sábado, 28 de novembro de 2015

Quando eu também tinha medo

É comum eu ouvir ou ler críticas de cristãos (de várias denominações) feitas a adventistas como eu, dizendo que a guarda do sábado é um fardo desnecessário que carrego, pois "Cristo aboliu isso na cruz". Eu também já acreditei nisso. Hoje acho curioso como o ser humano é capaz de chamar de fardo um dia de descanso. Mais curioso é que cristãos que amam a presença de Cristo considerem fardo ter um dia na semana para se desligar do trabalho, dos estudos e dos interesses estritamente seculares, para se concentrarem mais em Deus.

Quando eu tinha este pensamento, dizia que era apenas uma oposição teológica, interpretativa. Mas não era só isso. No fundo, eu não queria que fosse verdade. Passar a crer na validade do sábado implicava mudar toda a minha vida. Para começar, por mais que eu amasse a Cristo, não estava muito a fim de devotar a Ele um dia inteiro, assim como muitos não estão a fim de devotarem o dízimo, as ofertas, seus dons, sua boa vontade, seu perdão para com os irmãos que pisam no seu pé, sua oração aos inimigos. No fundo eu queria que o sábado continuasse sendo meu, para que eu pudesse escolher não passar o dia focado em Deus. Dar a Deus o sábado seria empurrar meus interesses próprios para outros dias.

Além disso, tinha a raiva e do medo. Eu sentia raiva dessa ideia de que apenas uma minoria está correta em relação ao sábado. Soa muito pretensioso aos ouvidos de quem nunca guardou o sábado. Aliás, soa muito pretensioso a qualquer um que descubra uma nova verdade informada por uma minoria.

Imaginem como se sentiu aquele católico piedoso, que acreditou nas palavras do Papa a vida toda e, de repente, se deparou com um Martinho Lutero e uma minoria de protestantes, dizendo existiam erros no catolicismo! O catolicismo, religião de centenas de anos, seguida por milhões de pessoas! Imaginem como se sentiu aquele judeu piedoso, que sempre acreditou nas palavras dos seus rabinos e, de repente, se deparou com uma minoria de judeus iletrados, discípulos de um crucificado, dizendo que os rabinos estavam errados e que o Messias era esse homem morto pelos romanos! Os rabinos, aqueles que lideravam o povo e carregavam uma tradição centenária.

É sempre uma pedrada isso. Olhamos para a minoria que nos deu a nova verdade e sentimos raiva de sua suposta pretensão. Gritamos indignados: "Ah, então só vocês estão certos!? O mundo inteiro, por centenas de anos, esteve errado e continua errado hoje!?".

Logo após vem o medo. Nos perguntamos: “E quem não guarda? Como fica? E quem não sabe? E as pessoas que eu amo? E todos os cristãos sinceros que eu conheço, mas que não guardam o sábado? O que acontecerá com todos esses? Irão para o inferno?”. Essas perguntas ecoam os questionamentos de milhões de pessoas de diversas épocas. Se o protestantismo está certo, como ficam os católicos? Se os cristãos estão certos, como ficam os judeus? Se os judeus estão certos, como ficam os não-judeus?
“Só vocês estão certos?”. Essa é a expressão da raiva e do medo.

Nós nos acostumamos a nossa maneira de fazer as coisas, às nossas crenças. Não queremos mudar. Não queremos ver o nosso mundo virar de cabeça para baixo e ter que reajustar toda a nossa vida à nova verdade descoberta.

Mas sabemos que isso não é racional. Então, tratamos de racionalizar nossas crenças.

“Minha oposição é meramente teológica”, eu dizia.

Não, não era.

Hoje, revendo meus argumentos contra a guarda do sábado, percebo o quão cego eu me fiz. Meus argumentos eram fracos, incoerentes, ilógicos, irracionais. Eram sofismas, fugas do contexto, interpretações ridículas. E me armando de todas essas inverdades, eu não conseguia enxergar as verdades mais claras.

Foram necessários vários empurrões de Deus, coincidências improváveis e uma sensação de incômodo espiritual, para que eu decidisse (após estudar com um pastor por mais de seis meses e tentar fugir de Deus por dois meses) estudar sozinho, com a mente aberta, para ver se eu achava a verdade. Só assim me abri à razão e comecei um estudo pessoal que durou mais de um ano.

O sábado, hoje vejo, jamais poderia ser chamado de mandamento cerimonial, de ritual criado para simbolizar o sacrifício de Jesus. Jamais poderia ser chamado de mandamento para judeus, de símbolo vinculado à antiga aliança. Afinal, ele foi criado antes de existir Israel, Isaque, Abraão; antes mesmo de existir pecado. Foi instituído por Deus no mundo perfeito. Não pecasse o homem, todo o mundo estaria guardando o sábado normalmente hoje.

Não, o sábado não foi instituído para ser símbolo redentivo, mas para ser símbolo de Deus como o Criador. Através do sábado, Deus pretendia (e pretende ainda) nos ensinar duas verdades básicas: que Ele é o Criador e que nós precisamos separar um dia para nos desligar das coisas seculares, focalizando as coisas de Deus. Não estou inventando isso. Está na Bíblia. E o primeiro texto que confirma isso está logo em Gênesis 2:1-3. Ali é dito que Deus abençoou e santificou o sétimo dia, o sábado, antes de haver pecado no mundo. Santificar significa tornar separado, distinto. Como eu poderia dizer algo diferente? Como eu poderia afirmar que para Deus, todos os dias são iguais, se ele mesmo estabeleceu a diferença?

Não é minha intenção fazer uma análise detalhada do assunto aqui. Já fiz diversos textos analisando detalhadamente cada passagem bíblica que embasa a guarda do sábado, e cada passagem bíblica que supostamente o anula. Minha intenção aqui é mais reflexiva que analítica. Hoje, aqui, expus um pouco do que eu fui, do que eu pensei e de como eu sei o que é descobrir uma nova verdade e não desejar que ela seja mesmo verdade.

Minhas razões para me opor ao sábado não eram teológicas. E as razões teológicas que eu tentei juntar, eram apenas sofismas. Essa é a minha história. Talvez seja o seu caso. Não o afirmo, apenas suponho. Sugiro a você que chegou ao fim dessa leitura que faça uma análise das suas razões contra o sábado. São racionais? São meramente teológicas? Ou será que você apenas tem medo?

Eu tive medo. Hoje estou em paz.

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