quarta-feira, 20 de março de 2013

Diálogo entre Deus e o homem que queria mudar a Sua Palavra


Certa vez um homem se sentou ao lado de Deus e começou a ler o capítulo 20 de Êxodo, onde estão os dez mandamentos. Em voz alta, ele leu o primeiro, que dizia que deveremos adorar apenas ao Senhor e mais nenhum outro Deus. Belas palavras! Leu o segundo, que dizia que não devemos fazer imagens de esculturas para adorá-las. Mas é claro! Logo em seguida, leu o terceiro, que ensinava que não devemos tomar o nome de Deus em vão. Tem total sentido! Mas, então, parou no quarto mandamento, que dizia que nós devemos santificar o dia de sábado.

- Não concordo com isso não, Deus.

Deus, que até então só estava ouvindo, fez uma expressão de surpresa.

- Como assim, meu filho?

- Não concordo com essa parada do sábado. Acho isso errado.

- Errado? Mas fui eu mesmo que ordenei esse mandamento. Além do mais, eu não erro, meu filho. Eu sou Deus.

- Errar não é bem a palavra, Senhor. Longe de mim, dizer tal coisa! Mas entenda, Deus, o contexto mudou. Nós não somos mais os judeus da Antiga Aliança. O sábado valeu no passado. Mas agora está abolido. – disse o homem muito satisfeito em poder ensinar aquele detalhe para Deus.

Deus deu um sorriso e respondeu:

- Meu querido, se você perceber bem, eu criei o sábado antes de firmar aliança com Israel. Na realidade, eu criei o sábado quando o homem sequer havia pecado neste mundo. Suponha que Adão e Eva não tivessem pecado lá no Éden. O sábado não estaria sendo guardado até hoje da mesma maneira? Então. Se é um mandamento anterior ao pecado, que nada tem a ver com mandamentos específicos da velha aliança, você não acha que sempre foi minha vontade que o homem o cumprisse?

- Eu não acho, Senhor. Para mim, está claro que o Senhor criou o sábado como um símbolo do verdadeiro descanso, que é Cristo. O Senhor mesmo, quando veio aqui pra terra em corpo de homem, afirmou: “Vinde a mim todos vós que estás fracos e oprimidos e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28). O senhor não se lembra? O Senhor é o nosso verdadeiro descanso.

- Meu filhinho, – disse Deus, sem perder a calma – é claro que eu me lembro do que falei. E, de fato, eu sou o descanso do homem. Eu sou o descanso para o angustiado, sou o descanso para o culpado, sou o descanso para o que tem medo, sou o descanso para o triste, para o pecador, para o depressivo, para o aflito, para o desanimado, para o que é fraco espiritualmente, enfim, sou o descanso para todo o tipo de problema. Mas eu não sou o descanso semanal. Eu não sou um dia. Então, o fato de eu ser descanso, não anula o fato de que o homem precisa de um dia para estar mais distante dos afazeres diários e mais próximo de mim. Esse foi um dos motivos pelo qual criei o sábado.

- Ah, então quer dizer que eu só posso estar perto do Senhor no sábado? Nos outros dias eu esqueço que sou cristão?

- Não foi isso que eu disse.

- Mas é o que dá a entender, Senhor. – respondeu o homem, chateado – É aí que está a sua falha, Deus. O Senhor acha que nós não podemos estar próximos de ti durante o resto da semana. Mas se Jesus é nosso descanso, podemos estar próximos de ti mesmo fazendo nossas tarefas diárias.

- É claro, meu filho amado. E é isso que eu mais quero na minha vida: que todos estejam bem pertinho de mim todos os dias, até enquanto fazem outras coisas. Foi por isso que tomei Enoque para mim (Gênesis 5:22-24 e Hebreus 11:5). Ele andava tanto comigo que eu resolvi trazê-lo para a minha presença antes que ele morresse. Agora, Enoque também guardou o meu sábado. Não há contradição em andar todos os dias comigo e também guardar o meu sábado. Ao contrário, isso mostra que mesmo a pessoa estando pertinho de mim todos os dias, ela tanto me ama que não se incomoda de ficar ainda mais pertinho de mim no dia de sábado, o dia que eu criei especialmente para esta finalidade.

