancestrais, não havendo um "primeiro ser humano”. Cientificamente falando, nunca houve um ser que pudesse ser chamado de “primeiro homem” ou “primeira mulher”. Então de que Jesus estaria redimindo a humanidade?”.

      Muitos escritores como, por exemplo, o clássico C. S. Lewis e o famoso geneticista Francis Collins sustentam que a história da criação é uma parábola, uma história mítica explicativa, usada para enfatizar algumas verdades básicas como a de que Deus é a Causa Primária da vida e a de que a espécie humana após a conquista da moralidade e da razão escolheu deliberadamente se tornar pecadora. Indico para você a leitura de “O Problema do Sofrimento”, de Lewis e “A Linguagem de Deus”, de Collins.

      Este fato – a humanidade escolheu desobedecer a Deus – é perfeitamente observável, não sendo sequer necessário Bíblia para isso. Desde as épocas mais remotas o homem mata por motivos torpes, rouba, tortura, estupra, abusa, explora, mente, engana, cobiça, inveja, nutre mágoa, nega perdão, odeia, despreza verdades, dá mais valor a ganhar um debate do que analisar honestamente argumentos contrários, adultera, oprime, trata os outros como objetos, se embebeda, destrói a natureza, cria deuses permissivos aos seus vícios, se droga, destrói seu próprio corpo, desobedece aos pais, desvia verba, cola na prova, pratica bullying no colégio, é injusto, é cruel, acha que errar é normal, acha que não precisa de Deus, é arrogante, é instável e etc. Não conheço uma única pessoa que jamais tenha cometido um erro. Foram desses erros que Jesus redimiu a humanidade.

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    8. (8) DEUS NÃO CASTIGOU NINGUÉM

      “Além do mais, mesmo que tivesse havido Adão e Eva, o pecado foi deles e não de sua descendência. Castigar a humanidade inteira por isso é uma injustiça divina, não concorda?”

      Deus não castigou a humanidade inteira. Quem castigou a humanidade inteira foram os próprios homens. Nascemos fadados à morte eterna não por causa do erro dos outros, mas por causa de nossos próprios erros; os erros que cometemos com toda a consciência simplesmente porque queremos cometer. Tanto é que a Bíblia não condena crianças que morrem. O Reino de Deus já é das crianças. Jesus deixou isso claro.

      A própria humanidade se castigou desde o início, e continua se castigando cada vez que um dos indivíduos que a compõe resolve cometer um pecado. O que Deus fez, bem ao contrário de castigar, foi se sacrificar para nos libertar dos erros que cada um de nós escolheu cometer. Cada um responde pelos seus próprios pecados, pela sua própria teimosia, pela sua própria escolha.

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    9. (9) ADÃO E EVA SABIAM O QUE ERA O MAL

      “Sem falar que, de acordo com a Bíblia, Adão e Eva não tinham consciência do bem e do mal, ou seja, eles mesmos não possuíam moral objetiva, ou pelo menos, até comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, ao serem instigados por Satanás. Se a moral objetiva é uma consequência do pecado original, então, isso quer dizer que a moral vem do diabo, e não de Deus?”.

      Na verdade, amigo, a Bíblia diz que Adão e Eva não tinham conhecimento do mal. A palavra conhecimento pode ser usada em vários sentidos diferentes. Por exemplo, em certo sentido eu posso dizer que tenho um conhecimento de cirurgia médica. Se alguém me perguntar, saberei explicar do que se trata, para que pode servir e quando costuma a ocorrer. Uma criança de dois anos não tem conhecimento algum sobre isso. Se você perguntá-la, ela provavelmente dirá: “Não sei o que é isso”.

      Mas em outro sentido não tenho conhecimento algum de cirurgia médica. Afinal, eu não sei fazer nenhuma, nem entendo o que os médicos fazem em cada cirurgia. Não sou médico. Não estudei medicina.

      O que a Bíblia tenta expressar no curto relato de Adão e Eva é que eles não tinham o conhecimento do mal no sentido de nunca terem visto, nem experimentado o mal, tampouco tinham ideia de até onde a maldade poderia chegar. Mas eles sabiam o que era o mal conceitualmente.

      Tenho um irmão pequeno. Ele nunca viu uma pessoa morta na vida real. E até pouco tempo nunca tinha visto uma pessoa morta na TV. Ele também nunca experimentou a dor de ter perdido uma pessoa amada ou um animal de estimação. Em certo sentido, ele não conhece a morte. Mas, desde bem menor, ele já a conhecia conceitualmente. Sabia que a morte é uma espécie de sono. A pessoa fecha os olhos e não acorda mais. E fica parada lá. E não levanta. E todos um dia passarão por isso. Explicamos isso a ele. E ele, naturalmente e por conta própria concluiu que a morte era algo ruim. E quando viu uma pessoa “morta” na televisão pela primeira vez afirmou: “Ela morreu”. Ou seja, ele já sabia o que era morte e mesmo não tendo passado jamais pela experiência de perder alguém querido ou de ver alguém morrer, ele sabe o que é a morte.

      No sentido conceitual, Adão e Eva sabiam o que era pecado, o que era certo e errado, o que era morte. Eles apenas nunca tinham visto e experimentado o pecado. Além do mais, eles eram adultos e não crianças. E, dado o fato de que eram perfeitos, deviam ter um raciocínio muito melhor que o nosso. Além do mais, eles amavam a Deus. Se você soma todos esses fatores, chega à conclusão de que eles podem ser responsabilizados pelo seu ato. Deus os criou com essa capacidade.

      Entendendo a história como parábola (se você assim prefere), a Bíblia quer dizer com isso que os primeiros seres humanos pecaram com toda a consciência do que estavam fazendo. E que todos os demais até o dia de hoje pecam com toda a consciência. Sabem que é errado, mas preferem fazer.

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    10. (10) NOVAMENTE OS CONFLITOS MORAIS

      “Mas ao fim desses debates, uma visão prevalecerá, e será adotada, para sempre, como padrão pela sociedade - em detrimento de uma outra, que será descartada para sempre. Então, nós podemos dizer que existem morais que podem ser consideradas mais objetivas do que as outras? E se sim, por que um Deus colocaria níveis diferentes de objetividade moral nos seres humanos, ao invés de uma moral objetiva absoluta? Não parece fazer sentido, não é mesmo?”.

      Em situações da vida cotidiana, geralmente os dilemas morais apresentam uma resposta diferente a depender da ocasião. E geralmente sabemos distinguir qual é a melhor resposta em cada situação. Foi o caso de Raabe que percebeu que era menos pior mentir do que dizer a verdade e condenar homens de Deus à morte. Na segunda guerra mundial, muitos alemães piedosos falsificaram documentos para salvar judeus da morte. Falsificar documentos é errado, mas deixar que milhares de vidas morram injustamente é muito mais. Se só há essas duas opções, deve-se escolher a menos pior. Deus não vai condenar ninguém por isso.

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    11. Agora, note que esses dilemas não foram criados por Deus. Foram proporcionados pelos próprios homens. Se os nazistas não tivessem adotado o irracional antissemitismo e escolhido exterminar judeus, nenhum alemão piedoso precisaria ter que falsificar documentos para salvá-los. Não foi Deus que impôs esse dilema. Aliás, nem mesmo foi o pecado original que impôs esse dilema. Esse dilema foi imposto pelos nazistas porque os nazistas escolheram assim. Não há porque culpar a outros. Se eu mato uma pessoa por motivo torpe, o culpado sou eu, não meus pais, avós, bisavós e Deus.

      Dilemas em relação a políticas públicas também apresentam respostas. Mas Deus está mais interessado no que você faz a nível pessoal do que como estão as leis civis de onde você mora. Então, se há o certo em um dilema moral, Deus simplesmente quer que você faça. Se sua sociedade escolhe criar uma legislação que admite um erro moral, isso não altera sua obrigação pessoal, tampouco preocupa mais a Deus do que o que você está fazendo individualmente. Vamos ser mais diretos e dar um exemplo.

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    12. Aborto. O grande debate sobre o aborto diz respeito a quando se inicia a vida humana. Geralmente os abortistas dizem que não há uma vida humana no ventre da mãe antes dos cinco meses de idade. Outros dizem que até há uma vida, mas que ela não tem personalidade. Assim, eles acham que abortar é apenas jogar fora um emaranhado de células que ainda não forma uma pessoa. Quem é cristão e conhece bem a Bíblia sabe que a Bíblia considera que até o feto é uma pessoa, embora não totalmente formada. Assim, abortar é assassinar uma pessoa inocente.

      Se a Bíblia realmente está certa, então o correto é não abortar. Mas é óbvio que uma sociedade não deve discutir legislativamente a questão com base em religião. Então, se vai para o campo da ciência e etc. Mas o que a sociedade civil decidirá no final não importa tanto para Deus como o que as pessoas farão em suas vidas pessoais. Se eu sou cristão e mesmo morando em um país onde o aborto é legal, eu escolho não fazer um aborto, estou quite com Deus. Aqui o dilema só existe a nível legislativo. Moralmente falando o cristão sabe o que deve fazer e só precisa fazê-lo, independente do que sua sociedade faz ou deixa de fazer. Tenha algo em mente, amigo: o interesse de Deus não está em governos e países, mas em indivíduos. E ele não tem interesse nesse mundo cheio de problemas. Fará outro. O desejo dele é levar o máximo de pessoas para lá. Mas só quem realmente quer. Quem prefere o pecado, que arque com as consequências do pecado.

      Um adendo: se todos as pessoas fossem cristãs e perfeitas não existiria qualquer dilema moral. As pessoas não são cristãs e perfeitas porque escolhem deliberadamente não serem cristãs e perfeitas. Escolhem deliberadamente não andarem com Deus. Então, como você pode dizer que Deus criou os dilemas morais? Todo dilema moral é criado pelo ser humano.

      Pense nisso: uma mulher que resolve sair com um monte de homem. Numa dessa, engravida sem querer de um desses caras e o pai some no mundo e não assume a criança. Aí ela quer abortar. Abortar ou não abortar? Foi Deus que criou esse dilema, amigo? Não. Foi primeiramente ela mesma. Se ela não tivesse transado com um monte de homem, mas tivesse procurado conhecer um homem confiável e esperado para firmar um casamento com ele, isso não teria ocorrido. Foi também culpa do pai, que trata as mulheres como objeto de diversão e que ainda por cima não assumiu a criança. Se ele não transasse com um monte de mulher por diversão, mas procurasse uma mulher confiável para firmar um casamento com ela, isso não ocorreria. Se ele, ao menos fosse homem suficiente para assumir que errou e ajudar a mulher que engravidou, isso não ocorreria.

      Aí o incrédulo reclama dos problemas desse mundo, que são causados pelos pecados de cada ser humano. Mas ele mesmo não quer deixar de cometer seus pecados, nem aceitar a Deus, que deseja há tanto tempo criar um novo mundo só com pessoas que decidiram andar com Ele e não mais pecar. Isso não é coadunar com a manutenção de todas as injustiças? Reclamar com quem tem a solução, mas não querer aceitar a solução não é algo ilógico e injusto? Não é um pecado também?

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    13. (11) UMA DÚVIDA MINHA: QUAL SUA MOTIVAÇÃO?

      Finalmente, gostaria de dizer algo. Espero que não se ofenda com o que vou falar, mas tenho quase certeza que você é uma pessoa hostil a Deus, ao cristianismo e a Bíblia. Eu estou quase certo que sua hostilidade é tão grande que você não está interessado em aprender mais, em descobrir se há respostas para seus questionamentos, em entender melhor das crenças que não sustenta e saber se elas fazem sentido ou se não fazem. Há várias indicações disso nos seus comentários, embora você tenha mantido uma postura educada e seus questionamentos tenham sido bons (e eu o elogio por isso).

      Posso citar alguns exemplos, amigo. Você afirma, entre outras coisas, que não tem nenhum estímulo para seguir a Cristo e deixa implícito que mesmo que ele exista no fim das contas, você não se importa de morrer. Eu poderia dizer que isso é indiferença. Mas não é. Porque uma pessoa meramente indiferente não gastaria seu tempo entrando em um site de temas cristãos para debater. Quem faz isso é quem tem interesse. Então, você tem interesse em assuntos cristãos, mas não para aprender ou descobrir se é verdade e sim porque você é hostil. Um ateu indiferente é tão indiferente à questões religiosas que até “esquece” que é ateu. Ele simplesmente não acredita, mas não tem o menor interesse em entrar em sites religiosos para debater este assunto. Também não está nem aí para se alguém crê ou não. Mas você não é indiferente. Você é hostil. Você nutre ódio.

