segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Destrinchando Zeitgeist – Parte 5: Religiosos Políticos

Refutar o documentário Zeitgeist não é uma missão difícil. Como nós pudemos ver ao longo dessa série, o filme é ridículo, do ponto de vista acadêmico. Comete erros cavernosos de metodologia histórica, se baseia em especulações, comparações forçadas e distorções e não tem a menor vergonha de mentir descaradamente. Seus produtores beiram o mais alto estágio da mitomania.

Entretanto, mesmo mostrando da maneira mais clara as mentiras presentes nessa produção, não é fácil convencer uma pessoa de que o documentário é mentiroso. Existe um motivo bem simples para isso: todos tendem a acreditar que pessoas não-religiosas são mais amigas da razão. É como se elas não tivessem nenhuma crença para defender e, por isso, nenhum dogma. Elas não se guiam pela fé, mas pela razão.

Mas o que o leitor diria se descobrisse que o documentário que se esforça tanto para condenar a religião tradicional (alegando que ela se baseia em crenças irracionais e pode ser usada para o mal) defendesse crenças de outra religião, muito mais irracional e muito mais perigosa? Seria digno de confiança um documentário desses?

Pois bem, o que nós vamos analisar nessa última postagem da série é como que o documentário Zeitgeist defende com uma fé fervorosa a chamada religião política. Ou seja, veremos como seus produtores não passam de religiosos políticos.

A crença no homem em Zeitgeist

A crença no homem é o principal dogma humanista. É a crença antropocêntrica de que o ser humano é bom por natureza e altamente capaz de transformar o mundo em um paraíso com suas próprias mãos. Para o humanista, os males do mundo não resultam de uma inclinação natural do ser humano à imperfeição, mas sim de algo externo ao ser humano que, se for extirpado, mudará a história do mundo.

E qual são as evidências de que realmente o homem é bom por natureza e pode fazer o céu na terra? Nenhuma. Conforme observo na postagem “A crença no homem: uma análise crítica”, as evidências são justamente contrárias a essa idéia. Do ponto de vista darwinista, o homem é apenas um animal como outro qualquer. Ele tem instintos e características naturais também presente nos animais como: a luta pela sobrevivência, o territorialismo, o gregarismo, a luta pela liderança de seu bando, o predadorismo, a luta pelas mesmas fêmeas e etc. A diferença entre o homem e os animais é que o primeiro possui razão. Não obstante, é exatamente isso que o torna um animal mais perigoso que todos os outros. Ele é capaz de maquinar o mal, de cometer excessos e de transformar as piores maldades em hábito.

É por esse motivo que muitas vezes vemos crianças de dois anos de idade com ciúmes excessivos de um brinquedo ou invejando o brinquedo do outro. Não foram os pais ou a sociedade que ensinaram isso a ela. É uma característica natural. Os homens são inclinados ao erro desde o nascimento até a morte, e o drama da humanidade é essa constante luta de cada pessoa contra as suas próprias inclinações. (Lembrando que ainda que o mal no homem fosse tão-somente social, também não há evidências de que os homens podem se descorromper por completo e não se corromperem socialmente de novo. Em vez disso, a história do mundo evidencia justamente o oposto).

No entanto, como se não bastassem todos os problemas que advém ao mundo em função dessa natureza corrupta do homem, o humanismo existe. O humanismo é o pior dos tumores do mundo porque nega a natureza do homem e tenta incutir na mente das pessoas a idéia de que dá para mudar a história. Como resultado, cria-se uma legião de bitolados que procuram colocar a culpa do mal em algum agente externo que não seja a natureza do homem. É neste ponto que a ingênua crença humanista se torna uma arma perigosíssima.