- Tudo bem, Senhor. A idéia é boa, não nego. Mas existem falhas. Vou explicar ao Senhor. Quando obrigamos alguém a fazer alguma coisa, mesmo que ela seja boa, se torna legalismo. O Senhor sabe o que é legalismo? É fazer as coisas por obrigação, tudo mecanicamente (e metodicamente), sem amor e ainda achando que isso vai te salvar ou que você é melhor que os outros por causa disso. Isso está errado. Nós somos salvos pela fé na graça de Deus em enviar Jesus Cristo para morrer por nós. E somos livres no Espírito Santo para adorar sinceramente e não por legalismo.

O Senhor sorriu. O homem se afobava ao falar, mas Deus continuava sereno e esperava pacientemente que o homem terminasse suas frases, sem interromper.

- Meu filho. Em nenhum momento eu afirmei aqui que as pessoas são obrigadas a guardar o sábado ou fazer qualquer outra coisa. Também não afirmei que guardar o sábado salva uma pessoa. Então, vamos lá. Em primeiro lugar, ninguém é obrigado a fazer nada que não queira fazer. Pelo menos, eu não obrigo. Se eu obrigasse alguém a algo, não haveria pecado no mundo, pois eu não permitiria que ninguém pecasse. Mas eu dei o poder de escolha ao homem. À priori, todo o homem é senhor de seu próprio destino. Faz o que acha melhor para si.

Deus deu uma pequena pausa para ver se o homem queria falar algo. Como não dissesse nada, continuou:

- Nunca quis que ninguém cumprisse meus mandamentos por obrigação. Mesmo eles sendo um dever de todo o homem, eu quero que o homem procure cumprir meus mandamentos por amor a mim. Por amor e pelo reconhecimento de que tudo o que falo para que o homem faça é para o seu próprio bem, é importante. Eu não sou maluco. As coisas que falo tem um sentido, tem uma explicação, tem um motivo.

- Eu sei que o Senhor não é maluco, Deus! – exclamou o homem – Não fale uma coisa dessas. A nossa discussão aqui é construtiva. Uma discussão entre duas pessoas já experientes, sempre à procura do aprendizado.

- Bem... – o Senhor continuou sereno, embora ofendido por ser rebaixado a mero “homem experiente” – Em segundo lugar, o fato de eu querer que meus seguidores cumpram meus mandamentos, não significa que eles estão sendo salvos por esse cumprimento. E isso é óbvio, porque no fim das contas, ninguém nunca consegue acertar mais do que errar. Sobretudo quem se converte próximo da morte. O ladrão que foi crucificado junto comigo foi salvo com um saldo muito negativo. Ele fez muito mais coisas ruins na vida do que coisas boas. Mas ainda assim foi salvo, porque me aceitou como Senhor. Isso é graça. Agora, é claro que se a pessoa diz me aceitar como Senhor e tem tempo para passar a cumprir os meus mandamentos, mas escolhe deliberadamente não cumpri-los, essa pessoa não me aceitou como Senhor. Ela quer a salvação, mas não me ama a ponto de entender que eu sou o seu Senhor e que eu odeio o pecado. E eu não posso salvar quem não me ama e não me reconhece como Senhor.

O homem coçou a cabeça, procurando mais argumentos. Ele não se conformava com a questão do sábado.

- Ainda acho que esse mandamento está errado. Mas vamos supor que o Senhor esteja certo e que precisamos de um dia específico para estar mais próximo do Senhor e distantes das tarefas diárias. Por que esse dia tem que ser o sábado? Por que não o domingo ou qualquer outro dia? A essência não é a mesma? Aliás, no domingo seria até melhor, já que é no domingo que a maioria das pessoas descansa.

- Meu filho, tem que ser o sábado porque eu separei o sábado e não outro dia da semana. Mesmo que você tenha outro dia em que você tenha tempo livre e queira usar esse dia para se dedicar a mim por completo (e seria maravilhoso!), isso não vai anular o fato de que santifiquei o dia de sábado. Eu o separei. É um dia sagrado para mim.

- Ah, Senhor! Péra lá! Então, o Senhor vai fazer questão de dias, agora? Que tipo de Deus vai fazer questão de dia? Todos os dias não são obras das suas mãos? Por que fazer distinção de dias? Eu não concordo de jeito nenhum com o Senhor.