      Eu não acredito em extra-terrestres que andam em discos voadores pela terra. Há muita gente que acredita e que diz já ter visto um. Mas eu sou tão indiferente a isso que nunca na minha vida entrei em um site para debater sobre isso. Tenho amigos que creem nisso, mas jamais tive interesse em fazê-los deixar de acreditar. Raramente penso ou falo sobre o tema. O mesmo se dá em outras questões como horóscopo, mau-olhado, “dá azar passar por debaixo da escada”, “o homem nunca foi à lua” e etc. Sou indiferente.

      Se eu fosse ateu, provavelmente, seria indiferente. Afinal, para quê ficar debatendo sobre algo que não existe e que não me afeta em absolutamente nada? Como ser hostil a algo tão insignificante para mim? Se é insignificante, não há motivo para ser hostil. Mas se eu sou hostil, é porque aquilo é significante. De fato, a questão da existência de Deus é algo significante para ser discutido, mas apenas por quem quer realmente ter certeza se Ele existe mesmo ou não. Quem já tem essa certeza, não tem porque ver importância nessa discussão.

      Então, se você tem plena certeza de que Deus não existe e a Bíblia está errada, mas ainda assim acha a questão importante e o que o motiva é mero ódio a esses conceitos, isso é algo que inviabiliza o debate honesto. Como posso debater com alguém que rebaterá tudo o que eu digo por mero ódio? Você já disse que não tem o menor interesse em seguir a Cristo e deixou implícito que mesmo que Ele exista, você prefere morrer do que segui-lo. Então, você não irá concordar comigo nem mesmo se eu estiver certo. Irá distorcer e mal interpretar o que falo apenas para não dar o braço a torcer. Eu pergunto, então: por que está me fazendo responder seus questionamentos? É só por ódio?

      Eu acho que sua motivação é ódio. Afinal, um ateu que acha que o conceito de inferno eterno é um estímulo para seguir a Cristo e que se sente desestimulado por esse conceito ser falso, é alguém que não sabe o que é amor. É alguém que já se acostumou a viver com ódio no coração e por ele ser movido. Talvez seja por isso que você não veja mal em morrer. Ninguém é conseguiria viver a eternidade se remoendo de ódio.

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    14. (12) DEIXANDO CLARO MINHA POSIÇÃO

      Espero que não se sinta ofendido por essas palavras. Apenas fiz uma análise que me parece lógica, tendo em vista os dados fornecidos. Mas posso estar errado e peço que me perdoe se for o caso. Se você não tiver tanto ódio quanto estou achando que tem, não será difícil me perdoar.

      Continuarei orando por você.

      Abraços do seu amigo Davi Caldas.

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  10. “Não. Você está equivocado. O dilema de Eutifron propõe duas opções: (1) ou a moral é independente de Deus ou (2) a moral é arbitrária, pois depende meramente de desejos e gostos arbitrários de Deus. Eu mostrei que há uma terceira opção: (3) a moral faz parte da própria natureza de Deus. Deste modo, ela não é nem independente de Deus, nem é fruto de meros desejos arbitrários. A analogia do coração que fiz foi para ajuda-lo a entender isso. O coração que você tem não é independente de você, tampouco é meramente um desejo arbitrário seu. Ele é parte do seu ser. A analogia pode não ser perfeita, mas a função das analogias não é se encaixar perfeitamente à realidade, mas apenas enfatizar algo da realidade de maneira mais prática através de uma comparação.”

    O problema é que se a moral é uma parte intrínseca de Deus-e não pode ser externa a Ele-e,ao mesmo tempo,está presente nos seres humanos,então,isso significa que ela só poderia estar nos seres humanos se a moral vier de um Deus,caindo de novo na segunda premissa.Como você mesmo disse,Deus seria a única possível fonte moral,ou seja,”é moral porque vêm de Deus”. E,se você parar para analisar,a moral objetiva(ou “ética”,como queira chamar)é um valor puramente humanista. Advém da empatia, isto é, da capacidade de se colocar no lugar do outro e sentir como ele. Isso faz com que se rejeite ações que provoquem a outrem o que não se desejaria para si. Além do mais, por coerência, é preciso que todo critério validativo de qualquer ação seja de modo a poder ser erigido como norma universal. E, mais ainda, no interesse de todos e, portanto, de cada um, as ações precisam ser de modo a promover a maximização da felicidade para o maior número de seres. Com esses três princípios, a ética norteia-nos para prescrever, permitir ou proibir qualquer tipo de comportamento humano. A própria definição de ética, absolutamente, não tem nada a ver com a existência de nenhuma divindade. Portanto, é uma consideração inteiramente ateísta. A ética é ateísta em seus fundamentos porque ela não faz o mínimo apelo a divindade nenhuma. É totalmente humana. Se um ateu ajuda uma pessoa,por exemplo,considera que é o correto,pois é um instinto da evolução que é vantajoso,já que ajudando-se o outro,pode ser que ele me ajude também por causa disso,e assim,a humanidade pode garantir a perpetuação da espécie como um todo.Por outro lado,se um teísta ajuda uma pessoa,ele só o faz porque acredita que foi seu Deus que quer que seja assim,ou por querer uma recompensa de “vida eterna” por isso.De certa forma,isso significa que só é possível ser completamente ético se você não acreditar em Deus,já que a ética,sob a perspectiva teísta,é egoísta,pois não passa de um meio para se obter uma recompensa pessoal almejada.A ética sob a perspectiva ateísta-evolucionista é coerente,pois ela pretende um meio ético (ajudar os outros) para um fim também ético(garantir o futuro da civilização).Mas se a ética teísta é contraditória (fazer o bem só para o seu próprio benefício egoísta, que é viver para sempre),então,ela não pode ser considerada como sendo,de fato,ética por definição.

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  11. “Uma das maiores falhas lógicas que ateus cometem quando tentam julgar Deus como sendo cruel e assassino é a de acharem que como a moral faz parte do próprio Deus, Deus tem a mesma relação com a moral que nós, humanos, temos. Assim, Ele pode fazer as mesmas coisas que nós e o que é errado para o ser humano, necessariamente é errado para Deus. Isso é um erro crasso de lógica. Deus, na posição de Criador do Universo, tem uma relação diferente com a moral. Por exemplo, o ser humano tem como roubar, embora seja errado. Deus não tem como roubar, pois todas as coisas lhe pertencem. Deus também não tem como cobiçar algo, pois todas as coisas lhe pertencem. São atitudes simplesmente impossíveis de Deus cometer. Dizer que Deus poderia roubar ou cobiçar é a mesma coisa que dizer que um homem poderia ter câncer de mama e uma mulher câncer de próstata. É impossível.

    Da mesma forma, dizer que Deus é um assassino quando tira ou manda tirar a vida de alguém é um absurdo. Assassino é, por definição, aquele que tira uma vida que não lhe pertence. É por isso que assassinar é errado, pois estamos roubando uma vida, tomando de uma pessoa algo que não é nosso. Mas esse não é o caso de Deus. Ele é o dono de todas as vidas. Foi Ele o idealizador e a causa primária e única do atributo da vida humana. Na realidade, nada do que temos nos pertence. Sequer a nossa própria vida. Somos apenas tutores de nós mesmos, não donos (embora Deus nos permita agir como donos na maior parte das vezes). Racionalmente falando, meu amigo, não há nada aqui que incrimine Deus. Não tem como Deus cometer assassinato. Quando Ele tira uma vida está simplesmente requerendo aquilo que é seu para si novamente. Qualquer reclamação aqui é emocionalismo.

    Agora, é curioso que mesmo Deus tendo todo o direito de tirar qualquer vida que quiser, a maioria esmagadora das pessoas que vemos ser mortas na Bíblia são descritas como sendo enormemente perversas. A Bíblia menciona povos que queimavam seus filhos pequenos para oferecer a deuses e que faziam do estupro um estilo de vida. Isso é uma evidência forte de que Deus prefere não usar o seu DIREITO de tirar (ou mandar tirar) vidas e que só o faz em determinadas circunstâncias drásticas e muito específicas. Também falo sobre isso em meu livro, aliás.”

    Mas se Deus é onisciente –ou seja,se Ele mesmo tem conhecimentos de absolutamente tudo que virá a acontecer no futuro-, isso significa que Ele mesmo já saberia que aniquilaria essas dezenas de pessoas depois-e inclusive antes mesmo de criá-las.E,de acordo com o que você mesmo disse,Ele se entristece de matar as pessoas,embora ele mesmo já saberia que faria isso com muita gente antes mesmo de elas existirem.Quer dizer,por mais que todas as vidas humanas pertençam a Deus e,portanto,tenha Ele todo o direito de tirá-las,o fato é que não tem sentido nenhum criar centenas de pessoas para que Ele mesmo se amargasse de matá-las depois.Por que você iria criar algo que você já sabe que vai se arrepender de jogar fora depois? Isso não tem sentido nenhum.

    Da mesma forma,eu utilizei a metáfora dos poemas,assim como do pai que matou os filhos,para tentar ilustrar como a idéia de um ser criador que faz sua criação à sua imagem e semelhança, com consciência,objetivos,ética,etc.,e depois disso mata-os(sendo que você mesmo é parte dessa criação,ou seja tem valores,missões etc.) é algo difícil de engolir, psicologicamente falando.E o pior,ele mesmo sabendo que já os mataria antes mesmo de criá-los,ou seja,uma pura desvalorização da vida de uma pessoa.Como você mesmo disse,analogias podem não ser perfeitas, mas apenas enfatizam algo da realidade de maneira mais prática através de uma comparação.

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  12. “Seu comentário me soa estranho. Me parece que você se sentiu triste ao descobrir que a Bíblia não ensina o conceito de inferno eterno. Parece que você queria um cristianismo que pregasse um Deus malévolo, que obrigasse as pessoas a servi-lo ameaçando-as com terríveis tormentos sem fim. Sinto frustrá-lo, amigo, mas Deus não tem o mínimo interesse em fazer com que as pessoas o sigam por medo. Ele quer que as pessoas o sigam porque o amam e porque querem viver com ele e outras pessoas amadas em uma nova terra sem sofrimentos e pecados. Se você não tem esse desejo, Ele simplesmente vai respeitar sua opinião e riscá-lo da existência. Não há necessidade de um inferno para “estimular” o não-crente a seguir a Cristo. Se você pensa no inferno como um estimulo para seguir a Cristo, meu amigo, é porque você ainda não entendeu nada sobre o que é amor. Confesso que nunca pensei que veria um ateu vendo o inferno com tanta simpatia quanto você. Realmente é muito estranho.”

    O que eu quis dizer é:se a sua concepção de pós-morte é essa mesma,então,no fundo,não faz diferença nenhuma viver minha vida como ateu,quer Deus exista ou não.
    Como eu disse,a visão da morte no ateísmo é justamente essa:um sono profundo e sem retorno.A única diferença é que,no ateísmo,essa é a concepção de morte para todas as pessoas,sem exceção,enquanto que na sua denominação cristã,é só para os não-crentes.
    Quer dizer,se de qualquer forma,eu vou dormir para sempre,e eu particularmente,não acho isso tão ruim assim,então por que seguir qualquer religião,se assim é mais prático, não é mesmo? O inferno seria um estímulo no sentido de que a única forma de não sofrer eternamente,seria necessariamente seguindo a Cristo. Mas se tanto eu quanto você concordamos que não eu vou sofrer depois de morrer,quer Deus exista ou não,não há porque seguir sua religião,não é mesmo?

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  13. “Muitos escritores como, por exemplo, o clássico C. S. Lewis e o famoso geneticista Francis Collins sustentam que a história da criação é uma parábola, uma história mítica explicativa, usada para enfatizar algumas verdades básicas como a de que Deus é a Causa Primária da vida e a de que a espécie humana após a conquista da moralidade e da razão escolheu deliberadamente se tornar pecadora. Indico para você a leitura de “O Problema do Sofrimento”, de Lewis e “A Linguagem de Deus”, de Collins.