Cada crente humanista começa a ver a si mesmo e ao seu grupo de crentes como o poder revolucionário que ajudará a trazer a redenção para o mundo. Define-se, então, o inimigo mundial, a raiz de todos os males, e uma retórica de ódio a esse inimigo se inicia. Podemos enumerar os passos do humanista da seguinte forma:

(1) defini-se que o mal da sociedade não está na natureza humana;

(2) busca-se um bode expiatório para pôr a culpa desse mal (a burguesia, ou os conservadores, ou os judeus, ou os cristãos ou qualquer outro);

(3) instiga-se o ódio aos “culpados”, pois eles não deixam o paraíso ser formado;

(4) legitima-se toda e qualquer ação contra os “culpados”, em prol de um bem maior e supremo, que será alcançado quando eles forem eliminados.
Muito bem, é justamente essa mentalidade revolucionária que define o que chamamos de religião política. A religião política é a religião de todo humanista e de todo esquerdista. É a fé que coloca o ser humano como o próprio Deus e que elege um grupo de pessoas inimigas, que levarão a culpa de todos os males do mundo, sendo, por isso, demonizadas.

Essa era a religião dos ditadores Lênin, Stálin, Mao Tsé Tung e Pol Pot, que são considerados heróis pela esquerda, embora tenham levado à morte mais de 100 milhões de pessoas em menos de um século. Essa era a religião de Hitler, que levou cerca de 50 milhões de pessoas à sepultura. Essa foi a religião do ditador King Jong, da Coréia do Norte, que é o país mais fechado do mundo. Essa é a religião de Fidel Castro, também um ditador. Essa foi a religião do famoso Che Guevara, que era um assassino frio. Essa foi a religião de Robespierre, talvez o primeiro homem a fazer discursos bem explícitos que legitimavam o assassinato de qualquer que parecesse ser contrário à revolução – foi sob seu comando que cerca de 50 mil pessoas foram mortas no chamado Período do Terror (1793-1794), a maioria inocente. E eu não comentei sobre as atrocidades que eram feitas com os vivos como estupros, esquartejamentos e torturas.

Com efeito, a religião política matou e oprimiu muito mais gente em um século do que a Igreja Católica em 1200 anos de supremacia. As tão difamadas “Cruzadas” e “Santa Inquisição” (que, eu concordo que não foram coisas boas), não mataram juntas nem 10% do que matou a religião política. As estimativas mais exageradas giram em torno de 800 mil a 2 milhões de mortes.

Neste ponto, o leitor já deve ter compreendido aonde eu quero chegar. Zeitgeist é um documentário altamente religioso. Só que político. A sua intenção é instigar o ódio à religião tradicional. Para seus produtores, a religião tradicional é uma pedra no sapato do mundo e eles, por sua vez, são os heróis da humanidade.

O religioso político acredita ter a missão de iluminar o mundo, de dizer a todos que a religião tradicional é uma farsa e que ela é a causa de todo o mal. O religioso político vê a si mesmo como um santo, que faz parte de um grande movimento que fará um paraíso na terra. Por esse motivo, qualquer coisa que fizer para alcançar esta meta, estará legitimada. Em um primeiro estágio, isso inclui mentir descaradamente. É o que o documentário Zeitgeist faz. Não importa que isso seja imoral. Os produtores acreditam veementemente que a religião tradicional é o mal do mundo. Então, qualquer mentira contra a religião é uma mentira santa.

É por causa de pessoas assim que ditaduras, opressão e genocídio se instauram no mundo moderno. Não que elas realmente queiram isso, mas em prol de um “bem maior”, as pessoas são levadas a apoiar qualquer atrocidade contra os inimigos. Quanto mais pessoas houver que estão convencidas de que o mal provém de um grupo e não da natureza humana, mais atrocidades poderão surgir daquele meio. E é assim que surgem oportunistas e pessoas que se corromperam ao ter o poder nas mãos. Ambas se utilizam da retórica da religião política para manter-se no poder e continuar com a opressão.

Zeitgeist constitui o primeiro estágio da mentalidade revolucionária no que diz respeito à luta contra a religião tradicional. Ele leva ateus, agnósticos, deístas, panteístas, umbandistas, candomblecistas e até alguns teístas a terem ódio da religião tradicional, vendo-a como opressora. O ódio é importante, porque ele é a antecâmara da agressão verbal e física. É o elemento justificador da atrocidade. E é só com sua evolução gradual que um governante consegue explorá-lo, a fim de perseguir determinado grupo.

