domingo, 19 de agosto de 2012

Os tipos de leis da Torá e sua relação com o sacrifício de Jesus - Parte 1

E daí? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, e sim da graça? De modo nenhum! Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte ou da obediência para a vida? Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, vistes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça (Romanos 6:15-18).

Quando o apóstolo Paulo escreveu sua epístola aos romanos, estava preocupado com a depravação moral das pessoas daquele lugar. A terra de Roma era a capital da iniqüidade e a Igreja formada ali estava cercada de abominações. Como Paulo gostava de enfatizar bastante que o homem era salvo apenas pela graça de Deus, mediante a fé no sacrifício de Cristo, era necessário que também deixasse claro que isso não significava que o homem estava livre para pecar. E é exatamente isso que vemos no decorrer da epístola aos Romanos. Paulo faz questão de mostrar que o fato de os cristãos não estarem mais debaixo da condenação da lei, não significava que as pessoas poderiam continuar em suas transgressões. A partir da aceitação do sacrifício de Jesus, cada indivíduo deveria permitir que o Espírito Santo de Deus renovasse o seu interior, conduzindo-o a obediência da lei moral eterna, baseada no amor.



No entanto, embora Paulo tenha sido tão enfático em dizer que a cruz de Cristo não havia crucificado a lei moral, muitos cristãos sinceros não conseguem entender perfeitamente o que realmente o apóstolo queria dizer sobre esse assunto. Então, sendo ensinados a pensar que Jesus aboliu todas as leis, ajudam a criar uma sociedade, onde se proliferam aqueles que abusam da graça de Deus.



Os questionamentos são: O que Jesus modificou após cumprir o seu ministério? Como é possível alcançar uma boa conduta cristã sem se tornar um legalista? Qual a relação entre a lei moral e a graça de Deus, entre a lei e o Espírito Santo? O que fazer com a depravação moral que tem se estendido no mundo e muitas vezes influenciando a Igreja de Cristo? Estas e outras perguntas serão tratadas aqui.



Os tipos de leis



Quando Moisés foi comissionado para libertar e guiar o povo hebreu até a terra prometida por Deus a Abraão, já existiam leis de Deus a serem seguidas. Mas a escravidão na terra do Egito e o fato de não haver um código escrito, dificultava o seu cumprimento. O quadro só começou a mudar quando os hebreus cruzaram o mar vermelho e iniciaram a longa trajetória do Egito à Canaã. Moisés, inspirado por Deus, então, passou a escrever a Torá (também chamada de Pentateuco), que são os cinco primeiros livros da Bíblia, onde também estão as leis de Deus.



A Torá pode ser definida como um código de leis gerais, pois ali existem leis de cunho civil, cerimonial, de saúde e moral também. Cada um desses tipos de leis existentes na Torá serve para uma função diferente. Vejamos:



As leis civis compreendem aquelas que visavam única-mente o bem e a ordem de Israel como nação. Ou seja, como sendo um Estado independente, com política, economia e idio-ma próprios, não lhe poderia faltar um conjunto de leis civis, que equivaleria hoje aos códigos civil, penal e a constituição de um país. Um exemplo desse tipo de lei pode ser visto em Êxodo 21:22-25, onde lemos:
Se homens brigarem e ferirem mulher grávida e forem causa de aborto, porém sem maior dano, aquele que feriu será obrigado a indenizar segundo o que lhe exigir o marido da mulher; e pagará como os juízes lhe determinarem. Mas, se houver dano grave, então, dará vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferimento por ferimento, golpe por golpe.
Como se pode perceber acima, a lei era de cunho estrita-mente civil. Fala-se em agressão a uma mulher, em juízes para julgar a causa, em indenização e em punição conforme o dano que fora feito. Aliás, é bom ressaltar como que a expressão “olho por olho, dente por dente” dentro de seu contexto, deixa claro que não era um incentivo a vingança e muito menos uma permissão para que cada um pudesse fazer justiça com as pró-prias mãos. Não, a expressão era para demonstrar o modo como o juiz deveria agir ao punir o criminoso, a depender do dano que ele havia feito.