    Este fato – a humanidade escolheu desobedecer a Deus – é perfeitamente observável, não sendo sequer necessário Bíblia para isso. Desde as épocas mais remotas o homem mata por motivos torpes, rouba, tortura, estupra, abusa, explora, mente, engana, cobiça, inveja, nutre mágoa, nega perdão, odeia, despreza verdades, dá mais valor a ganhar um debate do que analisar honestamente argumentos contrários, adultera, oprime, trata os outros como objetos, se embebeda, destrói a natureza, cria deuses permissivos aos seus vícios, se droga, destrói seu próprio corpo, desobedece aos pais, desvia verba, cola na prova, pratica bullying no colégio, é injusto, é cruel, acha que errar é normal, acha que não precisa de Deus, é arrogante, é instável e etc. Não conheço uma única pessoa que jamais tenha cometido um erro. Foram desses erros que Jesus redimiu a humanidade.”

    Uma “parábola”? Bom,o problema teológico central para os evolucionistas teístas,como Collins,é conciliar a teoria darwiniana – a qual necessariamente define "aleatório" como "sem propósito" – com o teísmo. Os teístas afirmam,necessariamente,que Deus criou o mundo com um propósito e que o guia providencialmente. Mas simplesmente não faz sentido dizer que Deus dirige um processo não-direcionado. Esta contradição fundamental no coração do projeto leva muitos evolucionistas teístas ou a cometer equívocos ou,pelo menos,a descartar as partes principais do teísmo tradicional. O que a evolução mostra é que somos animais, em qualquer aspecto diferentes de nossos ancestrais apenas em grau e não qualitativamente. Além disso, esses processos que descobrimos que,por sua vez,deram origem à mente humana não se mostram muito diferentes daqueles que produzem os fatos históricos no sentido de que não há um fim definido,ao contrário do que prega o teísmo.Tanto que as premissas de Collins em favor de “Deus” não têm nada a ver com ciência, ou seja, não têm referência alguma em evidências. Apenas homilias morais, arrebatamentos ético-estéticos, como de praxe.
    A se considerar que o ser humano evoluiu a partir de espécies antecedentes, sem que tenha havido, propriamente, um que se possa dizer que teria sido,realmente,”O” primeiro.Se as pessoas só poderiam ter pecado depois que Adão e Eva pecaram,mas eles não puderam ter existido,então…? As histórias do gênesis foram registradas pelos redatores do pentatêuco (torá), no cativeiro da Babilônia, a partir de lendas dos Sumérios já registradas em outros textos. Parece que eles realmente achavam que isso era verdade mesmo.Além disso,a exigência certa de justiça por parte de Deus, em relação ao pecado de Adão e Eva,assim como os pecados do resto da humanidade,não tem nada a ver com sacrifícios expiatórios,como o de Jesus. Justiça se traduz em prêmio ou punição ao autor da ação objeto de apreciação. Sacrifícios ou oferendas são meros caprichos exigidos pelo Juiz em completo desacordo com o próprio espírito imparcial e desinteressado de justiça. E,repetindo,isto tudo só tem significado caso admita-se a criação do homem diretamente por Deus nas pessoas de Adão e Eva, o que é inteiramente desprovido de confirmação, além de ser extremamente ingênuo.

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  14. “Deus não castigou a humanidade inteira. Quem castigou a humanidade inteira foram os próprios homens. Nascemos fadados à morte eterna não por causa do erro dos outros, mas por causa de nossos próprios erros; os erros que cometemos com toda a consciência simplesmente porque queremos cometer. Tanto é que a Bíblia não condena crianças que morrem. O Reino de Deus já é das crianças. Jesus deixou isso claro.

    A própria humanidade se castigou desde o início, e continua se castigando cada vez que um dos indivíduos que a compõe resolve cometer um pecado. O que Deus fez, bem ao contrário de castigar, foi se sacrificar para nos libertar dos erros que cada um de nós escolheu cometer. Cada um responde pelos seus próprios pecados, pela sua própria teimosia, pela sua própria escolha.”

    Como eu já disse, a exigência certa de justiça por parte de Deus, em relação ao pecado de Adão e Eva,assim como os pecados do resto da humanidade,não tem nada a ver com sacrifícios expiatórios,como o de Jesus. Justiça se traduz em prêmio ou punição ao autor da ação objeto de apreciação. Sacrifícios ou oferendas são meros caprichos exigidos pelo Juiz em completo desacordo com o próprio espírito imparcial e desinteressado de justiça. Se Deus fosse justo, o certo mesmo seria punir,separadamente,cada ser humano, por cada pecado que cometeu.Quanto aos dilemas morais,acho que entendi o que você quis dizer.

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  15. “Finalmente, gostaria de dizer algo. Espero que não se ofenda com o que vou falar, mas tenho quase certeza que você é uma pessoa hostil a Deus, ao cristianismo e a Bíblia. Eu estou quase certo que sua hostilidade é tão grande que você não está interessado em aprender mais, em descobrir se há respostas para seus questionamentos, em entender melhor das crenças que não sustenta e saber se elas fazem sentido ou se não fazem. Há várias indicações disso nos seus comentários, embora você tenha mantido uma postura educada e seus questionamentos tenham sido bons (e eu o elogio por isso).

    Posso citar alguns exemplos, amigo. Você afirma, entre outras coisas, que não tem nenhum estímulo para seguir a Cristo e deixa implícito que mesmo que ele exista no fim das contas, você não se importa de morrer. Eu poderia dizer que isso é indiferença. Mas não é. Porque uma pessoa meramente indiferente não gastaria seu tempo entrando em um site de temas cristãos para debater. Quem faz isso é quem tem interesse. Então, você tem interesse em assuntos cristãos, mas não para aprender ou descobrir se é verdade e sim porque você é hostil. Um ateu indiferente é tão indiferente à questões religiosas que até “esquece” que é ateu. Ele simplesmente não acredita, mas não tem o menor interesse em entrar em sites religiosos para debater este assunto. Também não está nem aí para se alguém crê ou não. Mas você não é indiferente. Você é hostil. Você nutre ódio.”

    Bom,você mesmo me agradeceu por que disse que as minhas perguntas enriqueciam o seu blog…se você está tão incomodado assim,então,posso parar de postar contra-argumentações,se você quiser.Posso até pensar nelas,mas se você está tão incomodado assim,é só me avisar.Desculpe-me por qualquer coisa,viu?E eu tenho interesse em determinados assuntos religiosos(não apenas cristãos),porque eu sou uma pessoa naturalmente curiosa.Sempre gostei muito de estudar e aprender sobre as coisas,o que também inclui as religiões.E se você me pergunta se eu tenho ódio pelo cristianismo, minha resposta é:em partes.Há muitos elementos do cristianismo que eu,de fato, abjeto,mas também há muitas qualidades dele que eu admiro,e outras pelas quais eu sou indiferente. Digamos que eu tendo a odiar mais os cristãos do que o cristianismo em si.

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  16. “Eu não acredito em extra-terrestres que andam em discos voadores pela terra. Há muita gente que acredita e que diz já ter visto um. Mas eu sou tão indiferente a isso que nunca na minha vida entrei em um site para debater sobre isso. Tenho amigos que creem nisso, mas jamais tive interesse em fazê-los deixar de acreditar. Raramente penso ou falo sobre o tema. O mesmo se dá em outras questões como horóscopo, mau-olhado, “dá azar passar por debaixo da escada”, “o homem nunca foi à lua” e etc. Sou indiferente.

    Se eu fosse ateu, provavelmente, seria indiferente. Afinal, para quê ficar debatendo sobre algo que não existe e que não me afeta em absolutamente nada? Como ser hostil a algo tão insignificante para mim? Se é insignificante, não há motivo para ser hostil. Mas se eu sou hostil, é porque aquilo é significante. De fato, a questão da existência de Deus é algo significante para ser discutido, mas apenas por quem quer realmente ter certeza se Ele existe mesmo ou não. Quem já tem essa certeza, não tem porque ver importância nessa discussão.

    Então, se você tem plena certeza de que Deus não existe e a Bíblia está errada, mas ainda assim acha a questão importante e o que o motiva é mero ódio a esses conceitos, isso é algo que inviabiliza o debate honesto. Como posso debater com alguém que rebaterá tudo o que eu digo por mero ódio? Você já disse que não tem o menor interesse em seguir a Cristo e deixou implícito que mesmo que Ele exista, você prefere morrer do que segui-lo. Então, você não irá concordar comigo nem mesmo se eu estiver certo. Irá distorcer e mal interpretar o que falo apenas para não dar o braço a torcer. Eu pergunto, então: por que está me fazendo responder seus questionamentos? É só por ódio? “

    Não há nada de que eu tenha certeza absoluta e isso é algo que ninguém é capaz de ter a respeito de coisa alguma. Mas eu tenho grande convicção, com base em fortes indícios, de que Deus não existe. Claro que poderei mudar meu modo de pensar, se convenientemente convencido.Aliás,essa é a primeira vez que eu discuto esse assunto com alguém.Eu só fiquei com vontade de debater um tema que eu já li muitas vezes,mas nunca discuti com ninguém.

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  17. “Eu acho que sua motivação é ódio. Afinal, um ateu que acha que o conceito de inferno eterno é um estímulo para seguir a Cristo e que se sente desestimulado por esse conceito ser falso, é alguém que não sabe o que é amor. É alguém que já se acostumou a viver com ódio no coração e por ele ser movido. Talvez seja por isso que você não veja mal em morrer. Ninguém é conseguiria viver a eternidade se remoendo de ódio.”

    Imagino que se você realmente é cristão,então acredita em um Deus que é capaz de tirar o ódio do coração de quem se converte a Ele.Se você acha que a única forma de obter eternidade é,justamente,se convertendo ao cristianismo,como você acha que eu poderia ter algum ódio no coração vivendo numa eternidade com seu Deus,ou seja,com amor no meu coração no lugar de ódio?

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  18. Meu amigo, me encontro no ônibus agora, em pé, voltando para casa. Odeio responder no celular, mas não poderia deixar de fazer ao menos um comentário.

    Fiquei feliz em saber que você é uma pessoa curiosa e não uma pessoa movida por ódio. Fiz a pergunta porque já debati com muita gente cheia de rancor e que não estava nem aí para o que eu falava, mas só queria encher o saco mesmo. Quis me certificar que você nao era mais um desses. Peço desculpas por. te-lo julgado mal.

    Quanto aos seus contra-argumentos, não me incomodo que os faça. Ao contrário , gosto muito. Isso enriquece o blog como já disse e me oferece oportunidade de conversar sobre o um assunto que gosto.

    Fico muito grato pelodebate e peço que não pare. Vamos continuar sim. Só não prometo postar tudo de uma vez como fiz nas duas primeiras ocasiões, pois tenho pouco tempo mesmo. Aí você terá que esperar um pouco as vezes, rsrs.

    P.s.: Diga-me pelo menos um nome ficticio seu. Fica melhor para conversar.

    P.s.2: Talvez eu já responda algum dos seus questionamentos hoje. Mas não prometo.

    Abraços.

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    1. (1) SOBRE A MORAL, DEUS, O TEÍSMO E O ATEÍSMO

      “O problema é que se a moral é uma parte intrínseca de Deus - e não pode ser externa a Ele - e, ao mesmo tempo, está presente nos seres humanos, então, isso significa que ela só poderia estar nos seres humanos se a moral vier de um Deus, caindo de novo na segunda premissa. Como você mesmo disse, Deus seria a única possível fonte moral, ou seja, ‘é moral porque vêm de Deus’”.

      Acredito que houve uma pequena confusão aqui. Quando digo que a moral vem de Deus não estou necessariamente dizendo que Deus colocou uma espécie de “alarme espiritual” dentro do nosso coração que “apita” o tempo todo, nos orientando o que é certo e o que é errado. Não estou falando de algo como uma consciência. Aliás, o modo como a humanidade veio a descobrir o que é certo e o que é errado não importa nem um pouco aqui, por incrível que pareça. Pode ter sido por meio da biologia mesmo; talvez por meio de sentimentos naturais que nosso organismo gerou simplesmente porque ele foi programado para sempre gerar mecanismos que nos auxiliem a preservar a espécie. Não tenho nenhum problema em aceitar isso.