O Projeto Vênus

Zeitgeist não faz um serviço incompleto para a religião política. Apenas apontar a religião tradicional como uma pedra no sapato do mundo seria muito pouco. Afinal, sabemos que nem todos os problemas do mundo são de ordem religiosa. Por isso, o documentário relaciona a religião tradicional aos grandes capitalistas. É a velha ladainha marxista de reduzir a religião a um produto fabricado pela classe opressora para oprimir e controlar os mais pobres.

No fundo, Zeitgeist é um filhote do marxismo. E como bons marxistas, os seus produtores também apresentam idéias para solucionar o problema do mundo. A solução seria algo como o Projeto Vênus, uma idéia apresentada no segundo filme, Zeitgeist: Addendum. Em suma, o Projeto Vênus é uma organização existente desde 1995, fundada por um designer e futurologista chamado Jacque Fresco. Seu objetivo é oferecer idéias de recriação da sociedade através de tecnologia, projetos sustentáveis e uma economia baseada em recursos.

Explicando melhor, para o Projeto Vênus, o que alimenta a ganância do homem e todos os problemas do mundo é a economia monetária (o dinheiro). E o dinheiro só existe porque os recursos (aquilo que as pessoas necessitam) têm sido limitados. Então, o plano seria explorar a tecnologia ao ponto de produzir recursos de sobra para todas as pessoas. Isso faria o dinheiro se tornar obsoleto, as pessoas teriam acesso a tudo o que necessitassem, não haveria mais motivo para roubar, matar, cometer crimes, enfim, todo o mal do mundo seria resolvido. Então, o estado seria abolido e viveríamos em um céu anarquista, bem ao estilo Jonh Lennon.

Mas como fazer isso? Como bons marxistas, os proponentes do Projeto Vênus se baseiam em profecias marxistas. Segundo eles, o capitalismo está cavando a sua própria sepultura. A crescente luta das indústrias por velocidade na produção está substituindo o homem pela máquina. Assim, o índice de desemprego crescerá vertiginosamente até que as pessoas não possam mais comprar os produtos fabricados por essas indústrias. Então, a economia monetária se tornará insustentável e mesmo os grandes empresários irão se sentir pressionados a aderir ao projeto.

Não precisa ser muito inteligente para ver que isso tudo é uma tremenda utopia tecnicista. Uma mistura de positivismo, de Comte (a religião da humanidade, como ele mesmo chamava a sua doutrina) e de marxismo ortodoxo. Na teoria é tudo muito bonito e desejável, mas na prática não dá para fazer. A verdade é que as coisas são assim:

1) O ser humano é ganancioso por natureza. É por isso que nenhum projeto de uma nova sociedade, remodelada, deu certo até hoje. É possível melhorar as coisas, por certo, e devemos perseguir isso. Mas não dá para fazer o céu na terra.

2) Não, o desemprego não vai subir a ponto de grandes empresários e governos aderirem a uma economia baseada em recursos. Primeiro porque existe um número bem grande de profissões que não podem ser substituídas por máquinas. Bombeiro, policial, médico, enfermeiro, anestesista, taxista, motorista de ônibus, atendente, padeiro, gerente de banco, gerente de loja, funcionário de loja, estilista, pedreiro, engenheiro, arquiteto, advogado, juiz, lixeiro, professor, diretor de colégio, segurança, esportista, feirante, empregada doméstica, o pessoal da manutenção das máquinas das grandes empresas e uma infinidade de outras profissões.

Segundo porque, ainda que o número de pessoas em cada uma dessas profissões se torne menor e o desemprego aumente muito, a ganância do homem não permitirá que se faça um projeto de salvação do mundo. Em vez disso, é mais provável que a crise cause a morte de muitas pessoas pobres e guerras. Isso não é conformismo meu, mas é uma observação baseada no que tem ocorrido no mundo desde sempre. Os homens não resolvem as coisas de maneira a beneficiar a todos. “Sad, but true”.

Fugir dessa realidade não é a melhor solução. Nada contra quem gosta de olhar o mundo como Polyana, a menina feliz. Mas o problema dessas utopias globais é que elas sempre terminam deixando a situação muito pior. É sempre assim: você leva milhões de indivíduos a crerem em uma utopia. Eles apoiam e até fazem todo o tipo de atrocidade e opressão em prol dela. No final, a utopia não se realiza (é óbvio) e o que resta, além da desilusão, é uma classe de novos opressores no poder que se utilizaram da ingenuidade alheia para criarem uma ditadura.

