sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A importância da prática da leitura

Por que a prática da leitura é importante? Bom, imagine o seguinte fato: você foi à praia. Está saindo dela quando passa por você uma amiga conhecida. Ela está comendo biscoitos. Ao te ver, te cumprimenta com um abraço e um beijo no rosto, para conversar um pouco, te oferece um biscoito (que você aceita) e depois segue caminho. O evento dura um minuto. Seu cérebro rigistra esse fato.

Agora, note bem. Em um minuto seu cérebro captou: (1) a visão de sua amiga e muito do que estava ao redor, com suas cores, tons, formas, movimentos, profundidade e perspectivas variados; (2) a voz de dela e das coisas ao redor, com seus sons, tons, timbres e ritmos diversos; (3) o cheiro de perfume quando ela te abraçou, o cheiro do biscoito, o cheiro da praia, o cheiro da rua; (4) o gosto do biscoito; (5) o contato físico com sua amiga.

Isso quer dizer que para registrar todo o fato não precisou fazer qualquer esforço imaginativo. Ele simplesmente captou aquilo que seus cinco sentidos estavam lhe informando. Você teve contato direto com o fato, de modo que sua mente só precisou gravar as impressões de seus sentidos físicos.

Algo semelhante acontece quando assistimos televisão. A TV nos oferece fatos quase prontos, com imagem, movimento e áudio. Pode ser que você precise imaginar algum cheiro, gosto ou tato. Mas é difícil. Geralmente não são muitas as ocasiões em que precisamos dessas informações para entender uma situação. Além do mais, esse tipo de atividade cerebral é bem mais simples do que imaginar cenários, movimentos e sons.

Com o rádio, o esforço imaginativo é um pouco maior, pois só temos acesso ao som, o que impele nosso cérebro a "montar" as imagens. Ainda assim, o som, os tons, as pausas, as palavras escolhidas, a trilha sonora, a velocidade das falas, o jeito de falar e etc. são características dos audios que contribuem muito para que o cérebro possa formar imagens com mais facilidade.

Mas aí chegamos à leitura. Na leitura, todos os sentidos físicos precisam ser imaginados na sua mente. Você não vê, não ouve, não cheira, não degusta, não sente a situação descrita. Não há qualquer sentido físico para sequer auxiliar o cérebro na reconstrução dos outros sentidos (como é o caso do som, no rádio).

Então, a primeira razão pela qual a leitura é importante é que ela coloca o seu cérebro para trabalhar à todo o vapor. Você não tem nada pronto. Você precisa imaginar tudo. É por isso que dificilmente sentimos dificuldade mental em interagir com uma pessoa, assistir televisão ou ouvir rádio. Mas ler requer mente fresca e concentração. É comum, quando estamos cansados mentalmente e/ou fisicamente, preferirmos assistir algo na televisão, ouvir algum programa de rádio ou jogar conversa fora com alguém em vez de ler. Ler dá algum trabalho. Exige mais da sua mente.

Um segundo motivo pelo qual a leitura é importante é que através dela é possível nosso cérebro remontar situações de tristeza, felicidade, tensão, medo, raiva,suspense, conflitos morais, escolhas, indecisão, coragem, vitória, derrota, amor, paixão, compaixão, carinho, humor, relações humanas e etc.

A reprodução dessas situações adapta nosso cérebro a estes sentimentos, tendendo a desenvolver nossa sensibilidade, inteligência emocional, discernimento moral, empatia (capacidade de se colocar no lugar do outro) e identificação com os sentimentos e fatos descritos.

Uma terceira razão é que a leitura obriga o cérebro a fazer um esforço de tradução e um esforço de interpretação. Tradução porque todos os fatos, eventos, informações e dados descritos em um livro estão codificados em letras. E o conjunto dessas letras expressa ideias, as quais precisam ser absorvidas pelo cérebro. Ou seja, a ideia não está pronta para ser absorvida. É necessário traduzir mentalmente esse conjunto de símbolos em ideias. Também fazemos isso quando interagimos com alguém, é verdade. Mas no caso da leitura, não contamos com o tom de voz, os gestos e outros aspectos que poderiam nos ajudar na tradução. Tampouco com a gentileza da pessoa de repetir algo que não entendemos. Some isso ao fato de que interagimos e conversamos mais do que lemos. Deste modo, a tradução mental de ideias ocorre de modo mais fácil e natural na interação pessoal, do que na leitura.

Uma vez traduzidas as palavras em ideias, elas precisam ser interpretadas. Ideias soltas não são suficientes para criar uma unidade de sentido. E nem toda a unidade de sentido que conseguimos formar é a mais plausível. Assim, a leitura obrigará nosso cérebro a trabalhar esta interpretação.

Uma quarta razão pela qual a leitura é importante é que ela aumenta e aprimora nosso vocabulário, além de nos acostumar a fazer mais ligações lógicas. Sobre este segundo ponto, isso acontece porque nos acostumamos com a estrutura das frases e o uso das palavras em cada situação, o que cria padrões em nosso cérebro, capacidade de dedução, poder interpretativo e, finalmente, maior aptidão para se expressar oralmente e pela escrita.

Uma quinta razão é que a leitura tende a gerar maior atenção, concentração, paciência e tranquilidade no ser humano. Afinal, ele não consegue traduzir e interpretar bem se não tiver atenção; e uma vez iniciada a leitura, isso demandará algum tempo. Falamos, interagimos e ouvimos mais rápido e com mais facilidade do que lemos. E a leitura cansa mais rápido do que a interação. Assim, a leitura tende a regrar o ser humano em um tempo menos veloz.

Essa menor velocidade do fluxo de informações é muito saudável, pois nos dá tempo de refletir sobre o que lemos, imaginar mais detalhadamente os cenários ou conceitos descritos, digerir as palavras, contemplar a informação.

Conclusão: a prática da leitura de livros faz o cérebro trabalhar mais, aumentando seu poder imaginativo e sua criatividade. O indivíduo que cultiva este hábito tende a aumentar e aprimorar seu vocabulário, tornar-se mais sensível, adquirir maior nível de concentração e atenção, ganhar em capacidade de reflexão, análise e espírito crítico, desenvolver melhor aptidão para interpretar textos, falas e situações, e expressar suas ideias às pessoas. E, como cereja do bolo, todo esse conjunto de características tende a desembocar em um comportamento mais educado.

É claro que isso não é uma regra infalível. O desenvolvimento das habilidades e da sensibilidade humana dependem de uma série de fatores. Mas a leitura pode ajudar muito. Talvez mais de 50%. Sem dúvida alguma, a escrita e a leitura foram as maiores invenções do ser humano, pois servem como ferramentas extremamente úteis para a inteligência e emotividade de nossa espécie.

Por isso, rogo a todos: cultivem a prática da leitura. E se não conseguirem, ao menos cultivem essa prática em seus filhos, sobrinhos e netos pequenos, e nos seus alunos de colégio, caso seja professor. Não duvide: vai fazer toda a diferença.

Um comentário:

  1. Caro Davi, excelente texto! Queria abrir um parêntese para pedir seu ponto de vista em relação à justiça e à vingança. Como você diferenciaria esses dois conceitos e o que, na sua opinião, deveria ser feito para que a prática da vingança não seja confundida com a busca por justiça. Obrigado.

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