      A questão não é como passamos a nos orientar pela moral, mas se, de fato, a moral se constitui um padrão transcendente, absoluto, superior e anterior a arbitrariedades que nós inventamos ou se ela é apenas um padrão arbitrário que formulamos com base em preferências pessoais. Então, quando eu digo que a moral é intrínseca a Deus não estou querendo dizer que ele “colocou a moral nos seres humanos”, mas simplesmente que a moral é algo transcendente porque Deus é transcendente. E uma vez que a moral está além, acima e antes de cultura, fatores biológicos, gostos pessoais e etc. ela não é algo arbitrário, mas algo que tem toda a razão de ser seguido. Ela se torna assim uma espécie de inerência da realidade, tal como verdades lógicas ou matemáticas, por exemplo. E, bom... Se ela se torna uma inerência da realidade, ela não pode mesmo ser considerada arbitrária.

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    2. “E, se você parar para analisar, a moral objetiva (ou “ética”, como queira chamar) é um valor puramente humanista. Advém da empatia, isto é, da capacidade de se colocar no lugar do outro e sentir como ele. Isso faz com que se rejeite ações que provoquem a outrem o que não se desejaria para si”.

      Como eu disse, o modo como passamos a nos orientar pela moral ou a descobrimos não é muito importante. Poderíamos achar que é imoral matar torpemente uma pessoa porque lemos isso em uma embalagem de biscoito. Certamente é algo bem irracional e arbitrário. Mas se, de fato, for errado matar, mesmo eu acreditando nisso pelos motivos errados, estou acreditando em uma verdade. Não se pode invalidar uma verdade pelo modo como ela foi descoberta. Em lógica isso se chama “Falácia Genética”.

      O âmago da questão, eu repito, é averiguar se a moral é apenas uma ilusão que nós inventamos ou se ela tem uma base superior a isso. É aqui que sua cosmovisão ateísta falha em tentar provar que a moral é objetiva. Você diz que a moral objetiva vem da empatia, que é a capacidade de se colocar no lugar de outro e sentir como ele. Agora, vêm a pergunta: por que eu devo seguir esse sentimento empático? “Ah, é para que a espécie seja preservada”. Ok. Mas porque eu devo ajudar a preservar a espécie? “Ah, porque isso é bom, porque isso é certo”. Ok. Mas quem disse que é bom e certo? Por que é bom e certo? É bom e certo por que sentimos que é bom e certo? É válido se basear em sentimentos? E quem não sente que é bom e certo? E quem não está nem aí para preservar a espécie? Essa pessoa está errada? Por quê? “Ah, porque nossa natureza nos formou com esses sentimentos e instintos e devemos segui-los”. Mas por que devemos seguir nossa natureza e instintos?

      Eu poderia continuar a fazer vários questionamentos do tipo. No fim das contas, sempre obtemos respostas circulares ou que então baseadas em arbitrariedades. Não existe, na sua cosmovisão ateísta, uma resposta em que você possa dizer: “Isso é errado porque faz parte do padrão da realidade; tão real, transcendente, objetivo e absoluto quanto às verdades matemáticas e lógicas”.

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    3. “Se um ateu ajuda uma pessoa, por exemplo, considera que é o correto, pois é um instinto da evolução que é vantajoso, já que ajudando-se o outro, pode ser que ele me ajude também por causa disso, e assim, a humanidade pode garantir a perpetuação da espécie como um todo”.

      Neste caso a moral do ateu é baseada simplesmente em um sentimento pessoal. E esse sentimento pessoal, por sua vez, é baseado simplesmente em instinto individual de sobrevivência. Isso não significa que essa atitude seja realmente moral. Apenas significa que ela pode ser vantajosa para a pessoa que ajudou. É um instinto. Não diz nada sobre se é correto ou não do ponto de vista da moral.

      “Por outro lado, se um teísta ajuda uma pessoa, ele só o faz porque acredita que foi seu Deus que quer que seja assim, ou por querer uma recompensa de “vida eterna” por isso”.

      Não, meu amigo, mil vezes não. Um teísta é uma pessoa normal. Assim como qualquer outra pessoa normal ele também tem uma empatia natural. Geralmente é esse o motivo emocional que vai levá-lo a ajudar alguém, o que não é diferente com o ateu. Agora, além do motivo emocional, o teísta tem um motivo racional para ajudar uma pessoa; motivo racional esse que valida o emocional: é que realmente existe uma moral tão objetiva quanto a matemática. Esse é o motivo. Não ajudar uma pessoa é tão errado quanto dizer que dois mais dois é cinco. E um adendo: Sinceramente, nunca ajudei uma pessoa pensando em ganhar a vida eterna por isso ou em comprar Deus. Ajudo porque acho o certo e porque desejo fazer. Também nunca conheci um amigo cristão que não tivesse esses mesmos motivos para ajudar.

      “De certa forma, isso significa que só é possível ser completamente ético se você não acreditar em Deus, já que a ética, sob a perspectiva teísta, é egoísta, pois não passa de um meio para se obter uma recompensa pessoal almejada”.

      Como já expliquei, o teísta não faz o bem por interesse. Ele é igual a qualquer pessoa normal. Faz o bem porque é empático e porque acredita que existe um padrão objetivo de certo e errado.

      “A ética sob a perspectiva ateísta-evolucionista é coerente, pois ela pretende um meio ético (ajudar os outros) para um fim também ético (garantir o futuro da civilização)”.

      Na verdade, a ética sob a perspectiva ateísta-evolucionista é uma ilusão, pois ela pretende fazer todos acreditarem que ajudar os outros é certo para que todos acreditem que garantir o futuro da civilização é certo. Mas não há explicação para por que tais atitudes são certas ou boas.

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    4. (2) SOBRE A ONISCIÊNCIA E A PREVISÃO DE MORTES

      “Mas se Deus é onisciente – ou seja, se Ele mesmo tem conhecimentos de absolutamente tudo que virá a acontecer no futuro-, isso significa que Ele mesmo já saberia que aniquilaria essas dezenas de pessoas depois - e inclusive antes mesmo de criá-las. E, de acordo com o que você mesmo disse, Ele se entristece de matar as pessoas, embora ele mesmo já saberia que faria isso com muita gente antes mesmo de elas existirem. Quer dizer, por mais que todas as vidas humanas pertençam a Deus e, portanto, tenha Ele todo o direito de tirá-las, o fato é que não tem sentido nenhum criar centenas de pessoas para que Ele mesmo se amargasse de matá-las depois. Por que você iria criar algo que você já sabe que vai se arrepender de jogar fora depois? Isso não tem sentido nenhum”.

      Aqui uma série de informações precisam ser consideradas. Em primeiro lugar, embora Deus seja o Criador do atributo da vida humana, bem como das condições para que seja transmitida a um novo ser humano, além de ter autoridade e poder para manter este atributo em uma pessoa ou não, há um processo biológico envolvido aqui que não podemos passar por alto. Uma pessoa só nasce e recebe o atributo da vida se houver a união entre o óvulo de uma mulher e o espermatozoide de um homem, união que naturalmente ocorre apenas através de uma relação sexual. Em outras palavras, se não há relação sexual, não há nascimento de pessoas. Os primeiros seres humanos e também Jesus foram os únicos que fugiram à regra.

      Deste modo, o nascimento de uma pessoa é, de certa forma, uma consequência natural de um processo também natural, além de, geralmente, ser uma consequência natural de uma escolha livre de duas pessoas (a de se relacionarem sexualmente e sem qualquer tipo de preservativos). Deus poderia intervir no processo e evitar que qualquer pessoa que viesse a se desviar no futuro não nascesse? Sim, evidentemente. Mas agindo assim, Deus estaria gerando uma intervenção muito grande nos (1) mecanismos naturais do mundo que criou, (2) no livre arbítrio dos seres humanos que se unem sexualmente para ter filhos, (3) na lei natural das causas e consequências e, de quebra, (4) estaria privando de antemão que a espécie humana tivesse condição de escolher entre o bem e o mal, e, (5) ao escolher o mal e experimentá-lo, a condição de comparar entre o mal e o bem e decidir o que é melhor para si.

      Ao permitir que o processo natural seja a regra, não a exceção, que as consequências naturais se desenrolem tal como são o tanto quanto possível e que os seres humanos possam escolher o que desejam, Deus está sendo mais honesto com a espécie humana e todo o universo, além de não deixar dúvidas em ninguém de que Deus não é um tirano arbitrário que não oferece oportunidade de escolha, nem aceita questionamentos quanto aquilo que diz ser bom ou ruim. Deus é aquele que nos diz: “Vejam vocês mesmos e escolham o que acham melhor”.

      Há pessoas, como você, que embora gostem de viver, de estudar, de descobrir coisas, preferem viver uma vida finita neste mundo repleto de sofrimentos e pecados para depois deixar de existir eternamente. Deus respeita isso. E, no fim das contas, se Ele existir mesmo, você não poderá dizer que Ele não te deixou escolher o que queria. Isso me parece um trato bem justo.

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    5. Em segundo lugar, é simplista pressupor que Deus não teve bons motivos para permitir que as coisas seguissem o curso natural e nascessem muitas pessoas que escolheriam ficar ao lado do pecado. Como você disse, Ele é onisciente. Isso lhe dá a capacidade de prever situações ruins que Ele pode optar por não deixar ocorrer se houver opções melhores. Podemos especular miríades de razões plausíveis. Por exemplo, quando os primeiros seres humanos pecaram, eles evidentemente não tinham pecado antes. Da mesma maneira, os milhões de anjos que escolheram deliberadamente tornarem-se demônios eram perfeitos até escolherem esse caminho. Isso mostra que qualquer criatura perfeita pode escolher não seguir a Deus e a moral. É claro que pode! Deus deu livre-arbítrio às criaturas. Então, talvez Deus soubesse que inevitavelmente sempre surgiria alguém com a seguinte dúvida: “Sou obrigado a obedecer a Deus? Por quê? E se eu não quiser mais?”. Se isso estiver correto, a única maneira de evitar essas dúvidas sendo honesto com suas criaturas, permitindo que elas possam escolher não segui-lo e julgar entre o bem e o mal, fosse deixando que essas as coisas seguissem seu rumo natural.

      Poderíamos especular também que essa permissão de as coisas seguirem esse rumo seja o melhor arranjo entre as várias hipóteses possíveis. Talvez uma atitude diferente de Deus não servisse para gerar, depois da extinção do pecado, um mundo tão bom quanto o qual Ele almeja. Não sabemos. Mas são especulações plausíveis. E eu não vejo motivo para achar que um Deus onisciente e moral, sabendo de todas as hipóteses possíveis, não escolheria a melhor. Se Ele realmente existe e tem esses atributos, não há razão para pressupor que Ele, podendo fazer melhor, resolveu fazer menos que isso.

      “E o pior, ele mesmo sabendo que já os mataria antes mesmo de criá-los, ou seja, uma pura desvalorização da vida de uma pessoa”.

      Expliquei alguns dos motivos de Deus acima e outros motivos possíveis, plausíveis e prováveis. Agora, um adendo: falar que o Deus cristão desvaloriza as pessoas é algo que não dá para engolir. Como apontar alguém que aceita sofrer e perder a própria pelas pessoas como alguém que não as valoriza?

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    6. (3) SOBRE MOTIVOS QUE AS PESSOAS GERALMENTE TÊM PARA SEGUIR A CRISTO

      “O que eu quis dizer é: se a sua concepção de pós-morte é essa mesma, então, no fundo, não faz diferença nenhuma viver minha vida como ateu, quer Deus exista ou não. Como eu disse, a visão da morte no ateísmo é justamente essa: um sono profundo e sem retorno. A única diferença é que, no ateísmo, essa é a concepção de morte para todas as pessoas, sem exceção, enquanto que na sua denominação cristã, é só para os não-crentes. Quer dizer, se de qualquer forma, eu vou dormir para sempre, e eu particularmente, não acho isso tão ruim assim, então por que seguir qualquer religião, se assim é mais prático, não é mesmo? O inferno seria um estímulo no sentido de que a única forma de não sofrer eternamente, seria necessariamente seguindo a Cristo. Mas se tanto eu quanto você concordamos que não eu vou sofrer depois de morrer, quer Deus exista ou não, não há porque seguir sua religião, não é mesmo?”.