Foi assim com o Terror Jacobino (na França), com o comunismo (em todos os países que vigorou), com o progressismo dos democratas americanos (a quem se deve o Estado inchado e belicista, que detonou Hiroshima e Nagasaki), com o fascismo italiano e com o nazismo alemão.

Ok, sejamos honestos, o Projeto Vênus não incita a violência e nem pretende que um governo mude a história do mundo. Mas dificilmente uma utopia de reconstrução do mundo é deixada de lado quando se percebe que ela não dá certo. Em vez disso, o que se faz é reformular a utopia, procurar pontos que possam estar errados, criar vertentes ou reinterpretá-la à luz dos novos acontecimentos.

O ponto é: se aceitamos que dá para mudar o mundo e que o que nos impede é o capitalismo e a religião (como Zeitgeist quer nos fazer crer), cedo ou tarde, uma legião de esquerdistas anti-religiosos cheios de ódio irá tomar medidas mais drásticas. Afinal, o mundo não pode esperar a boa vontade dos burgueses e dos religiosos, não é? É essa mentalidade que gera as perseguições. Como o leitor acha que os nazistas conseguiram apoio dos alemães para perseguir os judeus? Começa-se explorando um preconceito e justificando-o como “a justiça contra os opressores”. No momento correto, alguém dá o ponta pé inicial na perseguição física.

O leitor acha que isso não é possível? Então, dê uma olhadinha nos comentários anti-religiosos que existem pela internet. Você irá se surpreender com a agressividade com que os religiosos políticos tratam os religiosos tradicionais. Com toda a certeza, se alguém colocasse um fuzil na mão de cada um deles, eles não hesitariam em exterminar “o mal que assola o mundo”. É por isso que documentários e livros como Zeitgeist, que mentem descaradamente contra religião tradicional e que tentam nos empurrar crenças humanistas irracionais devem ser considerados instigadores de genocídios.

O sistema que o próprio esquerdismo criou

O aspecto mais irônico que encontramos no esquerdismo (ou religião política, se preferir) é que grande parte das coisas contra as quais ele luta foi e continua sendo fruto do próprio esquerdismo. Por exemplo, quando um religioso político apóia um governo que dificulta a vida das empresas com altos impostos e muitas regulamentações, ele não se dá conta que está favorecendo a criação de hegemonias. Afinal, somente as grandes empresas sobrevivem a essas dificuldades.

E quando um religioso político apóia um governo interventor e cheio de funções e serviços, ele não se dá conta de que está criando fortes laços entre as mega empresas e o governo. Também não percebe que quanto mais dinheiro passar pelos cofres públicos, mais chance haverá de ocorrer má administração e corrupção. Também não percebe que quanto maior o setor público, pior tende a ser o serviço prestado.

O que o religioso político faz é apoiar todos os dias da sua vida um inchamento da máquina estatal doando-lhe, com um sorriso no rosto, mais impostos, mais serviços, mais funcionários, mais funções, mais áreas de atuação e mais poder. Isso me lembra a célebre frase do líder do fascismo italiano Benedetto Mussolini: “Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”. Essa é a síntese do esquerdismo. Mesmo um cara como Karl Marx, que no fim das contas era um anarquista, não abria mão de um Estado inchado temporário, dono de todos os meios de produção (uma oportunidade de ouro para líderes como Lênin e Stálin se tornarem ditadores vitalícios).

O deus dos religiosos políticos é o ser humano. E a encarnação da vontade desse deus é o Estado. Não creio que o próprio governo americano tenha planejado o ataque às torres gêmeas ou que exista uma conspiração mundial organizada de banqueiros que intentam dominar o mundo. Entretanto, ainda que fosse, a religião política apenas tem facilitado isso. Empresários só têm poder se estiverem unidos ao governo. E o governo só tem poder se ele seguir uma linha interventora. E a linha interventora faz parte do DNA da religião política que, para alcançar as suas utopias ou após vê-las dando errado, acreditam que o caminho é intervir radicalmente por meio do Estado. E assim o Estado continua ganhando poder.