As leis cerimoniais englobam todo o sistema de rituais do judaísmo, como: sacrifícios de animais para oferta e remissão de pecados, circuncisão de meninos, festas e feriados religiosos, meses e anos sagrados, o sacerdócio, os utensílios especiais do templo e todo o tipo de cerimônia, que, como já vimos, apontava para o sacrifício de Jesus Cristo. Um exemplo desse tipo de lei pode ser encontrado em Levítico 22:17-20:
Disse mais o Senhor a Moisés: Fala a Arão e a seus filhos e a todos os filhos de Israel, e dize-lhes: Qualquer que, da casa de Israel ou dos estrangeiros em Israel, apresentar a sua oferta, quer em cumprimento de seus votos ou como ofertas voluntárias, que apresentar ao Senhor em holocausto, para que seja aceitável, oferecerá macho sem defeito, ou do gado, ou do rebanho de ovelhas, ou de cabras. Porém todo o que tiver defeito, esse não oferecerais; porque não seria aceito a vosso favor.
Note que o texto está falando sobre conteúdo de cunho cerimonial-religioso. Estas cerimônias eram um símbolo do sacrifício supremo que Cristo faria na cruz. Por isso as ofertas de animais deveriam ser sempre assim: um macho e sem defeitos; tal como Jesus Cristo.



As leis de saúde era uma lista de prevenções e boas práticas no âmbito da higiene e da saúde em geral. No contexto em que viviam os hebreus, onde os cuidados com a higiene e a saúde no mundo eram tão precários, essas leis desempenhavam um papel fundamental para a preservação da vida. Entretanto, tais leis continuam tendo a mesma utilidade hoje. Cuidados com a higiene e a saúde são importantes em todas as épocas. Um ótimo exemplo desse tipo de lei pode ser visto em todo o capítulo 11 de Levítico, que falam sobre animais que não devem ser usados para alimentação. Entre eles estão o porco, o camarão e o urubu, que todo mundo sabe que são animais bem sujos. Não comê-los, portanto, é uma boa prevenção contra doenças.



Por fim, temos as leis morais, que podemos considerar como o tipo mais importante de lei. Este tipo de lei se refere aos comportamentos morais que cada indivíduo deve ter para com o próximo e para com Deus. Os dez mandamentos são a base para este tipo de lei, já que todas as leis de âmbito moral (ou mesmo ético) se relacionam com algum mandamento do decálogo. Em outras palavras, os dez mandamentos são o resumo da conduta que Deus deseja que os homens tenham; a síntese de todos os mandamentos de âmbito moral.



Algo que é interessante ressaltar aqui a respeito dos dez mandamentos é que, diferentemente das demais leis da Bíblia, eles não foram escritos pela mão de Moisés. Todas as outras leis foram inspiradas por Deus e escritas pela mão de Moisés, mas os dez mandamentos foram escritos pela própria mão de Deus e dados a Moisés no monte Sinai, conforme nós podemos ler em Êxodo 31:18:
E, tendo acabado de falar com ele no monte Sinai, deu a Moisés as duas tábuas do testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus.
Mais tarde, tendo Moisés se enfurecido com o povo por conta de sua idolatria, ele quebra as tábuas da lei. E, então, mais outro acontecimento interessante ocorre:
Então disse o Senhor a Moisés: Lavra as duas tábuas de pedra, como as primeiras; e eu escreverei nelas as mesmas palavras que estavam nas primeiras tábuas, que quebraste (Êxodo 34:1).
O que esses dois textos nos confirmam com clareza é que Deus considera muito importante o decálogo. Tão importante que ele mesmo fez questão de escrevê-los. E não foi uma vez só, mas duas. A importância do decálogo fica ainda mais clara quando Jesus vem a Terra. No famoso capítulo do Sermão do Monte, Cristo mostra como que os dez mandamentos são apenas o resumo da lei moral. Podemos ler:
Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela (Mateus 5:27-28).
O leitor percebe como que Jesus, no Novo Testamento, eleva os dez mandamentos? Ele confirma que o adultério é um pecado, mas estende isso para além do contato físico. Em outras palavras, ele diz “não fique só na casca dos dez mandamentos, porque eles revelam condutas morais muito mais profundas do que parecem mostrar à primeira vista”.



Concluímos, com essa pequena explanação, que existem tipos de leis diferentes na Bíblia, cada qual para atender a uma função diferente. Saber disso é essencial para que prossigamos em nosso estudo, a saber, qual a relação entre as leis, a graça e a fé, bem como se as leis da Torá foram abolidas por Jesus ou se permanecem nos dias de hoje.


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