      Amigo, vontade e motivos para seguir a Cristo são coisas pessoais. Se você não tem vontade, nem razões para segui-lo, não sou eu que vou fazer você querer. Isso é escolha sua. Agora, as razões que geralmente as pessoas tem são: amor por Cristo (por ele ser bom, amável, criador, por ter morrido por nós, por nos dar perdão e etc.) e vontade de conhece-lo pessoalmente e viver ao seu lado; amor por parentes e amigos (e até mesmo desconhecidos) e vontade de estar ao lado delas em uma terra renovada; amor à vida e vontade de continuar vivendo; amor ao conhecimento e vontade de continuar sempre estudando e descobrindo mais; amor à belezas naturais; amor às coisas boas que só se podem fazer enquanto vivo; amor à felicidade, às gargalhadas, aos bons momentos, às conversas, à nadar no rio, a escalar uma montanha, à comer, à cantar, à fazer projetos, ter ideias, construir coisas, formular jogos e entretenimento, plantar, colher, pular, correr, jogar bola, subir em árvores, abraçar, dançar, caminhar, escrever, ler, produzir, brincar com animais, presentear, ser presenteado, conhecer pessoas, ouvir histórias, contar histórias, investigar, conhecer detalhes do passado, andar de carro, em suma, vontade de viver, viver bem e viver feliz com quem se ama. Essas geralmente são as razões para se querer seguir a Cristo e não morrer. Se você não almeja nada disso, não há mesmo porque seguir a Cristo. Ele respeita sua decisão e deixará que você sofra as consequências naturais de sua escolha.

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    7. (4) SOBRE O EVOLUCIONISMO TEÍSTA

      “Uma “parábola”? Bom, o problema teológico central para os evolucionistas teístas, como Collins, é conciliar a teoria darwiniana – a qual necessariamente define "aleatório" como "sem propósito" – com o teísmo. Os teístas afirmam, necessariamente, que Deus criou o mundo com um propósito e que o guia providencialmente. Mas simplesmente não faz sentido dizer que Deus dirige um processo não-direcionado. Esta contradição fundamental no coração do projeto leva muitos evolucionistas teístas ou a cometer equívocos ou, pelo menos, a descartar as partes principais do teísmo tradicional. O que a evolução mostra é que somos animais, em qualquer aspecto diferentes de nossos ancestrais apenas em grau e não qualitativamente”.


      Eu não sou um evolucionista-teísta. Mas compreendo a forma de pensar dos mesmos. O que se deve ter em mente é que, tanto em um mundo em que Deus tenha criado tudo em curto espaço de tempo, como em um mundo onde ele tenha criado tudo gradativamente, através de um processo evolucionário, esse mundo antes do pecado era diferente do que é hoje. Quando olhamos para a natureza hoje, percebemos que, embora bela, ela é cruel e desarmoniosa. Ela procura uma harmonia limitada dentro de um enorme campo de batalha biológico. Isso vai desde o nível microscópico ao macro. Certamente não era assim no início.


      Então, caso Deus tenha utilizado o processo de evolução no mundo, esse processo certamente não era baseado em seleção natural no princípio. O surgimento seleção natural seria apenas uma resposta da natureza a um novo quadro que se formou nela; um quadro onde agora seus componentes lutam entre si e apenas o mais forte (ou o que melhor se desenvolve) sobrevive. Antes disso, ou Deus guiou o processo ou, de modo natural, criou mecanismos naturais nos organismos que faziam com que os mesmos fossem conduzidos gradualmente a estágios mais evoluídos. Já era mais ou menos nisso que acreditava Santo Agostinho de Hipona, mais de mil anos antes de Darwin.


      Quanto à seleção natural, embora ela exista hoje (e eu creio nela), não é necessário supor que ela sempre existiu. De fato, se um dia a natureza foi perfeita, ela não poderia ter existido desde sempre mesmo. Ela é um mecanismo de adaptação da natureza ao novo panorama de desordem e luta biológica, tanto em um mundo guiado pelo processo evolutivo, como pelo processo criacionista.

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    8. “A se considerar que o ser humano evoluiu a partir de espécies antecedentes, sem que tenha havido, propriamente, um que se possa dizer que teria sido, realmente, ‘O’ primeiro. Se as pessoas só poderiam ter pecado depois que Adão e Eva pecaram, mas eles não puderam ter existido, então…?”.


      A ciência diz que nós somos “Homo sapiens”. Houve um estágio evolutivo antes do nosso. Evidentemente, em dado momento da história nós deixamos esse estágio para nos tornar Homo Sapiens. Por mais que essa transição possa ter demorado milhões de anos para se completar e ocorrido de modo muito gradual, quase imperceptível, e com alguns indivíduos antes de outros, essa transição um dia se completou e passamos a ser o que nós somos hoje. Pois bem. O que o evolucionismo-teísta sustenta é que algum tempo depois que esse processo de transição se findou, por algum motivo todos os homo sapiens escolheram desobedecer a Deus. O pecado desfigurou a natureza, os instintos se tornaram como “facas de dois gumes” e todos os demais homo sapiens passaram a nascer com essa natureza desarmoniosa por consequência natural. O livre arbítrio permanece e qualquer um pode escolher o bem e viver, mas o mundo harmonioso de antes só será possível novamente depois que todas as chances forem esgotadas para a humanidade caída e Deus renovar a natureza.

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    9. (5) SOBRE A POSSIBILIDADE DE JUSTIÇA NÃO ENVOLVER PUNIÇÃO AO AUTOR


      “Além disso, a exigência certa de justiça por parte de Deus, em relação ao pecado de Adão e Eva, assim como os pecados do resto da humanidade, não tem nada a ver com sacrifícios expiatórios, como o de Jesus. Justiça se traduz em prêmio ou punição ao autor da ação objeto de apreciação. Sacrifícios ou oferendas são meros caprichos exigidos pelo Juiz em completo desacordo com o próprio espírito imparcial e desinteressado de justiça”.


      Não, meu amigo. Nem sempre a justiça se traduz em prêmio ou punição ao autor da ação-objeto de apreciação. A justiça pede uma punição, a fim de valorar e ressaltar a negatividade do ato cometido. E a punição, por sua vez, pede que o autor do ato errôneo se arrependa do ato cometido, sentindo desejo de não cometê-lo mais. Isso, pelo menos, no nível moral. O que Jesus faz preenche todos esses requisitos. Ele cumpre com a punição (valorando o pecado como algo hediondo e execrável), ele mesmo (que, sendo o ofendido, tem esse direito) e exige do pecador pelo qual Ele morreu que o mesmo se arrependa. Nesse sentido, tanto a morte, quanto às próprias privações que passou Jesus em sua vida de homem servem aos homens que conhecem sua história até mesmo como um mecanismo de identificação com suas mazelas, de incentivo a vencer as dificuldades e de comoção do interior (da consciência, da alma, do espírito), gerando arrependimento e vontade de ser bom por amor a quem os amou. Se um pecador faz isso, já não há nada para se acusar no julgamento de Deus. Ele cumpriu os requisitos todos.

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    10. (6) CONTINUE CONTRA-ARGUMENTANDO

      “Bom, você mesmo me agradeceu por que disse que as minhas perguntas enriqueciam o seu blog… se você está tão incomodado assim, então, posso parar de postar contra-argumentações, se você quiser. Posso até pensar nelas, mas se você está tão incomodado assim, é só me avisar. Desculpe-me por qualquer coisa, viu?”.

      Não é necessário me pedir desculpas. Eu é que as peço. Como já afirmei em um comentário acima, já debati com muitos desonestos, repletos de ódio no coração. Não tenho tempo para gastar com essas pessoas. Quis me certificar de que você não era mais um desses. Vejo que não é. Fico feliz por isso.

      “Aliás, essa é a primeira vez que eu discuto esse assunto com alguém. Eu só fiquei com vontade de debater um tema que eu já li muitas vezes, mas nunca discuti com ninguém”.

      Por favor, não pare. Continue questionando. Até onde eu sei, responderei.

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    11. (7) MODO DE DIZER

      “Imagino que se você realmente é cristão, então acredita em um Deus que é capaz de tirar o ódio do coração de quem se converte a Ele. Se você acha que a única forma de obter eternidade é, justamente, se convertendo ao cristianismo, como você acha que eu poderia ter algum ódio no coração vivendo numa eternidade com seu Deus, ou seja, com amor no meu coração no lugar de ódio?”.

      Foi apenas modo de dizer. Ninguém entrará no paraíso com ódio no coração. Apenas quis ressaltar que uma pessoa com tanto ódio quanto eu julguei equivocadamente que você tinha, jamais conseguiria viver para sempre. Não quer dizer que seja realmente possível alguém ser eterno com ódio no coração.

      Enfim, amigo. Muito obrigado pelo debate. Espero que retorne com novos comentários ou questionamentos.

      Abraços.

      Davi Caldas.

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    12. P.S.: Perdoe-me os erros de digitação. Estou sem óculos e um pouco cansado também. Espero que o texto esteja compreensível, rsrs.

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  19. “Acredito que houve uma pequena confusão aqui. Quando digo que a moral vem de Deus não estou necessariamente dizendo que Deus colocou uma espécie de “alarme espiritual” dentro do nosso coração que “apita” o tempo todo, nos orientando o que é certo e o que é errado. Não estou falando de algo como uma consciência. Aliás, o modo como a humanidade veio a descobrir o que é certo e o que é errado não importa nem um pouco aqui, por incrível que pareça. Pode ter sido por meio da biologia mesmo; talvez por meio de sentimentos naturais que nosso organismo gerou simplesmente porque ele foi programado para sempre gerar mecanismos que nos auxiliem a preservar a espécie. Não tenho nenhum problema em aceitar isso.

    A questão não é como passamos a nos orientar pela moral, mas se, de fato, a moral se constitui um padrão transcendente, absoluto, superior e anterior a arbitrariedades que nós inventamos ou se ela é apenas um padrão arbitrário que formulamos com base em preferências pessoais. Então, quando eu digo que a moral é intrínseca a Deus não estou querendo dizer que ele “colocou a moral nos seres humanos”, mas simplesmente que a moral é algo transcendente porque Deus é transcendente. E uma vez que a moral está além, acima e antes de cultura, fatores biológicos, gostos pessoais e etc. ela não é algo arbitrário, mas algo que tem toda a razão de ser seguido. Ela se torna assim uma espécie de inerência da realidade, tal como verdades lógicas ou matemáticas, por exemplo. E, bom... Se ela se torna uma inerência da realidade, ela não pode mesmo ser considerada arbitrária.”

    Por acaso,a moral transcendente de um cristão do século 21 inclui apedrejar pessoas por adultério,morte por apostasia,punição por quebrar os sábados,por exemplo,assim como acreditavam as pessoas daquela época?Todas essas coisas são morais objetivas baseadas pela Bíblia. Portanto,eu não acho que eu quero uma moral absoluta para a sociedade.Eu acho que quero uma moralidade que seja bem-pensada, racionalizada, argumentada, discutida e baseada no que você poderia chamar de regularização.Nós não podemos regularizar uma sociedade para definir que moralidade queremos seguir?Se você reparar nas moralidades aceitas por pessoas do século 21,não acreditamos mais na escravidão, acreditamos nos direitos das mulheres,nos direitos dos animais,por exemplo.Essas moralidades são muito recentes.Não eram transcendentes para ninguém até alguns séculos atrás.São valores morais que foram desenvolvidos durante toda a história,através de consensos racionais,discussões,argumentos,teoria legal,política e filosofia moral.Elas não nasceram embutidas nas pessoas desde o começo da humanidade.