Religião Tradicional x Religião Política

Existe um ponto do documentário Zeitgeist que é típico de qualquer obra que aponta a religião tradicional como um mal: ele omite o fato de que o cristianismo é uma religião apolítica. “Como assim?”, o leitor pode estar perguntando. Vou explicar.

No mundo antigo, era comum que política e religião andassem juntas. Entretanto, conforme a visão bíblica cristã, esse nunca foi um objetivo de Deus. O judaísmo só teria sido uma teocracia por uma questão de necessidade: o judaísmo era a única religião monoteísta do mundo e a única que detinha em sua doutrina uma moral duradoura. Não fosse um governo teocrático, o judaísmo não teria chegado nem até os dias de Cristo. E assim não haveria cristianismo, nem monoteísmo e nem moral judaico-cristã hoje. Não teria havido nem a vinda de Jesus.

Em função da teocracia judaica, portanto, o judaísmo pode ser conservado até Jesus vir (e até hoje, inclusive) e tal teocracia se tornou obsoleta. Jesus, então, fundou um novo contexto. A partir de sua vinda, a religião passou a ser uma questão pessoal e não mais estatal. Em outras palavras, a vinda de Jesus e a forma como ele criou um movimento de pessoas que viajavam espalhando o evangelho, possibilitou a cisão entre a religião do Deus judaico-cristão e a política.

Qualquer que leia o Novo Testamento compreende isso. Jesus diz: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Lucas 20:25). Diz também: “O meu reino não é desse mundo” (João 18:36). O apóstolo Paulo diz: “Foquem mais nas coisas lá do alto e não nas que são daqui da terra” (Colossenses 3:2).

O Novo Testamento deixa claro (claríssimo) que o cristianismo não era para ser uma instituição estatal, mas sim uma filosofia de vida pessoal. Não significa dizer que o cristão não pode ter participação política. Mas ele deve fazê-lo como um cidadão. Sua opção pelo cristianismo nada deve ter a ver com a política, assim como sua opção de se casar ou não, de ter filhos ou não, de fazer faculdade ou não. São questões pessoais e que não interessam à política.

Bem, é interessante ressaltar que foi exatamente dessa maneira que os cristãos trataram sua opção pelo cristianismo de 37 d.C. até 321 d.C.: como uma questão pessoal e não estatal. À bem da verdade foi o governo romano que agiu durante todo esse tempo de modo como se o cristianismo fosse assunto de Estado. Isso explica as perseguições e, posteriormente, a observação de seria interessante acoplar o cristianismo ao governo.

Aonde quero chegar com tudo isso? É simples. A qualquer cristão que realmente siga a Bíblia, é fácil entender que religião e política são duas coisas diferentes há mais de dois mil anos. Em outras palavras, não é da Bíblia que governantes tiram a idéia de criar uma ditadura cristã. Mas, então, como explicar o domínio político do catolicismo durante mais de 12 séculos da história? Como explicar o apoio de padres e intelectuais da idade média a essa mixagem entre política e religião? Eu explico: deram um gelo na Bíblia. Fizeram o que a Bíblia diz para não fazer. Por isso deu merda.

Felizmente, o problema foi resolvido. Os iluministas foram lá, meteram o malho na Igreja, “criaram” o conceito de Estado Laico (que Jesus já tinha inventado, diga-se de passagem), o conceito se desenvolveu, se espalhou e, hoje, grande parte dos países do mundo são laicos (muitos países islâmicos ainda não aderiram ao conceito, contudo, por algum motivo os esquerdistas não criticam muito os islâmicos). A Igreja Católica não domina mais. Não há mais inquisição, nem cruzadas, qualquer imbecil pode blasfemar contra Deus e só dá dinheiro para pastor ladrão quem quer dar. Ou seja, o mandamento de Jesus sobre o laicismo está sendo cumprido, enfim.

Isso mostra que, ao contrário do que o esquerdismo diz, o problema não está em existir cristãos, mas sim em existir cristãos que não seguem o cristianismo da maneira como ele realmente é. Se os cristãos da época de Constantino tivessem boicotado essa mistureba entre religião e Estado que o imperador estava propondo, por certo a história da igreja teria sido bem diferente. Seja como for, deve-se isentar o cristianismo e culpar o deturpação da doutrina cristã pela opressão que se seguiu na idade média.