- Sim, meu amado, todos os dias são obras das minhas mãos. Mas o sábado é sim um dia especial. Sabe por quê? Porque ele aponta para mim como o Criador. Quando perguntam a um sabatista o motivo dele guardar o sábado, a resposta é: “Por que em seis dias o meu Deus fez os céus, o mar, a terra e tudo o que nele há, mas no sétimo dia ele descansou”. Entende? O sábado me aponta como o Criador. 

- E daí? – questionou o homem.

- E daí que se o sábado é um símbolo de Deus como o criador do mundo e você chega ao Novo Testamento e anula o mandamento do sábado, você está dizendo que o Deus Criador (o Deus do Antigo Testamento) não é o mesmo do Novo Testamento. Ou seja, o Deus do Novo Testamento não é o Criador. É como se Jesus não fosse o Criador do mundo, juntamente com o Pai e o Espírito Santo, como lemos em passagens como João 1:1-3 e Gênesis 1:1-3.

- Poxa, eu nunca tinha pensado por esse ângulo...

- Não? E por que você acha que em Apocalipse 14:6-7, afirmei que uma das últimas mensagens que deveria ser pregada é a de que as pessoas se lembrem daquele que fez os céus, a terra, o mar e tudo o que neles há? As pessoas precisam se lembrar que sou o mesmo Criador de sempre. 

- Faz sentido. Mas veja bem... Conheço pessoas que guardam o sábado. E elas me parecem muito legalistas. Não fazem nada no sábado que não seja relacionado ao Senhor ou à ajuda ao próximo. Tudo bem, tirar um dia para Deus, mas tem que ser um dia inteiro certinho? Poxa, às vezes não dá. Por exemplo, posso precisar trabalhar até um pouco mais tarde e pegar aí duas ou três horas do sábado (que começa depois do pôr do sol de sexta, né?). Ou, de repente, não tive tempo de fazer faxina durante a semana, aí tiro algumas horinhas do sábado pela manhã para limpar as coisas. Por que isso seria errado? Não acho certo fazer caso disso, Senhor. 

- Meu filho, eu não estou incomodado com o tempo em si. O que me incomoda é a insistência das pessoas em tentar modificar meus mandamentos porque será mais fácil para elas. Isso é uma questão de fidelidade e não de tempo. Não são as horas que você gasta fazendo outra coisa no sábado o que mais me incomoda, mas sim a insistência em me desobedecer. Você lê na Bíblia, “faça isso”, mas você diz “vou fazer diferente”. Não me agrada essa conduta. Porque quem age assim, ainda não entendeu o significado da palavra “Senhor”. Senhor é aquele a quem você segue incondicionalmente.

- Ainda não estou convencido, Senhor. Afinal, muitas coisas na Bíblia são uma questão de contexto. A guarda do sábado era de um jeito para os antigos. Nós vivemos em outro contexto. Não é tão fácil assim...

- Vou te dar um exemplo. – disse Deus – Você devolve o dízimo?

- É claro que devolvo! Sou dizimista fiel!

- Por quê?

- Porque a Bíblia diz claramente para eu fazer.

- E qual é a porcentagem de seu dízimo? Seria 9%?

- Que isso, Senhor? É 10%. DÍ-ZI-MO. É a décima parte. A Bíblia deixa claro.

- Tudo bem. A Bíblia diz isso. É verdade. Mas por que você não devolve apenas 9% em vez de 10%? É tão próximo de 10... 

- Porque a Bíblia diz 10% e não 9%.

- Mas será que Deus se importaria com a falta de 1%? Faz tanta falta para mim esse valor como faz para você, quando precisa pagar contas?

- Bem... É um pacto de fidelidade... – o homem disse, sem graça.

- Pois é. Façamos outra analogia. Quando eu estava para morrer, fiz uma ceia com meus discípulos. Nesta ceia, deixei um mandamento: que minha Igreja, de tempos em tempos, fizesse uma ceia com pão e vinho santo. O pão representaria o meu corpo e o vinho representaria o meu sangue. Você faz isso com os irmãos?

- Faço. Na minha Igreja, fazemos uma vez por mês.

- E você concordaria se, em vez de pão, servissem bolo de maracujá e em vez de vinho, servissem suco de goiaba?

- Claro que não, Senhor! Que heresia!

- Por que não?

- Porque não é o que está na Bíblia.

- E qual é o problema de se fazer diferente? Será que Deus vai fazer questão de pães e vinhos? Por que tem que ser assim?

- Porque ele, digo, o Senhor ordenou!