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  20. Certo e errado são qualificações de ações e, portanto, objeto da ética. Seres não possuem tais qualificações. Logo elas não são ontológicas. Da mesma forma que não são estéticas nem fenomenológicas. Há quem as atribua um aspecto epistemológico. Todavia a qualificação epistemológica que corresponde a essas palavras seria verdadeiro e falso. Uma ação é certa se atender aos critérios de maximizar a felicidade para o maior número de seres, não causar dano, dor, sofrimento, prejuízo, tristeza ou nada de ruim a outrem, à sociedade ou à natureza, poder ser erigida como algo a ser prescrito para que todos a façam e ser de sorte a que se deseje ser objeto dela. Todavia, mesmo que possa provocar algum dano, uma ação pode ser considerada certa se objetivar um bem maior do que o dano provocado. Mas esse bem não pode ser um bem particular em prejuízo do bem global ou de outrem. Caso sejam de forma oposta a isso, seriam ações erradas. Note que tais qualificações não necessariamente correspondem à moralidade ou imoralidade das ações, pois estas são qualificações referentes ao que a sociedade, em dada época, lugar e grupo social, considera que sejam permitidas, prescritas ou proibidas, sejam certas ou erradas. O ideal é que a moral seja aderente à ética, mas isso nem sempre acontece, já que a moral é estabelecida, geralmente (nem sempre, contudo), para o atendimento de interesses de grupos dominantes. Bem é o que provoca satisfação, alegria, benefício, felicidade, gratificação. Mal é o que provoca dor, sofrimento, prejuízo, tristeza, infelicidade. Só isso. E por que devemos fazer o bem?
    Porque todos querem,evidentemente,que sejamos tratados bem.E a única forma de fazer
    com que os outros nos tratem bem é tratando-as bem,propiciando a maximização do bem estar, da harmonia, da alegria, da felicidade para toda a sociedade. E a sociedade sendo assim, todos os seus membros fruirão ao máximo essas benesses, em paz e concórdia,que é o que todos querem. Não só o bem, mas a justiça. Em suma, a vida virtuosa. Todos sendo virtuosos, todos serão beneficiados. O egoísmo pode, por certo tempo, beneficiar o egoísta, mas ele será privado de muitas benesses, como a afeto e o reconhecimento dos outros. Já o altruísta, mesmo que leve um prejuízo momentâneo, ao final das contas será beneficiado pelo reconhecimento geral. Isso sem contar a satisfação íntima de se estar contribuindo para a melhoria do mundo. Fazer o mal, ser egoísta, ter ódio, sem mesquinho, ganancioso, cruel, corrupto, tapeador e coisas do tipo, em verdade, acaba fazendo mais mal a quem assim o seja do que aos outros que essa pessoa prejudica. Um mundo só de malvados será horrível de se viver. Todos estariam sobressaltados, temendo as malvadezas alheias. Um mundo só de bondosos é uma maravilha de paz, sossego, tranqüilidade. Ninguém precisa temer nada. Ora, se quisermos nos sentir assim,e queremos um mundo que seja assim,então,é preciso que também ajamos desse modo.Circularidade mesmo é querer achar que determinada coisa é certa ou errada só porque Deus quis que achemos que seja assim.Não dá pra saber quais critérios ele utilizou para que definir o que é certo ou errado.Por que quis que achássemos isso certo ou aquilo errado?Não dá pra saber.

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  21. “Aqui uma série de informações precisam ser consideradas. Em primeiro lugar, embora Deus seja o Criador do atributo da vida humana, bem como das condições para que seja transmitida a um novo ser humano, além de ter autoridade e poder para manter este atributo em uma pessoa ou não, há um processo biológico envolvido aqui que não podemos passar por alto. Uma pessoa só nasce e recebe o atributo da vida se houver a união entre o óvulo de uma mulher e o espermatozoide de um homem, união que naturalmente ocorre apenas através de uma relação sexual. Em outras palavras, se não há relação sexual, não há nascimento de pessoas. Os primeiros seres humanos e também Jesus foram os únicos que fugiram à regra.

    Deste modo, o nascimento de uma pessoa é, de certa forma, uma consequência natural de um processo também natural, além de, geralmente, ser uma consequência natural de uma escolha livre de duas pessoas (a de se relacionarem sexualmente e sem qualquer tipo de preservativos). Deus poderia intervir no processo e evitar que qualquer pessoa que viesse a se desviar no futuro não nascesse? Sim, evidentemente. Mas agindo assim, Deus estaria gerando uma intervenção muito grande nos (1) mecanismos naturais do mundo que criou, (2) no livre arbítrio dos seres humanos que se unem sexualmente para ter filhos, (3) na lei natural das causas e consequências e, de quebra, (4) estaria privando de antemão que a espécie humana tivesse condição de escolher entre o bem e o mal, e, (5) ao escolher o mal e experimentá-lo, a condição de comparar entre o mal e o bem e decidir o que é melhor para si.

    Ao permitir que o processo natural seja a regra, não a exceção, que as consequências naturais se desenrolem tal como são o tanto quanto possível e que os seres humanos possam escolher o que desejam, Deus está sendo mais honesto com a espécie humana e todo o universo, além de não deixar dúvidas em ninguém de que Deus não é um tirano arbitrário que não oferece oportunidade de escolha, nem aceita questionamentos quanto aquilo que diz ser bom ou ruim. Deus é aquele que nos diz: “Vejam vocês mesmos e escolham o que acham melhor”. “

    Mas se Deus é onisciente,como pode haver livre-arbítrio? Se houvesse um ser onisciente ele teria o conhecimento de todos os eventos do universo em todos os lugares e momentos, passados e futuros. Isto invibializa o indeterminismo quântico, que é a base do livre arbítrio. Como esse indeterminismo é constatado, conclui-se que não há ser onisciente nenhum.

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  22. “Em segundo lugar, é simplista pressupor que Deus não teve bons motivos para permitir que as coisas seguissem o curso natural e nascessem muitas pessoas que escolheriam ficar ao lado do pecado. Como você disse, Ele é onisciente. Isso lhe dá a capacidade de prever situações ruins que Ele pode optar por não deixar ocorrer se houver opções melhores. Podemos especular miríades de razões plausíveis. Por exemplo, quando os primeiros seres humanos pecaram, eles evidentemente não tinham pecado antes. Da mesma maneira, os milhões de anjos que escolheram deliberadamente tornarem-se demônios eram perfeitos até escolherem esse caminho. Isso mostra que qualquer criatura perfeita pode escolher não seguir a Deus e a moral. É claro que pode! Deus deu livre-arbítrio às criaturas. Então, talvez Deus soubesse que inevitavelmente sempre surgiria alguém com a seguinte dúvida: “Sou obrigado a obedecer a Deus? Por quê? E se eu não quiser mais?”. Se isso estiver correto, a única maneira de evitar essas dúvidas sendo honesto com suas criaturas, permitindo que elas possam escolher não segui-lo e julgar entre o bem e o mal, fosse deixando que essas as coisas seguissem seu rumo natural.

    Poderíamos especular também que essa permissão de as coisas seguirem esse rumo seja o melhor arranjo entre as várias hipóteses possíveis. Talvez uma atitude diferente de Deus não servisse para gerar, depois da extinção do pecado, um mundo tão bom quanto o qual Ele almeja. Não sabemos. Mas são especulações plausíveis. E eu não vejo motivo para achar que um Deus onisciente e moral, sabendo de todas as hipóteses possíveis, não escolheria a melhor. Se Ele realmente existe e tem esses atributos, não há razão para pressupor que Ele, podendo fazer melhor, resolveu fazer menos que isso.” ”

    Eu não gosto da explicação pelo fato de que se para Deus existem razões morais suficientes para permitir um mal que pra nós não tem justificação, os conceitos bem e mal perdem o sentido, passam a estar além da nossa compreensão não fazendo também sentido atribuir bondade a Deus, já que não saberíamos de fato o que é realmente bondade para poder dizer que Deus é bom.

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  23. “Eu não sou um evolucionista-teísta. Mas compreendo a forma de pensar dos mesmos. O que se deve ter em mente é que, tanto em um mundo em que Deus tenha criado tudo em curto espaço de tempo, como em um mundo onde ele tenha criado tudo gradativamente, através de um processo evolucionário, esse mundo antes do pecado era diferente do que é hoje. Quando olhamos para a natureza hoje, percebemos que, embora bela, ela é cruel e desarmoniosa. Ela procura uma harmonia limitada dentro de um enorme campo de batalha biológico. Isso vai desde o nível microscópico ao macro. Certamente não era assim no início.
    Então, caso Deus tenha utilizado o processo de evolução no mundo, esse processo certamente não era baseado em seleção natural no princípio. O surgimento seleção natural seria apenas uma resposta da natureza a um novo quadro que se formou nela; um quadro onde agora seus componentes lutam entre si e apenas o mais forte (ou o que melhor se desenvolve) sobrevive. Antes disso, ou Deus guiou o processo ou, de modo natural, criou mecanismos naturais nos organismos que faziam com que os mesmos fossem conduzidos gradualmente a estágios mais evoluídos. Já era mais ou menos nisso que acreditava Santo Agostinho de Hipona, mais de mil anos antes de Darwin.
    Quanto à seleção natural, embora ela exista hoje (e eu creio nela), não é necessário supor que ela sempre existiu. De fato, se um dia a natureza foi perfeita, ela não poderia ter existido desde sempre mesmo. Ela é um mecanismo de adaptação da natureza ao novo panorama de desordem e luta biológica, tanto em um mundo guiado pelo processo evolutivo, como pelo processo criacionista.
    A ciência diz que nós somos “Homo sapiens”. Houve um estágio evolutivo antes do nosso. Evidentemente, em dado momento da história nós deixamos esse estágio para nos tornar Homo Sapiens. Por mais que essa transição possa ter demorado milhões de anos para se completar e ocorrido de modo muito gradual, quase imperceptível, e com alguns indivíduos antes de outros, essa transição um dia se completou e passamos a ser o que nós somos hoje. Pois bem. O que o evolucionismo-teísta sustenta é que algum tempo depois que esse processo de transição se findou, por algum motivo todos os homo sapiens escolheram desobedecer a Deus. O pecado desfigurou a natureza, os instintos se tornaram como “facas de dois gumes” e todos os demais homo sapiens passaram a nascer com essa natureza desarmoniosa por consequência natural. O livre arbítrio permanece e qualquer um pode escolher o bem e viver, mas o mundo harmonioso de antes só será possível novamente depois que todas as chances forem esgotadas para a humanidade caída e Deus renovar a natureza.”

    Se você não é evolucionista teísta,deduzo,portanto que não acredite em evolução,já que você é teísta.Mas a evolução é um fato.Um fato que demonstra a qualidade dos seres humanos como apenas animais em grau,não qualitativamente. Em suma, o que a evolução diz não é que descendemos de macacos, mas sim que "somos" macacos. E,de acordo com a ciência,a seleção natural precisou existir desde o começo do surgimento da vida na Terra.Há quem não suporte admitir isto, por considerar que fomos criados por Deus à sua imagem e semelhança.O que temos de superior a outros animais é apenas uma questão de grau e não de uma diferença qualitativa,contrariando diretamente o conceito da tal “imagem e semelhança”. Não é inexorável que a mente humana apareça no universo porque a evolução é um processo cego e sem direção. Talvez seja por isso que o teísmo de tanta gente dependa da inútil persistência em negar a teoria da evolução. Como diria Dawkins,“É absolutamente seguro dizer que, se você encontrar alguém que afirme não acreditar na evolução, esta pessoa é ignorante, imbecil ou insana (ou maligna, mas eu prefiro não considerá-la assim).”

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  24. “Não, meu amigo. Nem sempre a justiça se traduz em prêmio ou punição ao autor da ação-objeto de apreciação. A justiça pede uma punição, a fim de valorar e ressaltar a negatividade do ato cometido. E a punição, por sua vez, pede que o autor do ato errôneo se arrependa do ato cometido, sentindo desejo de não cometê-lo mais. Isso, pelo menos, no nível moral. O que Jesus faz preenche todos esses requisitos. Ele cumpre com a punição (valorando o pecado como algo hediondo e execrável), ele mesmo (que, sendo o ofendido, tem esse direito) e exige do pecador pelo qual Ele morreu que o mesmo se arrependa. Nesse sentido, tanto a morte, quanto às próprias privações que passou Jesus em sua vida de homem servem aos homens que conhecem sua história até mesmo como um mecanismo de identificação com suas mazelas, de incentivo a vencer as dificuldades e de comoção do interior (da consciência, da alma, do espírito), gerando arrependimento e vontade de ser bom por amor a quem os amou. Se um pecador faz isso, já não há nada para se acusar no julgamento de Deus. Ele cumpriu os requisitos todos.”