Mas e a religião política? Bem, essa aí, ao contrário do cristianismo, não precisa ser distorcida para fazer um monte de merda no mundo. Ela só necessita ser seguida de maneira fiel e fundamentalista. Porque a religião política diz: “Semeie o ódio a algum grupo de pessoas (burgueses, religiosos, conservadores, cristãos, judeus e etc.)”, “Tente se sentir o salvador do mundo”, “Aumente o Estado”, “Dê mais poder aos políticos”, “Dê-lhes mais impostos”. É claro que isso não pode levar a um bom lugar.

Não importa o quão bem intencionado um religioso político pode ser. Tais idéias não dão certo. Nunca darão. São idéias feitas para falharem. E é somente sendo fanático e fundamentalista para não enxergar isso. Há dois vídeos muito bons que nos ajudam a entender o que estou dizendo. Um deles é de um anime (desenho animado japonês) que gosto muito, chamado Death Note (Caderno da Morte). O outro é do filósofo Olavo de Carvalho. Vejam os vídeos e farei alguns comentários.
            

O primeiro vídeo é um trailler do Death Note. Como o leitor pode ver, o anime conta a história de um jovem inteligente do ensino médio de nome Yagami Laito, que encontra um caderno mágico no chão. Esse caderno tem o poder de matar qualquer pessoa que o portador do mesmo escrever o nome e tiver em sua mente o rosto de sua vítima. A pessoa morre no lugar, no horário e da forma como o portador do caderno da morte escreve. Se apenas escrever o nome, a pessoa morre de ataque cardíaco.

Yagami, que era um jovem desiludido com os problemas sociais do mundo e as injustiças, fica fascinado com a idéia de poder matar quem quiser apenas tendo o nome e a imagem do rosto. Ele poderia matar todos os criminosos e fazer um mundo perfeito através daquele caderno. É o que ele começa a fazer e isso atrai a atenção da polícia. É aí que começa a saga de Yagami matando friamente criminosos e qualquer pessoa que se colocava em seu caminho (e tentando esconder sua identidade).

Nas palavras de “L”, o brilhante detetive que investiga o caso: "(...) sua justiça está mal guiada, pois agindo como Deus, ele mesmo se tornou o criminoso". Eu acrescentaria: frio, autoritário e incapaz de ver a si mesmo como mera criatura e pecador também (para usar a terminologia da religião tradicional).

O segundo vídeo é uma excelente palestra de Olavo de Carvalho que mostra que não é necessário ter má intenção para fazer um estrago terrível. Tudo isso nos coloca a pensar sobre a diferença entre a religião tradicional e a religião política. A tradicional pode, eventualmente, ser deturpada. Não por uma falha sua, mas pela própria condição pecaminosa do ser humano. Mas a religião política leva invariavelmente para o mesmo caminho de opressão e genocídio. E Zeitgeist é um documentário feito para disseminar a religião política.

Considerações Finais

Sem dúvida uma das partes mais irônicas e cômicas do documentário Zeitgeist é o trecho em que o locutor diz o seguinte:

Foi sempre o poder político que tentou monopolizar a figura de Jesus para controle social. Em 325 d.C., em Roma, o imperador Constantino reuniu o ‘Concílio Ecumênico de Nicéia’. E foi durante esta reunião que as doutrinas políticas com motivação cristã foram estabelecidas. E assim começou uma longa história de derramamento de sangue e fraude espiritual.

E nos 1600 anos que se seguiram, o Vaticano dominou politicamente com mão de ferro toda a Europa, conduzindo-a a um período conhecido como a ‘idade das trevas’, paralela a eventos ‘esclarecedores’ como as cruzadas e a santa inquisição.