- Pois é. Com o sábado é a mesma coisa. Eu pedi o sábado. O sábado todo. É uma questão de fidelidade à minha palavra. Se alguém não cumpre, caso saiba que falo para cumprir, está caindo, primeiramente, no pecado da desobediência. E o pecado da desobediência me entristece muito, sabe? Não importa o quão pequeno seja determinado mandamento, eu quero que ele seja obedecido. Lembre-se bem que foi por causa de um mandamento aparentemente bobo e pequeno que o mundo se tornou a desgraça que está hoje. Eu disse para Adão e Eva não comerem um fruto. Bobo, não é? O que de mal pode ter no ato de comer determinado fruto? Mas eu avisei sobre as conseqüências. E o que eles fizeram? Desobedeceram meu mandamento. A minha pergunta é: Até quando você vai insistir em desobedecer ao meu mandamento sobre o sábado?

- Ah, Deus! Mas guardar o sábado é um fardo!

- É um fardo usar um dia para estar mais perto de mim, podendo descansar da maioria de seus afazeres diários e tendo mais tempo para prestar auxílio ao próximo?

- Não, não é isso...

- O que é então? Porque é isso que significa guardar o sábado.

- Mas há pessoas que...

- Esqueça o que as pessoas fazem, meu filho. Olhe para mim.

O homem olhou bem nos olhos de Deus. Viu Jesus. Viu o amor. Viu o sacrifício que Cristo havia feito por ele. Conseguiu ver também, na expressão de Deus, um desejo infinito de morar junto com o homem. Viu mais. Viu que o Espírito Santo habitava no seu interior. Ele, um pobre homem pecador, tinha o Senhor do universo não só ao seu lado, mas dentro de si. E Jesus fazia ligação entre ele e o Pai. Naquele momento, ele se sentiu dentro do próprio Deus.

- Meu filho amado. Eu morri para te salvar do pecado. O pecado é a transgressão a minha lei (I João 3:4). Eu desejo que você viva conforme os meus mandamentos, pois eles são justos e bons. Você não pode cumpri-los sozinho, mas nem eu quero que você esteja sozinho nessa empreitada. Eu morri para te livrar da maldição da morte, te dei o meu Espírito Santo para te dar força para fazer minha vontade. E mesmo que, do alto de sua sinceridade em me seguir, você peque (e vai pecar), eu te dou o meu perdão, caso você reconheça o seu erro e se arrependa genuinamente. É só isso que quero que você faça. O principal eu já fiz por você na cruz.

Tocado por aquelas palavras, o homem não conseguia mais argumentar contra as palavras de Deus. O Senhor continuou:

- Sabe, filho, não se guie pelo que os homens fazem. Você sabe que todos são pecadores. Você deve se guiar pelo que minha Palavra diz. Mesmo que no mundo todo, apenas 10 pessoas guardassem o meu sábado; e mesmo que essas 10 pessoas fossem legalistas e que dessem um péssimo exemplo como cristãos, ainda assim você deveria guardar o meu sábado, fazendo-o com um coração sincero, não por obrigação, mas por amor a mim, não para se salvar, mas porque eu já te salvei na cruz. Filho, não é um fardo. Se você realmente gosta de estar comigo, então é um privilégio. É um dia para nós estarmos juntos sem que você precise se preocupar com muita coisa. Seu único dever nesse dia é descansar em mim e ser descanso para o seu próximo, mostrando que eu, o Senhor Jesus Cristo, sou o mesmo Deus que criou o mundo em seis dias e que no sétimo dia descansou, para dar o exemplo a todos. 

Ao ouvir essas palavras, a vista do homem começou a clarear. Uma luz muito forte apareceu à sua frente. Era o sol. Ele estava deitado. Abriu os olhos e percebeu que toda aquela conversa com Deus não passara de um sonho. Olhou o relógio. Eram cinco horas da manhã. Um sábado. O dia começava a despontar. 

Levantou-se, fechou a cortina da janela e voltou a se deitar.

- São cinco da manhã ainda. Vou dormir até as oito, porque hoje o dia vai ser bem cheio. Tenho que fazer faxina na casa, fazer compras no mercado, estudar para concurso e dar fim naqueles trabalhos extras que sempre trago lá do escritório... Mas acho que vou deixar algo para amanhã. Afinal, tem uma coisa que não posso deixar de fazer hoje de jeito nenhum... Jogar um futebol com a galera...

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