sexta-feira, 4 de julho de 2014

Breves considerações sobre a lei I: sobre a "anomia"

Diz a primeira epístola de João: "Todo aquele que comete pecado transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei" (I João 3:4).

No original grego, a expressão que é traduzida como transgressão da lei é "anomia". A palavra "nomia" provém de "nomos" que significa lei. O prefixo "a" é um prefixo que indica negação.

Assim sendo, "anomia" é a desconsideração da lei, ou a negação da lei, ou ainda, a desobediência à lei. Viver em estado de anomia seria viver como se a lei não existisse. Por isso, costuma-se a traduzir anomia como transgressão à lei ou iniquidade, que tem um sentido semelhante.

Uma vez que a Bíblia nos alerta que não devemos viver em pecado, isso significa que não devemos viver como se não existisse lei. Devemos viver considerando que a lei existe. Em suma, há uma lei para ser seguida. Devemos andar na "nomia" e não na "anomia".

Mas que lei é essa? Alguns dirão que é o Novo Mandamento de Cristo: "Que vos ameis uns aos outros como eu vos amei". Há duas coisas a dizer sobre isso. A primeira é que só este mandamento não basta. Um indivíduo poderia tentar colocá-lo em prática, mas ignorar que também devemos amar a Deus. Apenas amar às pessoas não faz de ninguém um cristão, caso contrário, seria possível um ateu amoroso e altruísta ser chamado de cristão.

A segunda coisa a se dizer é que este mandamento é novo apenas no grau de amor que se requer. O Antigo Testamento já ordena que amemos ao nosso próximo. Jesus apenas aumenta a dose de amor. Então, o princípio é o mesmo: amar ao próximo. Só o grau é que difere. Cristo intensifica uma lei já existente.

Então, podemos dizer que a lei é o amor? Não exatamente. Na verdade, o amor é a razão da existência da lei. O amor gera a lei. E o que é a lei? A lei é um padrão de conduta baseado no amor e expresso na forma de mandamentos morais.

Resumindo: os mandamentos morais de Deus são a expressão da lei, que é um padrão de conduta baseado no amor. Que a nata desses mandamentos morais estão expressos no decálogo, isso é uma obviedade. Os quatro primeiros expressam a parte da lei que se baseia no amor a Deus. Os seis últimos expressam a parte da lei que se baseia no amor ao próximo.

A imutabilidade do decálogo é evidenciada tanto por seus mandamentos serem baseados inteira e diretamente no amor, como pelo fato de que todos eles, sem exceção, já estavam valendo no princípio da criação. Nenhum deles surgiu como uma necessidade civil contextual (que pudesse ser derrubada na chegada de outro contexto) ou como um ritual posterior à entrada do pecado no mundo (que prefigurasse algum aspecto da futura obra redentora de Cristo).

Portanto, esta é a lei que precisa ser seguida. E os seus mandamentos, que só existem em função do amor, só podem ser plenamente obedecidos se, de fato, houver amor no praticante. Sobre isto Jesus afirma: "Se me amais, guardareis meus mandamentos" (João 14:15).

A importância dessa mensagem é ratificada em Apocalipse 14: "Aqui está a perseverança dos santos: os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus" (Apocalipse 14:12).

Que o Espírito Santo de Deus possa aumentar em nós o amor por Jesus e nos ajudar a cumprir os seus mandamentos, a fim de que o preceito da lei se cumpra em nós, conforme prometido em Romanos 8:3-11. Amém!

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