O Cristianismo, bem como todas as crenças teístas, são a fraude desta era. Serviu para afastar o ser humano do seu meio natural, e da mesma maneira, uns dos outros. Sustenta a submissão cega do ser humano à autoridade. Reduz a responsabilidade humana sob a premissa de que ‘Deus’ controla tudo e que por sua vez os crimes mais terríveis podem ser justificados em nome da perseguição divina. E o mais importante, dá o poder àqueles que sabem a verdade e usam o mito para manipular e controlar sociedades. 
O mito religioso é o mais poderoso dispositivo jamais criado e serve como base psicológica para que outros mitos possam florescer.
Enquanto o locutor diz a última frase, ainda aparece na tela a seguinte frase: “A religião não pode transformar a sociedade, porque a religião é escravidão”. É irresistível querer parodiar todo o trecho, voltando a crítica para o esquerdismo, a religião política. O trecho ficaria assim:
Foi sempre o poder político que tentou monopolizar a idéia de fazer um paraíso na terra para controle social. Em 1793, na França, o partido jacobino deu um golpe na assembléia legislativa e tomou o poder. E foi durante esse período que o radicalismo político com motivação humanista foi ratificado. E assim começou uma longa história de derramamento de sangue e fraude intelectual.

E nos 200 anos que se seguiram, as ideologias esquerdistas começaram a lançar raízes em toda a Europa, conduzindo-a a um período conhecido como o ‘século mais sangrento da história’, paralelo a eventos ‘esclarecedores’ como a Revolução Cultural de Mao e o Genocídio no Camboja.

O marxismo, bem como todas as crenças humanistas, são a fraude desta era. Serviu para enganar o ser humano sobre sua situação natural, e da mesma maneira, instigar o ódio de um grupo pelo outro. Sustenta a submissão cega do ser humano à autoridade. Reduz a responsabilidade humana sob a premissa de que o ser humano tem capacidade de fazer o paraíso na terra e que por sua vez os crimes mais terríveis podem ser justificados em nome da perseguição humanista aos responsáveis pelo mal no mundo. E o mais importante, dá o poder àqueles que sabem a verdade e usam o mito para manipular e controlar sociedades.

O mito da religião política é o mais poderoso dispositivo jamais criado e serve como base psicológica para que outros mitos possam florescer”.
Como cobertura do maravilhoso bolo, a frase de fundo usada por Zeitgeist não pode faltar nessa paródia: “A religião política não pode transformar o mundo, porque a religião política é uma utopia”.

Não é bom ser redundante, mas gostaria de terminar a postagem com um vídeo que usei na postagem: “A crença no homem: uma análise crítica”. É um vídeo de Olavo de Carvalho também e que mostra bem a periculosidade dos projetos mirabolantes da esquerda política. Bem, o documentário Zeitgeist está destrinchado.
           
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Bibliografia:
1. Curtois, Stéphane e outros autores. O Livro Negro do Comunismo. Bertrand Brasil, 1999.
2. Chang, Jung e Halliday, Jon. Mao: A história desconhecida. Companhia das Letras, 2006.
3. Goldberg, Jonah. Fascismo de Esquerda. Editora Record, 2009.
4. Gray, John. Cachorros de Palha. Editora Record, 2005.
5. Gray, John. A Missa Negra. Editora Record, 2009.
6. Johnson, Paul. Tempos Modernos (O Mundo dos anos 20 aos 80). Editora Bibliex.
7. Gregor, Antony James. Marxism, Fascism and Totalitarianism: Chapters in the Intellectual History of Radicalism. Stanford University Press, 2008.
8. Overy, Richard. Os Ditadores - A Rússia de Stalin e a Alemanha de Hitler. José Olympio, 2009.
9.  Gellately, Robert. Lênin, Stálin e Hitler: A Era da Catástrofe Social. Editora Record, 2010.
10.  Carvalho, Olavo de. A Mentalidade Revolucionária. Diário do Comércio (Editorial), 2007.
11. Carvalho, Olavo de. Ainda a Mentalidade Revolucionária. Diário do Comércio (Editorial), 2007.
12.  Kekes, John. Por que Robespierre escolheu o Terror? Front Page Magazini (traduzido por Jorge Nobre do blog da Juventude Conservadora da UNB).
13.  Block, Walter. Religião e Libertarianismo. Lew Rock Well, 2008 (traduzido por Renan Felipe do site Direitas Já).
14. Kuehnelt-Leddihn, Erik. Leftism Revisited. Regnery Pub, 1991 (Segunda Edição).

2 comentários:

Caro leitor,
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