quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Em defesa da insatisfação

Um conselho-argumento que acho bastante tolo é o de que uma pessoa precisa aprender a viver satisfeito sozinho para que, só então, possa ter uma companhia amorosa. Ora, ninguém diz para um órfão que ele precisa aprender a viver satisfeito sem pai e mãe para poder ter um pai e uma mãe. Ninguém diz para alguém que tem dificuldade de fazer amigos que ele precisa aprender a viver satisfeito sem amigos para poder ter amigos. Ninguém diz a um faminto que ele precisa aprender a viver satisfeito com fome para poder comer. Ninguém diz a uma mulher que acabou de perder um bebê que ela precisa aprender a viver satisfeita sem filhos para depois ter um. Nada disso é necessário ou lógico. De onde se tirou a ideia de que precisamos passar pela privação de uma necessidade ou desejo lícito para só então ter condições de satisfazê-lo?

Há alguns anos eu me questionei: "Por que raios eu desejo ter uma companheira? Eu já não tenho amigos e amigas? Eu não tenho uma boa família? Por que é tão importante ter uma companheira? Qual é a grande diferença?". Foi então que eu descobri que eu não era nenhum problemático. Eu era apenas uma em bilhões de pessoas que naturalmente anseiam ter um companheiro ou companheira. Isso é da espécie humana. A maioria esmagadora das pessoas tem esse desejo.

Talvez você me diga: "Ah, mas nós não podemos basear nossa felicidade em uma companhia". Eu concordo. No dia que você topar com uma pessoa que diga: "Não vale a pena viver sem um relacionamento amoroso" ou "Não tenho como ser feliz sem isso", aí você pode dizer que essa pessoa tem problemas. Mas não diga a uma pessoa que ela deve se sentir plenamente satisfeita por não ter algo lícito que ela gostaria de ter e não tem. Ela não vai se sentir satisfeita. E isso não é absurdo. Quantas pessoas são plenamente satisfeitas nesse mundo? Eu ousaria dizer que não há ninguém.

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