    Não consigo engolir como alguém que erra não tenha que pagar pelos próprios erros.
    Ainda que essa pessoa se arrependa,isso não é suficiente.Ou pior,como pode ser justo
    uma pessoa inocente pagar por algo que ela mesma não cometeu,ao pagar pelo erro dos outros.Até porque,se era para haver um sacrifício, então foi tudo uma burla, pois na visão interna do cristianismo, Jesus era tanto homem quanto Deus (corpo, alma e divindade e não só corpo e divindade, como o queria a heresia apolinária). A ortodoxia católica, ortodoxa e protestante considera a “união hipostática” da humanidade com a divindade de Jesus, sendo ele, portanto (segundo esta visão) sempre Deus e sempre homem, indissoluvelmente. Logo não poderia ter morrido e, daí, não houve sacrifício algum.

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    1. Amigo, você ainda não entendeu absolutamente nada do que argumentei em matéria de moral/ética. Vou tentar explicar mais uma vez. Pensemos em um princípio qualquer, por exemplo, “É errado fazer mal ao nosso próximo”. Se faço essa afirmação, mas não tenho nenhuma razão para validá-la, estou sendo arbitrário, certo? Então, preciso responder à pergunta: “Por que é errado fazer mal ao nosso próximo?”. Dentro da visão ateísta, há três possíveis respostas:

      (1) Porque se eu fizer mal ao meu próximo, isso pode ser prejudicial a mim;

      (2) Porque devemos preservar a espécie;

      (3) Porque temos empatia natural e devemos seguir esse sentimento (ou instinto).

      Vamos analisar cada uma delas. A primeira se baseia na autoproteção. É errado eu fazer mal ao meu próximo porque, fazendo isso, ele pode querer fazer mal a mim ou mesmo à sociedade. Mas se o princípio se baseia só nisso, então, na verdade, não é errado fazer mal ao próximo. É simplesmente algo perigoso para minha vida e bem-estar. Só que eu posso muito bem querer correr o risco. Talvez valha a pena para mim. Além do mais, eu posso fazer o mal a alguém de um modo que não me prejudique. Por exemplo, eu acho que vale à pena roubar algo do meu vizinho. Mas não quero que ninguém saiba, pois isso me seria prejudicial. Então, eu armo um plano para roubar sem ser visto e descoberto por ninguém.

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    2. Você pode argumentar: “Mas se todo mundo pensasse assim, a terra seria um inferno para todos nós”. Mas esse argumento não faz sentido. Não é porque eu escolho fazer determinada ação que todas as pessoas do mundo irão fazer também. Principalmente se eu fizer escondido. Então, não é necessário eu pensar nas implicações de como seria o mundo se todos agissem como eu. Isso muito provavelmente não vai ocorrer. Mas ainda que haja esse risco, eu posso fazer o que quero escondido, mas influenciar a sociedade a continuar acreditando firmemente que é errado fazer mal ao próximo.

      Ainda que o plano dê errado e todo mundo comece a fazer mal ao próximo (algo muito improvável), o que é perigoso para minha vida e bem-estar, nada disso significa que realmente é errado fazer mal ao próximo. Apenas significa que é perigoso para mim. O mundo poderia ser um inferno, com todos fazendo mal uns aos outros, e mesmo assim isso não ser errado, apenas perigoso para cada pessoa. Então, essa primeira opção não serve para explicar porque fazer mal ao próximo é errado. Ela serve para explicar que isso pode ser (pode ser) perigoso e inconveniente para a autoproteção. Só isso. É um motivo pragmático e individual.

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    3. A segunda opção não é melhor que a primeira. Ela evoca outro princípio: “É certo ajudar a preservar a espécie”. Mas por que é certo ajudar a preservar a espécie? Isso também precisa de uma razão. E, quando eu paro para pensar no caso, não vejo qualquer razão para isso. Pelo contrário. Todo mundo vai morrer um dia, inclusive eu. Por que raios eu deveria me preocupar com o que ocorrerá a espécie depois que eu partir? Isso não faz sentido. Ainda mais quando a vida não tem absolutamente nenhum valor objetivo. O valor que atribuo a minha vida ou a de outros é subjetivo. Valorizo minha vida e das pessoas próximas porque isso me causa uma boa sensação. Não quer dizer que elas realmente valem algo. Vidas são apenas acidentes, meros conjuntos de átomos e reações químicas, aleatoriedades do universo que eu valorizo arbitrariamente para me sentir melhor, já que, por um acaso, nasci com certos sentimentos. Então, ajo como se realmente fosse certo valorizar vidas e preservar a espécie por um motivo pragmático e individual: vou me sentir melhor.

      Voltando a questão da espécie, aliás, eu também só a valorizo porque nasci com esse instinto. Mas não faz o menor sentido eu querer que a espécie continue existindo. Se o que vai ocorrer a todos as pessoas vivas é voltar ao mesmo estado de quando não haviam nascido, nascer é irrelevante, talvez até idiota. Não faz sentido desejar e se engajar na preservação de uma espécie que só faz gerar pessoas destinadas a morrer eternamente. Que sentido tem isso? Tenho muito mais motivos para desejar que a espécie seja extinta. Então, essa segunda opção também não serve para explicar porque fazer mal ao próximo é errado. Ela serve apenas para induzir o máximo de pessoas possível a crerem que realmente é errado fazer mal ao próximo. Só isso. Não nos oferece qualquer motivo para por que é certo preservar a espécie.

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    4. A terceira opção também não ajuda em nada. Ela argumenta pela nossa empatia natural, nos impondo que devemos segui-la. Mas por que é certo segui-la? Só porque ela é natural? Ora, isso não faz sentido. A existência do ser humano e seus atributos não têm qualquer finalidade. Tanto faz seguir nossa natureza ou não. E, de fato, muitas pessoas escolhem agir diferente de sua natureza, porque isso melhor lhe apraz. Há pessoas, por exemplo, que utilizam o ânus para receber sêmen, quando o ânus serve naturalmente para excretar fezes. Por que essas pessoas estariam erradas, se não há qualquer finalidade no ser humano? O que fazemos ou deixamos de fazer não tem relevância alguma e um dia tudo será apagado.

      Além do mais, se o certo é seguir a natureza (e os instintos), por que razão seria errado um homem estuprar uma mulher? Quando um homem se sente atraído por uma mulher, isso ocorre por que temos um instinto natural de reprodução para preservação da espécie, entre outras coisas. Entre os animais é comum, aliás, que um macho force uma relação sexual com uma fêmea. Se ela não quer, seja lá por qual motivo, deve correr e ganha quem conseguir se superar. Se realmente o princípio é seguir a natureza e os instintos, por que esse cenário não seria certo para humanos?

      Há outros questionamentos. É válido basear nossos princípios éticos/morais em meros sentimentos? Só porque temos determinada sensação natural e não outra, isso é o suficiente para autenticar algo como certo ou errado? Devo lembra-lo que basear-se tão-somente em sentimentos é ser sentimentalista e não racional. Outra: e se tivéssemos nascido com um “ódio natural”, seria errado seguir esse instinto? Por quê? Se não, não faz sentido, já que a opção aqui diz que o é certo seguir o sentimento natural. E mais uma coisa: quem nasceu psicopata e não tem como sentir empatia? Os atos criminosos que ele comete estão errados? Se sim, não faz sentido, porque o motivo básico para ele não fazer mal ao próximo é a empatia. Se ele não a tem, não está errado. Apenas está sendo inconveniente ao senso (e/ou instinto) de autoproteção de cada pessoa.

      Em suma, nenhuma das opções logra êxito em explicar por que razão seria errado fazer mal ao próximo. Elas apelam à autoproteção, ao pragmatismo, ao sentimentalismo, mas nada disso serve para afirmar que fazer mal ao próximo é errado. Elas explicam que pode ser perigoso para a autoproteção, perigoso para a preservação da espécie, contrário ao sentimento natural da maioria das pessoas e etc., mas não explicam porque é uma atitude errada. Estabelecem-se estes padrões apenas por mera conveniência. Não existe certo e errado; existe conveniente ou não.

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    5. “Circularidade mesmo é querer achar que determinada coisa é certa ou errada só porque Deus quis que achemos que seja assim”.

      Você está sendo desonesto. Já expliquei várias vezes detalhadamente que não se trata de mero desejo de Deus. Segundo o pensamento cristão, a moral é um atributo que faz parte do Ser de Deus, tal como a lógica ou a razão, por exemplo. Você insiste em fazer ouvido de mercador e me alfinetar dizendo que os cristãos fazem ou deixam de fazer algo por mero desejo de Deus. É como se estivesse me dizendo que eu tenho um coração pulsando no meu peito só porque eu estou desejando ter, que o dia que eu parar de desejar isso ele desaparece daqui.

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    6. “Não dá pra saber quais critérios ele utilizou para que definir o que é certo ou errado. Por que quis que achássemos isso certo ou aquilo errado? Não dá pra saber”.

      E qual critério se utilizou para definir que 2 + 2 é 4?

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    7. “Mas se Deus é onisciente, como pode haver livre-arbítrio? Se houvesse um ser onisciente ele teria o conhecimento de todos os eventos do universo em todos os lugares e momentos, passados e futuros. Isto invibializa o indeterminismo quântico, que é a base do livre arbítrio. Como esse indeterminismo é constatado, conclui-se que não há ser onisciente nenhum”.

      Não. Livre arbítrio significa liberdade para escolher. O fato de alguém já saber o que vamos escolher antes de escolhermos em nada altera nossa escolha ou nossa liberdade de optar por uma coisa ou outra.

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    8. “Por acaso, a moral transcendente de um cristão do século 21 inclui apedrejar pessoas por adultério, morte por apostasia, punição por quebrar os sábados, por exemplo, assim como acreditavam as pessoas daquela época? Todas essas coisas são morais objetivas baseadas pela Bíblia”.

      Expliquei que Deus tem o direito de tirar vidas e de outorgar ao ser humano o direito de tirá-las quando julgar necessário. Então, o problema é saber quando Deus outorgou ou não. No caso das leis judaicas do Antigo Testamento, caso a Bíblia realmente seja verdadeira, elas foram dadas em um contexto de regime teocrático no qual Deus fazia grandes milagres e dava grandes evidências externas (visíveis e palpáveis a todo o povo) de sua existência, de forma que ninguém em Israel tinha como duvidar que ele existia. Além do mais, aqueles que deram as leis, como Moisés, por exemplo, também apresentavam grandes evidências externas de que era guiado por esse Deus. Assim, tais leis, naquele contexto, podiam ser seguidas sem maiores problemas. Quem não quisesse segui-las, tinha a opção de sair de Israel.

      E por que essas leis existiam? Porque, naquele contexto específico, eram necessárias para proteger a crença monoteísta e a religião judaica até a vinda de Cristo, assegurando a salvação do ser humano. Tendo vindo Jesus Cristo, a teocracia se fez desnecessária e os preceitos religiosos passaram a ser assunto estritamente individual, como era no início, antes de Deus formar a nação de Israel (o que fez apenas para impedir que o monoteísmo e os preceitos verdadeiros fossem sufocados e, consequentemente, Jesus não pudesse vir ao mundo).

      Em meu livro listo cinco requisitos básicos que precisam ser observados para que alguém chegue a conclusão de que Deus outorgou matar. Se esses cinco requisitos não são cumpridos, não houve outorga. Uma vez que são cinco requisitos bem específicos, como, por exemplo, apresentar seu Deus às pessoas através de milagres de grandes proporções (como, no Antigo Testamento, a abertura do mar vermelho), segue-se que, não, as passagens bíblicas não margem alguma para que qualquer pessoa alegue ter recebido revelação de Deus para matar a outrem. Na verdade, mapeando grandes genocídios como a Inquisição, as Cruzadas, o ataque às torres gêmeas e etc., nenhum deles preenche os cinco requisitos, que são extraídos da própria Bíblia. Tais requisitos só podem ser cumpridos mesmo se, de fato, houver um Deus e Ele tiver outorgado a alguém o direito de matar.

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    9. “Portanto, eu não acho que eu quero uma moral absoluta para a sociedade. Eu acho que quero uma moralidade que seja bem-pensada, racionalizada, argumentada, discutida e baseada no que você poderia chamar de regularização. Nós não podemos regularizar uma sociedade para definir que moralidade queremos seguir? Se você reparar nas moralidades aceitas por pessoas do século 21, não acreditamos mais na escravidão, acreditamos nos direitos das mulheres, nos direitos dos animais, por exemplo”.

      O fato de haver pontos da moral que eram ignorados ou interpretados de modo distinto no passado não significa que era certo e passou a ser errado. Escravidão, por exemplo, sempre foi errado, por mais que o mundo inteiro já tenha praticado e tentado justificar isso. Poligamia sempre foi errado, por mais que o mundo inteiro já tenha praticado e tentado justificar isso. Lembre-se que não estou falando de consciência ou sensibilidade moral. Eu disse isso em minha última resposta. Estou falando da moral em si. Se um comportamento é moral, não importa se o mundo inteiro preferiu agir contrariamente a isso durante milênios ou age contrariamente hoje. Se é moral, sempre foi moral e continua sendo, independentemente do que a humanidade pensa. Não estou discutindo mecanismos que nos ajudem a descobrir o que é moral. Estou discutindo a moral. O fato de as pessoas ignorarem, a adulterarem ou interpretarem mal à moral não significa que ela é mutável. Significa que nós temos livre arbítrio para segui-la inteiramente ou não. Infelizmente, na maior parte do tempo, a humanidade não a seguiu inteiramente.

      [Eu sei que você vai me perguntar: “Mas a Bíblia Sagrada não defendia escravidão e poligamia?!”. Pode perguntar. Respondo na próxima leva de comentários].

      “Essas moralidades são muito recentes. Não eram transcendentes para ninguém até alguns séculos atrás”.

      Viu como você está entendendo tudo errado? Repara bem no que você disse: “Não eram transcendentes para ninguém”. Ou seja, “Ninguém achava assim”. Ou seja, você está falando de sensibilidade moral, de consciência. Eu não estou falando disso. Não me importa o que as pessoas pensavam. Se a moral é transcendente, ela transcende até o que as pessoas pensavam. Elas achavam certo escravizar. Mas a moral transcendia essa opinião geral. O que mudou não foi a moral, mas a consciência das pessoas.

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    10. “Eu não gosto da explicação pelo fato de que se para Deus existem razões morais suficientes para permitir um mal que pra nós não tem justificação, os conceitos bem e mal perdem o sentido, passam a estar além da nossa compreensão não fazendo também sentido atribuir bondade a Deus, já que não saberíamos de fato o que é realmente bondade para poder dizer que Deus é bom”.

      Errado. Somos dotados de raciocínio. A maior parte das coisas nós temos condições de julgar os motivos e saber se é bom ou mal. O pouco que não temos como saber, pode ser inferido com um grau alto de probabilidade. Esse pouco que não conhecemos se dá por um motivo simples: não somos oniscientes.

      “Se você não é evolucionista teísta, deduzo, portanto que não acredite em evolução, já que você é teísta. Mas a evolução é um fato”.

      Não vou discutir evolução aqui. Primeiro porque foge ao assunto do post. Segundo porque você já bateu o martelo: “A evolução é um fato”. Uma afirmação enfática sem me oferecer qualquer razão para isso. Ainda citou uma frase espúria de Dawkins, querendo dar a entender que sou uma pessoa “ignorante, imbecil ou insana (ou maligna)”. Então, não há o que discutir. Eu chamo isso de “dogma”.

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    11. “Não consigo engolir como alguém que erra não tenha que pagar pelos próprios erros. Ainda que essa pessoa se arrependa, isso não é suficiente”.

      Engraçado você dizer isso. Em outro comentário você afirmou que o que se espera de um Deus amoroso é que Ele perdoe uma pessoa sem que ninguém precise ser punido, nem o ofendido, nem o ofensor. Expliquei a você que a punição era necessária. Aí você agora muda de ideia e acha que o ofensor deveria pagar pelo próprio erro. Você está brincando comigo, né?

      “Ainda que essa pessoa se arrependa, isso não é suficiente. Ou pior, como pode ser justo uma pessoa inocente pagar por algo que ela mesma não cometeu, ao pagar pelo erro dos outros”.

      Não seria justo se não fosse o próprio ofendido que estivesse tomando sobre si a pena. O ofendido é o único que pode perdoar o ofensor. Consequentemente, se há uma punição que precisa ser dada para benefício da justiça (justiça aqui como conceito), apenas o ofendido pode recebê-la, caso ele queira livrar o ofensor.

      “Até porque, se era para haver um sacrifício, então foi tudo uma burla, pois na visão interna do cristianismo, Jesus era tanto homem quanto Deus (corpo, alma e divindade e não só corpo e divindade, como o queria a heresia apolinária). A ortodoxia católica, ortodoxa e protestante considera a “união hipostática” da humanidade com a divindade de Jesus, sendo ele, portanto (segundo esta visão) sempre Deus e sempre homem, indissoluvelmente. Logo não poderia ter morrido e, daí, não houve sacrifício algum”.

      Jesus era Deus em sua natureza original, mas em corpo e mente de homem. Quando morreu, morreram seu corpo e sua mente de homem. Logo, morreu um homem. Não era um homem que precisava morrer? Tudo certo, então.

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  25. Eu acabei de dizer que certo é aquilo que faz o bem e errado, aquilo que faz o mal. Só isso. E que devemos fazer o bem porque as conseqüências de fazer o bem são preferíveis as conseqüências de fazer o mal. É tão difícil assim de entender?

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  26. “Você está sendo desonesto. Já expliquei várias vezes detalhadamente que não se trata de mero desejo de Deus. Segundo o pensamento cristão, a moral é um atributo que faz parte do Ser de Deus, tal como a lógica ou a razão, por exemplo. Você insiste em fazer ouvido de mercador e me alfinetar dizendo que os cristãos fazem ou deixam de fazer algo por mero desejo de Deus. É como se estivesse me dizendo que eu tenho um coração pulsando no meu peito só porque eu estou desejando ter, que o dia que eu parar de desejar isso ele desaparece daqui.”

    Não vejo diferença nenhuma em dizer que “a moral é um atributo que faz parte do Ser de Deus” e dizer que devemos fazer alguma coisa por que Deus quis.

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  27. “E qual critério se utilizou para definir que 2 + 2 é 4?”

    Não entendi o que você quis dizer com isto.De qualquer forma,2+2=4 decorre dos axiomas de Peano,ou seja,de construção dos números naturais por adições consecutivas de 1.

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  28. A sensibilidade moral importa sim,pois se a moral é transcendente e divina, então todos os seres humanos já nasceriam com noção de que isso ou aquilo não deveria ser feito,se considerarmos o fato de que Deus quer só o bem da humanidade. Se Deus queria e deveria ter colocado a noção de que a escravidão, machismo,etc. são imorais na cabeça de todo mundo,desde o começo da humanidade,sabe-se lá porque não faz isso.

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  29. “Errado. Somos dotados de raciocínio. A maior parte das coisas nós temos condições de julgar os motivos e saber se é bom ou mal. O pouco que não temos como saber, pode ser inferido com um grau alto de probabilidade. Esse pouco que não conhecemos se dá por um motivo simples: não somos oniscientes.”

    Mas se não podemos saber quais são as intenções de Deus,então como podemos julgar se os motivos da maior parte das coisas é,realmente,bom ou mal?

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  30. “Não. Livre arbítrio significa liberdade para escolher. O fato de alguém já saber o que vamos escolher antes de escolhermos em nada altera nossa escolha ou nossa liberdade de optar por uma coisa ou outra.”

    O livre-arbítrio é uma conseqüência da incerteza quântica. Isto é, da existência do acaso.
    É o acaso que nos dá oportunidades para o que vamos escolher.E a onisciência requer o conhecimento de todas as ocorrências, com todo o conteúdo do Universo, em todos os lugares e em todos os momentos. Isto envolve troca de informação, que precisa ser transmitida por algum intermediário, que, no Universo, são os fótons e eles têm uma limitação de velocidade que faria com que a informação que chegasse a cada ponto, proveniente de outros, teria um atraso tanto maior quanto mais longe estivesse a origem. Isto poderia ser contornado se o sistema receptor estivesse presente em todo o Universo e sua mente também se estendesse por todo ele e pudesse ter a percepção instantânea de tudo ao mesmo tempo. Não sei, e não vejo como saber, que estrutura mental teria Deus para que isto se desse, mas, admitamos que fosse possível, o que não acho. Mas há um grande problema com o indeterminismo quântico. Por ele, uma vez que exista um estado do Universo em um dado momento, nada há que possa determinar, a partir dele, como será o estado do Universo no momento subsequente. A informação a respeito só pode ser obtida após o atingimento desse novo momento. Então Deus não poderia saber o futuro e, assim, não teria conhecimento total de tudo no espaço e no tempo.Como Deus é proposto como um ser onisciente,conclui-se,portanto,que Deus não existe.

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  31. “Não vou discutir evolução aqui. Primeiro porque foge ao assunto do post. Segundo porque você já bateu o martelo: “A evolução é um fato”. Uma afirmação enfática sem me oferecer qualquer razão para isso. Ainda citou uma frase espúria de Dawkins, querendo dar a entender que sou uma pessoa “ignorante, imbecil ou insana (ou maligna)”. Então, não há o que discutir. Eu chamo isso de “dogma”.”

    Eu não preciso oferecer-lhe razões para acreditar na evolução.Basta pesquisar sobre ela,e verá que é sim um fato,tanto que a esmagadora maioria dos cientistas concorda com ela. Fatos são as ocorrências da natureza, da mente ou da sociedade. A ciência provê interpretações e modelos explicativos dos fatos. No caso da evolução os fatos são as observações comparativas dos seres vivos, atuais e fossilizados, com as respectivas datações, quer estratigráficas, quer radiométricas. Dizer que essas alterações, verificadas progressivamente, são o resultado de mutações e seleções é a evolução, atualmente já promovida de hipótese a teoria, pois, inclusive, verificada diretamente em alguns casos de bactérias.Uma teoria tão comprovada quanto a do heliocentrismo ou da gravidade,por exemplo.E é justamente por isso que eu não vejo nada de espúrio na frase do Dawkins.Se você encontrasse alguém que não acredite que a terra gira em torno do sol,ou que os corpos caem,estaria errado chamá-la de ignorante,imbecil,insana ou maligna? De jeito nenhum.Então,não vejo o que há de espúrio.

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  32. “Engraçado você dizer isso. Em outro comentário você afirmou que o que se espera de um Deus amoroso é que Ele perdoe uma pessoa sem que ninguém precise ser punido, nem o ofendido, nem o ofensor. Expliquei a você que a punição era necessária. Aí você agora muda de ideia e acha que o ofensor deveria pagar pelo próprio erro. Você está brincando comigo, né?”

    O que eu quis dizer é que se Deus é um ser onipotente,então ele tem,de fato,a capacidade de perdoar a todos sem problema nenhum.Mas sob uma perspectiva terrena,isso é difícil de aceitar.Não faz sentido pensar,por exemplo,um juiz simplesmente “perdoar” um criminoso sem mandá-lo para a prisão.Ou pior,mandar um inocente,voluntariamente,ser preso para pagar pelo que o outro fez.

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  33. “Não seria justo se não fosse o próprio ofendido que estivesse tomando sobre si a pena. O ofendido é o único que pode perdoar o ofensor. Consequentemente, se há uma punição que precisa ser dada para benefício da justiça (justiça aqui como conceito), apenas o ofendido pode recebê-la, caso ele queira livrar o ofensor.”

    Mas o ofendido pelas ações dos humanos não é Jesus, os ofendidos são os outros seres humanos prejudicados por essas ações ofensoras.

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  34. “Jesus era Deus em sua natureza original, mas em corpo e mente de homem. Quando morreu, morreram seu corpo e sua mente de homem. Logo, morreu um homem. Não era um homem que precisava morrer? Tudo certo, então.”

    Não é isso que diz o dogma.Ele diz claramente que Jesus era sempre Deus e sempre homem, indissoluvelmente.Quer dizer,uma parte não podia se separar da outra.

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  35. Parabéns pelo texto!!
    Li também suas respostas aos comentários e achei bastante racional sua forma de tratar o tema.

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  36. Nem todo crime é pecado e nem todo pecado é crime. Exemplo de crime que não é pecado: evangelização na China. Exemplo de pecado que não é crime: fanatismo.

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